Antonio Carlos Egypto
O AGENTE SECRETO. Brasil, 2025.
Direção: Kleber Mendonça Filho.
Elenco: Wagner Moura, Maria Fernanda Cândido, Tânia Maria, Gabriel
Leone, Alice Carvalho, Hermila Guedes, Udo Kier. 140 min.
“O Agente Secreto” é
um filme em que o cinema se expressa com toda a inteireza e complexidade que
ele tem. Começando pela justaposição e fusão de seus gêneros. É um filme de
suspense, aventura, de caráter policial, político, que tem comédia, ou seja,
muito humor e personagem engraçada, mas envolve também tiroteios à bang bang,
fantasia e terror. Como é possível
amalgamar tudo isso?
E tem mais: o filme
aborda o próprio cinema, a sua história, por meio de produtos que se destacaram
e a história das salas de espetáculos, no caso, da cidade de Recife, onde se passa a ação.
Tudo isso está a
serviço de retratar, compreender o Brasil em um momento decisivo de sua
trajetória: o ano de 1977, em que vigorava a ditadura militar no país. E esse clima é captado com perfeição de
detalhes, ainda que a palavra ditadura sequer seja citada.
É um trabalho do
diretor brasileiro Kleber Mendonça Filho, pernambucano, mas isso é apenas um
detalhe, não uma perspectiva de regionalismo, que ele definitivamente não
tem. Seus filmes anteriores comprovam
isso muito bem: “Bacurau” (2019), “Aquarius” (2016), “O Som ao Redor” (2012),
“Retratos Fantasmas” (2023), falam a partir de Recife para o mundo.
O personagem Marcelo/Armando,
vivido magistralmente por Wagner Moura no filme, é o centro dessa narrativa de
muitas camadas, em que ele é monitorado, perseguido, marcado para morrer,
envolvido pelo clima abrangente de opressão política que não deixa espaço para
respirar, viver a tranquilidade dos momentos de felicidade. Convive com
diferentes personagens com características que ajudam a definir a variedade de
situações e climas que compõem a trama e as diversas etapas da história
contada.
Um elenco incrível,
diversificado e competente, compartilha com Wagner Moura esse grande filme do
cinema brasileiro atual, já tão premiado e com muito mais ainda por acontecer. Não dá para deixar de apontar, no entanto, a
grande figura que é, em “O Agente Secreto”, a atriz Tânia Maria, natural do Rio
Grande do Norte, que brilha com sua veia cômica aos 78 anos.
Outro grande trunfo do
filme é a reconstrução de época, que é precisa e detalhada. Assim, convivemos com os fuscas e os carros
coloridos, os orelhões têm todo o destaque, as roupas com as calças bocas de
sino. E também, um detalhe bem
importante, os codinomes, que têm papel decisivo no desenrolar da ação e é algo
tão característico e necessário da resistência no período.
Em suma, o filme nos
mergulha por inteiro naquele momento histórico. Quem não o viveu vai conhecê-lo, com certeza.
“O Agente Secreto” é também uma reflexão sobre o esquecimento, a
necessidade de preservar e restaurar a memória de um povo. E da arte como uma ferramenta fundamental
dessa restauração indispensável.
Há muito mais a se
dizer sobre “O Agente Secreto”, um filme poderoso, para se ver mais de uma
vez. Mas é importante mergulhar nessa
aventura e descobrir as pepitas de ouro que ela tem a oferecer. Além de sua dimensão global e abrangente.
Após os prêmios em
Cannes, participações e prêmios em outros
festivais e exibições no exterior, o filme está em cartaz nos cinemas
brasileiros, já tendo tido lançamentos em Recife, Salvador, nos Festivais de
Brasília, do Rio e na Mostra 49, em São Paulo.




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