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quinta-feira, 21 de agosto de 2025

O ÚLTIMO AZUL

Antonio Carlos Egypto

 


O ÚLTIMO AZUL.  Brasil, 2025.  Direção: Gabriel Mascaro.  Elenco: Denise Weinberg, Rodrigo Santoro, Miriam Socarrás, Adanilo.  86 min.

 

“O Último Azul” conquistou o Grande Prêmio do Júri do Festival de Berlim 2025, trouxe para o Brasil o cobiçado Urso de Prata da competição.  O filme é dirigido pelo cineasta pernambucano Gabriel Mascaro, que já nos deu “Ventos de Agosto”, 2014, “Boi Neon”, 2015, e “Divino Amor”, 2018.  Todos esses trabalhos tratam de temas sociais relevantes, envolvem provocações, implicam reflexão e nos remetem também ao elemento fantástico e ao imponderável.

 

Tudo isso está presente e com maior sofisticação do que nos filmes anteriores em “O Último Azul”.  Aqui, o tema é o etarismo, ou seja, o preconceito e a discriminação contra pessoas idosas. 

 

Numa suposta sociedade brasileira distópica, na região amazônica, o governo autoritário instalado “premia” as pessoas por idade, com medalhas e condecorações.  Estabelece que elas têm de parar de trabalhar ao alcançar 75 anos e se retirar para um local distante, supostamente protegido e bem cuidado. Decreta-se, no entanto, o fim da cidadania.  Além de ter de parar de trabalhar, todas as decisões sobre a própria vida o idoso ou idosa só poderá tomar com consentimento do filho ou filha estabelecido como responsável.  É a morte civil, enfeitada de proteção, com vistas a deixar todo o terreno produtivo ao alcance dos jovens.  Se for preciso, o veículo catavelho se encarregará de efetuar a mudança.

 

A personagem que nos levará a esse mundo (futuro?) é Tereza, brilhantemente interpretada por Denise Weinberg.  Ela aos 77 anos segue trabalhando, produtiva e dona do seu nariz, mas terá de enfrentar esse processo todo de apagamento.  Naturalmente, ela resistirá como puder, embarcando sem planejamento em uma aventura altamente transformadora e inusitada. 

 


Só queria viajar de avião, o que nunca havia feito, mas, em virtude da não-autorização da filha, acaba embarcando numa jornada de barco pela natureza, ciceroneada por Cadu (Rodrigo Santoro) e encontra o caracol de líquido azul capaz de produzir mudanças viscerais na vida e no comportamento das pessoas.  O imprevisível se estabelece e se desdobra na jornada ainda mais improvável pelo barco conduzido por Roberta (Miriam Socarrás), que aprendeu a viver nele uma nova vida de idosa, muito ativa.

 

Um local onde se pode ganhar ou perder muito dinheiro, um desafiador “cassino”, que promove luta entre belos peixinhos branco e vermelho que se precisaria intuir no que vai dar, oferece a oportunidade (mais uma) de explorar a beleza plástica dos rios, da natureza, da flora e da fauna. A fotografia é deslumbrante. O filme é uma experiência estética muito gratificante.  Quem cultiva a beleza não deixará de reconhecer isso.  E toda essa aventura estetizada, afinal, está a serviço da discussão sobre a velhice, o modo como se está no período idoso da vida, o que move as pessoas nesse momento, formas transformadoras de entender e interagir com o mundo.

 

Utilizando o elemento da fantasia, do imponderável, do inusitado, do surpreendente, “O Último Azul” faz sua provocação abrindo horizontes que o simples realismo teria muito mais dificuldade para oferecer.




terça-feira, 4 de março de 2025

O OSCAR DO BRASIL

 Antonio Carlos Egypto




                                   

“AINDA ESTOU AQUI”, o filme de Walter Salles, faz história, quando conquista o primeiro Oscar para o cinema brasileiro, o de melhor filme internacional.  E o primeiro Oscar a gente nunca esquece, ou esquecerá.  Mais duas indicações ao Oscar: festejamos o de melhor atriz para Fernanda Torres e a inédita indicação entre os 10 melhores filmes do ano.  Antes disso, Fernanda Torres já tinha abocanhado o Globo de Ouro e o filme já teve cerca de 40 prêmios nos festivais mundo afora.  Lembrar que tudo começou no Festival de Veneza, uma consagração para o roteiro do filme e 10 minutos de aplausos efusivos (ou seriam 14 minutos, como diz a Fernandinha num comercial?).

