terça-feira, 4 de novembro de 2025

O AGENTE SECRETO

 

Antonio Carlos Egypto

 


O AGENTE SECRETO.  Brasil, 2025.  Direção: Kleber Mendonça Filho.  Elenco: Wagner Moura, Maria Fernanda Cândido, Tânia Maria, Gabriel Leone, Alice Carvalho, Hermila Guedes, Udo Kier.  140 min.

 

“O Agente Secreto” é um filme em que o cinema se expressa com toda a inteireza e complexidade que ele tem. Começando pela justaposição e fusão de seus gêneros. É um filme de suspense, aventura, de caráter policial, político, que tem comédia, ou seja, muito humor e personagem engraçada, mas envolve também tiroteios à bang bang, fantasia e terror.  Como é possível amalgamar tudo isso?

 

E tem mais: o filme aborda o próprio cinema, a sua história, por meio de produtos que se destacaram e a história das salas de espetáculos, no caso,  da cidade de Recife, onde se passa a ação.

 


Tudo isso está a serviço de retratar, compreender o Brasil em um momento decisivo de sua trajetória: o ano de 1977, em que vigorava a ditadura militar no país.  E esse clima é captado com perfeição de detalhes, ainda que a palavra ditadura sequer seja citada.

 

É um trabalho do diretor brasileiro Kleber Mendonça Filho, pernambucano, mas isso é apenas um detalhe, não uma perspectiva de regionalismo, que ele definitivamente não tem.  Seus filmes anteriores comprovam isso muito bem: “Bacurau” (2019), “Aquarius” (2016), “O Som ao Redor” (2012), “Retratos Fantasmas” (2023), falam a partir de Recife para o mundo.

 



O personagem Marcelo/Armando, vivido magistralmente por Wagner Moura no filme, é o centro dessa narrativa de muitas camadas, em que ele é monitorado, perseguido, marcado para morrer, envolvido pelo clima abrangente de opressão política que não deixa espaço para respirar, viver a tranquilidade dos momentos de felicidade. Convive com diferentes personagens com características que ajudam a definir a variedade de situações e climas que compõem a trama e as diversas etapas da história contada.

 


Um elenco incrível, diversificado e competente, compartilha com Wagner Moura esse grande filme do cinema brasileiro atual, já tão premiado e com muito mais ainda por acontecer.  Não dá para deixar de apontar, no entanto, a grande figura que é, em “O Agente Secreto”, a atriz Tânia Maria, natural do Rio Grande do Norte, que brilha com sua veia cômica aos 78 anos.

 

Outro grande trunfo do filme é a reconstrução de época, que é precisa e detalhada.   Assim, convivemos com os fuscas e os carros coloridos, os orelhões têm todo o destaque, as roupas com as calças bocas de sino.  E também, um detalhe bem importante, os codinomes, que têm papel decisivo no desenrolar da ação e é algo tão característico e necessário da resistência no período.

 

Em suma, o filme nos mergulha por inteiro naquele momento histórico. Quem não o viveu vai conhecê-lo, com certeza.  “O Agente Secreto” é também uma reflexão sobre o esquecimento, a necessidade de preservar e restaurar a memória de um povo.  E da arte como uma ferramenta fundamental dessa restauração indispensável.

 


Há muito mais a se dizer sobre “O Agente Secreto”, um filme poderoso, para se ver mais de uma vez.  Mas é importante mergulhar nessa aventura e descobrir as pepitas de ouro que ela tem a oferecer.  Além de sua dimensão global e abrangente.

 

Após os prêmios em Cannes, participações  e prêmios em outros festivais e exibições no exterior, o filme está em cartaz nos cinemas brasileiros, já tendo tido lançamentos em Recife, Salvador, nos Festivais de Brasília, do Rio e na Mostra 49, em São Paulo.






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