 

Bem, o fato é que o filme encantou todo mundo, a começar pelo povo brasileiro, que se emocionou: riu, chorou, aplaudiu nas sessões de cinema, festejou nas ruas em pleno Carnaval e torceu pelo Oscar como se fosse uma final de Copa do Mundo disputada pelo Brasil.  O maior prêmio foi a afluência aos cinemas: mais de 5 milhões de pessoas viram o filme nas telonas, em todo o Brasil.  O sucesso de “Ainda Estou Aqui”, no entanto, é realmente amplo e internacional.  Já conquistou grandes plateias nas Américas e Europa, o reconhecimento da crítica e uma mensagem de liberdade e resiliência frente ao autoritarismo, representada pela figura de Eunice Paiva, símbolo da democracia, dos direitos humanos e da diversidade.

 

Um filme nunca é só um filme.  Ele reflete o seu tempo, reflete o momento, dialoga com a realidade, ainda que de modo fantástico.  Pode falar do passado, de um passado que não foi elaborado, superado.  De um passado que assombra e alimenta o presente.  De um passado que ameaça voltar, na forma de farsa ou não, mas ameaça.  De um passado tenebroso, que também se mostra no presente e precisa ser vencido.

 


“Ainda Estou Aqui” é uma pérola de concepção cinematográfica.  Exala verdade, sem se valer de artifícios, mostra o que foi, o que é, como lidar com a opressão, o desrespeito aos mais comezinhos valores civilizatórios.  Sequestro, prisão clandestina, tortura, morte, desaparecimento do corpo (ocultação de cadáver), ausência de informações, não-reconhecimento do assassinato por décadas, inviabilizando a existência civil do cidadão.  São tão graves esses crimes perpetrados pelo Estado durante a ditadura militar que um filme que trate disso pode se tornar algo intragável.  Absolutamente, não é o caso de “Ainda Estou Aqui”.  Pela via da pessoa de Eunice é a família que vive tudo isso no seu dia-a-dia, tentando sobreviver.  E com dignidade.

 

A tentativa de destruição de uma família e o modo como ela subsiste, ainda que perdendo seu vigor e alegria em algum nível, mas ainda assim sorrindo e acreditando que a vida vale a pena, é um trunfo narrativo do filme de Walter Salles, brilhantemente protagonizado por Fernanda Torres, Selton Mello e Fernanda Montenegro.  Um filme que, mesmo com essa temática triste, consegue ter luminosidade, amor, humor.  É mesmo um filme excepcional, que até já provocou mudanças na sociedade brasileira, na política e nas leis.  O país não será mais o mesmo depois desse filme emblemático e monumental em sua aparente simplicidade.  O cinema brasileiro deu um passo gigantesco para o seu reconhecimento internacional.  Que já está acontecendo, no Oscar ou fora dele.  Viva nosso cinema!   



     

sábado, 15 de fevereiro de 2025

PRÊMIO ABRACCINE - MELHORES FILMES 2024

 

Antonio Carlos Egypto

 

 

Associadas e associados da Abraccine, Associação Brasileira de Críticos de Cinema, elegeram seus filmes favoritos do ano nas categorias Melhor Longa Brasileiro, Melhor Curta ou Média Brasileiro e Melhor Longa Estrangeiro. Os vencedores foram definidos em votação realizada entre mais de 180 críticas e críticos de todas as regiões do país.

AINDA ESTOU AQUI, de Walter Salles, venceu na categoria Melhor Longa Brasileiro. Em um empate, os curtas EU FUI ASSISTENTE DO EDUARDO COUTINHO, de Allan Ribeiro, e QUANDO AQUI, de André Novais Oliveira, foram premiados na categoria Melhor Curta ou Média Brasileiro. E a produção francesa ANATOMIA DE UMA QUEDA, de Justine Triet, venceu como Melhor Longa Estrangeiro.

 

A Abraccine também divulgou a lista dos 10 mais votados de cada categoria: os TOP 10.

 

 


TOP 10 -- Longa-metragem brasileiro (em ordem alfabética):

 

“Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles
“Cidade; Campo”, de Juliana Rojas
“O Dia que te Conheci”, de André Novais Oliveira
“Estranho Caminho”, de Guto Parente
“A Filha do Palhaço”, de Pedro Diógenes
“Greice”, de Leonardo Mouramateus
“Malu”, de Pedro Freire
“Motel Destino”, de Karim Aïnouz
“Saudade Fez Morada Aqui Dentro”, de Haroldo Borges
“Sem Coração”, de Nara Normande e Tião

 

TOP 10 -- Curta ou média-metragem brasileiro (em ordem alfabética):

 

“Cavaram uma Cova no meu Coração”, de Ulisses Arthur
“Dona Beatriz Ňzîmba Vita”, de Catapreta
“Eu Fui Assistente do Eduardo Coutinho”, de Allan Ribeiro
“Fenda”, de Lis Paim
“Kabuki”, de Tiago Minamisawa
“A Menina e o Pote”, de Valentina Homem
“Quando Aqui”, de André Novais Oliveira
“Samuel Foi Trabalhar”, de Janderson Felipe e Lucas Litrento
“A Sua Imagem na Minha Caixa de Correio”, de Silvino Mendonça

 “Vollúpya”, de Éri Sarmet e Jocimar Dias Jr.

 



TOP 10 -- Longa-metragem estrangeiro (em ordem alfabética):

 

“Anatomia de uma Queda”, de Justine Triet
“Dias Perfeitos”, de Wim Wenders
“Jurado Nº 2”, de Clint Eastwood
“Pobres Criaturas”, de Yorgos Lanthimos
“O Quarto ao Lado”, de Pedro Almodóvar
“Rivais”, de Luca Guadagnino
“A Substância”, de Coralie Fargeat
“Tudo que Imaginamos como Luz”, de Payal Kapadia
“Vidas Passadas”, de Celine Song
“Zona de Interesse”, de Jonathan Glazer

 

 



 


segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

FERNANDA TORRES

 Antonio Carlos Egypto

 

 


AINDA ESTOU AQUI é o filme mais importante dentre os que foram exibidos por aqui em 2024.  Ele traz à luz o período histórico tenebroso que o Brasil viveu durante 21 anos, de 1964 a 1985.  Perseguições, censura, cassações, prisões arbitrárias, tortura, mortes e ocultação de cadáveres fazem parte da memória dessa época.  Que não pode ser esquecida nem minimizada.  Marcelo Rubens Paiva, ao ver que sua mãe, Eunice Paiva, perdia a memória, resolveu resgatar a memória do país em que ela viveu.  Seu livro virou um filme magnífico de Walter Salles, que, com seu reconhecido talento, produziu uma obra limpa, honesta, verdadeira, sem qualquer truque ou excesso.  Um trabalho de quem, ainda que criança, como o escritor Marcelo, conviveu de perto com a realidade daquela família.  Uma família que, pelo que viveu, mostra bem os métodos da ditadura militar.

 

A figura emblemática para nos contar essa história foi Eunice Paiva, mulher de Rubens Paiva, que enfrentou a saga familiar com altivez, incrível determinação e decisões arriscadas e polêmicas, mas encontrou seu caminho, em meio a um intenso sofrimento, que ela preservava para cuidar dos seus cinco filhos.  Lutava e não vergava.  Ao contrário, se dedicou a causas humanitárias, coletivas, que ela percebia fundamentais.

 

O livro e o filme dependem dela, dessa figura que ganhou uma relevância imensa na tela, pelo incrível desempenho de Fernanda Torres.  A atriz encontrou um caminho interpretativo que deu conta do sofrimento interno e da expressão e ações dessa mulher.  Fez o mais difícil: nos revelou o que não estava à vista.  O que Eunice sentiu e viveu, envolvida pelo tsunami que se abateu sobre sua vida e a de sua família.  Realmente aqui, como em muitas outras situações cinematográficas, menos é mais.  Contida, ela extravasou com sutileza a vida e a importância dessa mulher, homenageando-a sem glorificá-la.  Alcançou uma maturidade interpretativa admirável.  A sua vitória como atriz de cinema em drama, no Globo de Ouro, é um reconhecimento internacional importante para o nosso cinema.  O filme já alcançou no Brasil mais de três milhões de espectadores, nos cinemas, que perceberam sua importância para o nosso momento.  O que tende a se multiplicar após o prêmio conquistado.  Parabéns, Fernanda Torres!

 

 



quinta-feira, 31 de outubro de 2024

VENCEDORES DA MOSTRA 48

 


Mostra divulga lista dos filmes premiados nesta edição


Cerimônia de encerramento com a premiação ocorreu no Espaço Petrobras, na Cinemateca Brasileira


A 48ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo realizou na noite desta quarta-feira, 30 de outubro, a cerimônia de encerramento do evento no Espaço Petrobras, na Cinemateca Brasileira. 


Com apresentação de Renata de Almeida e Serginho Groisman, a solenidade realizou a entrega dos prêmios desta edição, entre eles o Prêmio Leon Cakoff para o cineasta Francis Ford Coppola, que estava presente no evento. A premiação foi seguida da exibição do filme mais recente do diretor americano, Metrópolis.


Veja abaixo a lista completa dos títulos premiados:


PRÊMIO DO JÚRI
Os filmes da seção Competição Novos Diretores mais votados pelo público foram submetidos ao Júri, formado nesta edição pela atriz brasileira Camila Pitanga, pelo ator e cineasta português Gonçalo Waddington, pela curadora e produtora Hebe Tabachnik, pelo produtor Kyle Stroud, pelo diretor e escritor iraniano Mohsen Makhmalbaf e pelo crítico de cinema francês Thierry Meranger.
Os jurados escolheram Familiar Touch, de Sarah Friedland, e Hanami, de Denise Fernandes, como os melhores filmes de ficção. Como melhor documentário, premiaram No Other Land, de Basel Adra, Rachel Szor, Hamdan Ballal e Yuval Abraham, e Sinfonia da Sobrevivência, de Michel Coeli. Também concederam o prêmio de melhor direção para Adam Elliot, do filme Memórias de um Caracol.



PRÊMIO DO PÚBLICO
O público da 48ª Mostra escolheu, entre os longas internacionais, O Caso dos Estrangeiros, de Brandt Andersen, como melhor filme de ficção, e Balomania, de Sissel Morell Dargis, como melhor documentário. Entre os brasileiros, Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, recebe o prêmio de melhor ficção, e 3 Obás de Xangô, de Sérgio Machado, o de melhor documentário.
A escolha do público é feita por votação. A cada sessão assistida, o espectador recebe uma cédula para votar com uma escala de 1 a 5, entregue sempre ao final do filme. O resultado proporcional dos filmes com maiores pontuações determina os vencedores.


PRÊMIO DA CRÍTICA
A imprensa especializada que cobre o evento e tradicionalmente confere o Prêmio da Crítica também participou da premiação elegendo Manas, de Marianna Brennand, como melhor filme brasileiro, e Levados Pelas Marés, de Jia Zhangke, como o melhor longa entre os estrangeiros.



PRÊMIO DA ABRACCINE
A Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema também realiza tradicionalmente uma premiação que escolhe o melhor filme brasileiro. Neste ano, o eleito foi Intervenção, de Gustavo Ribeiro



PRÊMIO NETFLIX
Pela segunda vez, a Netflix vai entregar um prêmio no festival, que será concedido a um filme brasileiro participante da Mostra deste ano que ainda não tenha contrato com um serviço de streaming.   
O longa premiado nesta 48ª edição foi Serra das Almas, de Lírio Ferreira.



PRÊMIO PARADISO
O prêmio do Projeto Paradiso Mostra dá apoio à distribuição nos cinemas a um dos filmes da seção Mostra Brasil que recebeu maior votação do público. O aporte serve para complementar a distribuição da obra nas salas de cinema brasileiras e ajudar a sua estreia nas telas nacionais. Neste ano, o Prêmio Paradiso foi concedido ao filme Malu, do diretor Pedro Freire.



PRÊMIO BRADA - Prêmio de Melhor Direção de Arte
O Coletivo de Diretoras de Arte do Brasil premia pela terceira vez na Mostra o trabalho de um diretor de arte que tenha se destacado no festival. Neste ano, Mathé recebe o prêmio pela Direção de Arte pelo seu trabalho no filme Hanami, de Denise Fernandes.



A programação da repescagem da Mostra, de 31 de outubro a 6 de novembro, inclui quase todos os vencedores, e ocorre no Cinesesc e no cine Satyros Bijou. Consulte em mostrasp.org


@mostrasp     #mostrasp







sexta-feira, 1 de março de 2024

PRÊMIO ABRACCINE 2023

Antonio Carlos Egypto

 




Prêmio Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema – para os melhores filmes de 2023 escolhidos pelo voto dos críticos associados.

 

Melhor Filme Internacional

 

Vencedor: ASSASSINOS DA LUA DAS FLORES, de Martin Scorsese

 

 


e divulgou a lista dos 10 mais votados (por ordem alfabética):

  

“Afire”, de Christian Petzold

“Assassinos da Lua das Flores”, de Martin Scorsese

“Close”, de Lukas Dhont

“Os Fabelmans”, de Steven Spielberg

“Folhas de Outono”, de Aki Kaurismäki

“John Wick: Baba Yaga”, de Chad Stahelski

“Monster”, de Hirokazu Kore-eda

“Saint Omer”, de Alice Diop

“Sem Ursos”, de Jafar Panahi

“Tár”, de Todd Fie


Melhor Longa Nacional

Vencedor: MATO SECO EM CHAMAS, de Adirley Queirós e Joana Pimenta




e divulgou a lista dos 10 mais votados (por ordem alfabética):

  

“Capitu e o Capítulo”, de Julio Bressane

“Incompatível com a Vida”, de Eliza Capai

“Luz nos Trópicos”, de Paula Gaitán

“Mato Seco em Chamas”, de Adirley Queirós e Joana Pimenta

“Medusa”, de Anita Rocha da Silveira

“Noites Alienígenas”, de Sérgio de Carvalho

“Pedágio”, de Carolina Markowicz

“Propriedade”, de Daniel Bandeira

“Retratos Fantasmas”, de Kleber Mendonça Filho

“Tia Virgínia”, de Fábio Meira


Melhor Curta ou Média Nacional

Vencedor: CAIXA PRETA, de Bernardo Oliveira e Saskia




e a lista dos 10 mais votados (por ordem alfabética):

 

“Os Animais Mais Fofos e Engraçados do Mundo”, de Renato Sircili

“Cabana”, de Adriana de Faria

“Caixa Preta”, de Bernardo Oliveira e Saskia

“Cama Vazia”, de Fábio Rogério e Jean-Claude Bernadet

“A Edição do Nordeste”, de Pedro Fiuza

“Ela Mora Logo Ali”, de Fabiano Barros e Rafael Rogante

“Mãri-Hi: A Árvore do Sonho”, de Morzaniel Iramari Yanomami

“Pulmão de Pedra”, de Torquato Joel

“Ramal”, de Higor Gomes

“Remendo”, de GG Fákòlàdé

 

 

quinta-feira, 2 de novembro de 2023

PREMIADOS DA # 47 MOSTRA

 A 47ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo realizou a cerimônia de encerramento na noite desta quarta-feira, 1º de novembro, no Espaço Petrobras da Cinemateca Brasileira. Com apresentação de Renata de Almeida e Serginho Groisman, a solenidade realizou a entrega dos prêmios desta edição do festival e contou com a presença de personalidades do meio cultural.

 


Veja abaixo a lista completa dos títulos premiados:

 
PRÊMIO DO JÚRI
Os filmes da seção Competição Novos Diretores mais votados pelo público foram submetidos ao Júri formado por Bárbara Raquel Paz, Enrica Fico Antonioni, Lenny Abrahamson, Mariëtte Rissenbeek e Welket Bungué, que escolheu Quando Derreter, de Veerle Baetens, como melhor filme de ficção e Samuel e a Luz, de Vinícius Girnys, como melhor documentário.
O Júri concedeu ainda menção honrosa para Se Eu Pudesse Apenas Hibernar, de Zoljargal Purevdash, e de melhor interpretação para Jaya (Asog). Todos receberam o Troféu Bandeira Paulista (uma criação da artista plástica Tomie Ohtake).

 

 

PRÊMIO DO PÚBLICO
O público da 47ª Mostra escolheu, entre os estrangeiros, La Chimera, de Alice Rohrwacher, como melhor filme de ficção, e Da Cor e da Tinta, de Weimin Zhang, como melhor documentário. Entre os brasileiros, Somos Guardiões, de Edivan Guajajara, Chelsea Greene e Rob Grobman, recebeu o prêmio de melhor documentário e A Metade de Nós, de Flávio Botelho, o de melhor ficção.
A escolha do público é feita por votação. A cada sessão assistida, o espectador recebe uma cédula para votar com uma escala de 1 a 5, entregue sempre ao final do filme. O resultado proporcional dos filmes com maiores pontuações determina os vencedores.

 

 

PRÊMIO DA CRÍTICA
A imprensa especializada que cobre o evento e tradicionalmente confere o Prêmio da Crítica, também participou da premiação elegendo O Dia que Te Conheci, de André Novais Oliveira, como melhor filme brasileiro e Afire, de Christian Petzold, como o melhor entre os estrangeiros.

 

 

PRÊMIO DA ABRACCINE
A Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema também realiza tradicionalmente uma premiação para filme brasileiro e nesta edição escolheu o melhor entre os realizados por diretoras estreantes. O eleito foi Sem Coração, de Nara Normande e Tião.

 

 

PRÊMIO NETFLIX
Pela primeira vez, a Netflix entregou um prêmio de aquisição em um festival e escolheu um filme brasileiro participante da Mostra deste ano, que ainda não tinha contrato com um serviço de streaming, que será licenciado e exibido em mais de 190 países.   
O projeto premiado neste ano foi Saudade Fez Morada Aqui Dentro, do diretor Haroldo Borges.

 

 

PRÊMIO PARADISO
O prêmio do Projeto Paradiso oferecido pela primeira vez na Mostra dá apoio à distribuição nos cinemas a um dos filmes da seção Mostra Brasil que recebeu maior votação do público.  O aporte serve para complementar a distribuição da obra nas salas de cinema brasileiras.
Para garantir que todo o Brasil tenha a oportunidade de enxergar de forma poética a força e a beleza dessa obra baiana premiada dentro e fora do país, a comissão concedeu o Prêmio Paradiso de estímulo à distribuição nacional ao filme Saudade Fez Morada Aqui Dentro, do diretor Haroldo Borges.

 

 

PRÊMIO BRADA - Prêmio de Melhor Direção de Arte
O Coletivo de Diretoras de Arte do Brasil premia pela segunda vez na Mostra o trabalho de um diretor de arte que tenha se destacado no festival. Neste ano, Pamela Khadra recebeu o prêmio pela Direção de Arte do filme Vale do Exílio, pela sensibilidade ao retratar o universo das refugiadas sírias em solo libanês.

 

 

PRÊMIO CULTURES OF RESISTANCE (Creative Activism Award)
Ativistas retratados no documentário Somos Guardiões, dos diretores Chelsea Greene, Rob Grobman e Edivan Guajajara, receberam um prêmio inédito no Brasil: o Cultures of Resistance. O prêmio, de US$ 10 mil, é concedido aos guardiões da floresta das aldeias Tembé e Guajajara e à mídia indígena, exclusivamente para a compra de câmeras, drones e tecnologia adicional, e se destina a equipar os indígenas para melhor documentar e proteger a floresta amazônica em seus territórios. 


REPESCAGEM
Vários desses títulos estão na repescagem da Mostra, que ocorre de hoje a 8 de novembro no Cinesesc e de hoje ao dia 5 também no cine Satyros Bijou. A programação pode ser acessada  no site mostra.org pesquisando pala palavra repescagem ou pelo jornal da Mostra.





sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

PRÊMIO ABRACCINE 2022

 


Prêmio Abraccine 2022, com votos da crítica brasileira, escolhe “Marte Um e “Aftersun” como melhores longas;

“Fantasma Neon”é o melhor curta

Num ano marcado pelo retorno definitivo às sessões presenciais e mais uma quantidade enorme de lançamentos em streaming, associados e associadas da Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) votaram, definiram e elegeram seus lançamentos favoritos para o Prêmio Abraccine 2022.

 

O resultado foi anunciado numa transmissão ao vivo, na noite de quarta-feira, 8 de fevereiro, no canal da entidade no YouTube. Com mediação do presidente da Abraccine, Marcelo Miranda, participaram Cecília Barroso e Francisco Carbone, integrantes das comissões que trabalharam na metodologia e organização da votação esse ano.

 

Confira o vídeo na íntegra clicando aqui.

Os resultados chamam atenção para a cartela variada de escolhas dos associados. Na categoria de longa estrangeiro, por exemplo, apenas dois, entre dez títulos mais votados, são produções dos EUA, líder inconteste em número de filmes em cartaz ao longo do ano. Os outros oito filmes são cada um de um país diferente.

 

Pelo terceiro ano consecutivo, o longa-metragem estrangeiro mais votado por integrantes da Abraccine tem direção de uma mulher: venceu o britânico “Aftersun”, da estreante no formato Charlotte Wells. Nos brasileiros, o mineiro “Marte Um”, de Gabriel Martins, confirmou o natural favoritismo depois de um ano bastante influente na crítica e no público, incluindo a pré-indicação ao Oscar e as várias semanas em cartaz nos cinemas.

 

No curta-metragem, o carioca “Fantasma Neon”, de Leonardo Martinelli, também repetiu a boa acolhida em festivais ao longo de 2022 e foi o mais votado no formato, sempre muito disputado.

Além dos três premiados, a Abraccine divulga ainda seu TOP 10 de melhores filmes em cada uma das três categorias, a partir da mesma votação e em ordem alfabética de título.

LONGA-METRAGEM BRASILEIRO

Vencedor: “Marte Um” (Minas Gerais), de Gabriel Martins

Top 10 em ordem alfabética

“5 Casas”, de Bruno Gularte Barreto

“A Felicidade das Coisas”, de Thais Fujinaga

“A Mãe”, de Cristiano Burlan

“Carro Rei”, de Renata Pinheiro

“Carvão”, de Carolina Markowicz

“Eduardo e Mônica”, de René Sampaio

“Marte Um”, de Gabriel Martins

“Os Primeiros Soldados”, de Rodrigo de Oliveira

“Paloma”, de Marcelo Gomes

“Seguindo Todos os Protocolos”, de Fábio Leal

 

LONGA-METRAGEM ESTRANGEIRO

Vencedor: “Aftersun” (Reino Unido/EUA), de Charlotte Wells

Top 10 em ordem alfabética

“A Pior Pessoa do Mundo”, de Joachim Trier (Noruega)

“Aftersun”, de Charlotte Wells (Reino Unido)

“Dias”, de Tsai Ming-Liang (Taiwan)

“Drive my Car”, de Ryusuke Hamaguchi (Japão)

“Licorice Pizza”, de Paul Thomas Anderson (EUA)

“Memoria”, de Apichatpong Weerasethakul (Colômbia/Tailândia)

“Não! Não Olhe!”, de Jordan Peele (EUA)

“O Acontecimento”, de Audrey Diwan (França)

“RRR”, de SS Rajamouli (Índia)

“Vitalina Varela”, de Pedro Costa (Portugal)

 

CURTA-METRAGEM BRASILEIRO

Vencedor: “Fantasma Neon” (Rio de Janeiro), de Leonardo Martinelli

Top 10 em ordem alfabética

“Ainda Restarão Robôs nas Ruas do Interior Profundo”, de Guilherme Xavier Ribeiro

“Big Bang”, de Carlos Segundo

“Curupira e a Máquina do Destino”, de Janaína Wagner

“Escasso”, de Clara Anastácia e Gabriela Gaia Meirelles

“Fantasma Neon”, de Leonardo Martinelli

“Garotos Ingleses”, de Marcus Curvelo

“Infantaria”, de Laís Santos Araujo

“Mutirão: O Filme”, de Lincoln Péricles

“Solmatalua”, de Rodrigo Ribeiro-Andrade

“Tekoha”, de Carlos Adriano

 

Abraccine - Associação Brasileira de Críticos de Cinema
abraccine.org

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Como membro da Abraccine participei desta escolha e gostei do resultado alcançado, que reflete bem o que de melhor se viu, em 2022,  em matéria de cinema. Minhas escolhas diferiram pouco dos TOP 10, embora eu tenha votado em outros títulos para os vencedores.

Confira a seguir meu comentário sobre o longa AFTERSUN e a crítica de MARTE UM publicados no CINEMA COM RECHEIO.

 

Antonio Carlos Egypto

AFTERSUN, do Reino Unido, primeiro longa da cineasta escocesa Charlotte Wells,  foi destaque e venceu o prêmio do Júri de novos diretores, da  46.a Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. Apresenta uma narrativa inteiramente centrada na relação de um pai de 30 anos com a filha de 11, que acontece num pacote de férias na Turquia. Por meio de pequenos momentos, rotinas de lazer, contatos que surgem, detalhes de todo tipo, com inteligência e perspicácia, vamos percebendo o que está em jogo nessa relação não habitual, já que eles não vivem juntos. Há muito afeto e frustração no ar. E muita fluidez numa trama ao mesmo tempo simples e complexa.

Elenco: Paul Mescal, Frankie Corio, Celia Rowlson Hall. 98 min.

  

 



 

MARTE UM.  Brasil, 2021.  Direção e roteiro: Gabriel Martins.  Elenco: Carlos Francisco, Rejane Faria, Camila Damião, Cícero Lucas.  114 min.

 

Uma família negra periférica, de classe média baixa, vivendo em Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte, é a protagonista do filme “Marte Um”, de Gabriel Martins.

 

A família é formada por Wellington (Carlos Francisco), o pai, porteiro de prédio que adora futebol, seu time o Cruzeiro, e que há quatro anos se afastou do alcoolismo.  Tércia, a mãe (Rejane Faria), que, após um incidente, crê estar presa a uma maldição e experimenta uma depressão por conta disso.  Eunice (Camila Damião), uma jovem que encontra o amor e o sexo na relação com outra mulher e deseja se mudar, sair de casa, embora se dê bem com o pai, a mãe e o irmão menor.  Mas o centro das ações e da narrativa é o menino Deivinho (Cícero Lucas), estimulado pelo pai para abraçar o futebol profissional, mas que na verdade deseja ser astrofísico, para participar da missão Marte Um que, em 2030, deve iniciar a colonização do planeta Marte.

 

Esses personagens, com seus conflitos e problemas, formam uma família unida, com relações afetivas sólidas.  O que permite que as questões que eventualmente incomodem não se tornem motivos de rejeição para ninguém, nem de desagregação familiar.  Faz parte disso a ideia de que o que move cada um é diferente.  O que entusiasma um não vai entusiasmar o outro.  Pelo menos, não da mesma forma.  Que os sofrimentos de um tenham que ser respeitados pelos outros, ainda que seja difícil entender.  Bem, e os sonhos estão acima de tudo, por mais estranhos ou impossíveis que nos  pareçam.

  

As ideias de aceitação e de pertencimento é que funcionam como amálgama entre as pessoas dessa família e aqueles que se aproximam dela.  A força do afeto que os une é o que conta e o que vale mais.

 

Toda a trama de “Marte Um” reflete esse clima afetivo, positivo, otimista, apesar dos dramas que, inevitavelmente, se colocam: o medo de se expor, de deixar claro suas opções e preferências, o desencanto com a vida, uma injustiça, um desemprego, o dinheiro que falta no fim do mês.  Um golpe de sorte também pode nos livrar de uma tragédia muito maior do que a que estávamos supostamente vivendo.  Tudo isso pode ser equacionado e resolvido, pelo menos em parte, em função desse afeto.  É uma crença no ser humano, no fim das contas, o que está na base desse otimismo, que não é ingênuo.

 

Um elenco muito bom sustenta a história com muita veracidade.  Algumas sequências embelezam o filme, ainda que existam também algumas cenas descartáveis, que não acrescentam à trama central.  O resultado é um filme que se comunica bem com o público, como atesta a escolha do júri popular do Festival de Gramado 2022 recém encerrado.  Em Gramado também o filme foi agraciado com um prêmio especial do júri, além do de roteiro, para Gabriel Martins, e da trilha musical.  Antes de Gramado, o filme já passou por outros festivais pelo mundo, a partir de sua estreia mundial no Festival de Sundance.