quinta-feira, 26 de abril de 2012

SONHOS EM MOVIMENTO


Antonio Carlos Egypto
 


SONHOS EM MOVIMENTO (Tanzträue).  Alemanha, 2010.  Direção: Anne Linsel e Rainer Hoffman.  Roteiro: Anne Linsel.  Documentário.  89 min.


Continua em cartaz nos cinemas de São Paulo o documentário “Pina” (em 3D ou 2D), excelente filme de Wim Wenders, resgatando o trabalho dessa brilhante coreógrafa da dança contemporânea.  (Veja crítica postada aqui, em março de 2012).

Outro documentário é agora lançado e tem por base o trabalho de Pina Bausch, desta vez registrando a sua última atividade, realizada em 2008, poucos meses antes de sua morte.  É uma refacção de uma famosa peça montada por ela, pela primeira vez, em 1978: Kontakhof.  O filme, denominado “Sonhos em Movimento”, nasceu do interesse da diretora Anne Linsel de registrar essa nova montagem daquela que seria uma de suas peças preferidas.  Com interesse redobrado, já que agora Pina decidira trabalhar somente com adolescentes, da faixa de 14 a 18 anos de idade, de sua cidade Wuppertal, na Alemanha, que nunca haviam dançado antes, nem sequer haviam subido num palco até então.  Um grande desafio.

O que se vê em “Sonhos em Movimento” é a atuação de Pina e de suas colaboradoras, que tiveram o trabalho do ensaio exaustivo dos jovens, na construção da montagem, pouco a pouco.  Desde a seleção dos candidatos adolescentes, o interesse e a dificuldade deles em realizar os movimentos precisos exigidos, ao mesmo tempo em que vão se integrando como grupo e descobrindo um mundo de possibilidades artísticas. Eles vão percebendo a importância da entrega e da disciplina para desenvolver o trabalho, a necessidade de superar barreiras e inibições, a importância do compromisso na arte. 


Adolescentes geralmente evitam tal tipo de compromisso e uma disciplina como a dança de Pina Bausch exige.  Muitos deles nem sequer tinham ideia de que estavam trabalhando com um dos ícones da dança no mundo.  O fato é que, apoiados, estimulados, cobrados e valorizados, eles correspondem, crescem como pessoas e como artistas e obtêm um bom resultado, aprovado por ela.

Perceber o processo de trabalho do grupo de Pina, a tranquilidade com que conduz a atividade, a segurança e paz que demonstra no comando da montagem e o empenho de suas colaboradoras, é um trunfo do documentário.  E o maior é se tratar do último registro de Pina, antes de sua morte.  Kontakhof com um grupo de adolescentes é uma boa maneira de mostrar o processo criativo, porque parte de um material bruto, em que abunda a vitalidade, mas falta o conhecimento técnico.

Como isso vai se resolvendo é algo muito interessante e, ao mesmo tempo, emocionante de se ver.  O filme termina de forma comovente.  Um documentário como esse, capaz de envolver e emocionar com simplicidade é algo que merece a nossa atenção.  Não deveria passar em branco.  E aparece num momento oportuno, complementando “Pina”, de Wim Wenders, com delicadeza e admiração pelo trabalho de Pina Bausch.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Diário de um Jornalista Bêbado


Tatiana Babadobulos

Diário de um Jornalista Bêbado (The Rum Diary). Estados Unidos, 2011. Direção e roteiro: Bruce Robinson. Com: Johnny Depp, Giovanni Ribisi e Aaron Eckhart. 120 minutos

Depois de viver o protagonista na franquia “Piratas do Caribe” em quatro filmes, Johnny Depp retorna ao Caribe. Desta vez, porém, é para ser um jornalista freelancer, Paul Kemp, na década de 1950, no longa-metragem "Diário de um Jornalista Bêbado" ("The Rum Diary").

A questão é que ele cai de paraquedas na redação de um jornal decadente de Porto Rico, mas logo se adapta ao estilo boêmio. É aí que entra na história a bebida tradicional daquela região (rum) e o adjetivo (bêbado) que a tradução nacional arrumou para o filme.

A fita é baseada em Hunter S. Thompson, jornalista e escritor norte-americano que ficou famoso por ter um estilo de escrita extravagante e por fazer o chamado “jornalismo gonzo”, que narra experiências em primeira pessoa e de modo parcial, além de fugir às regras básicas do jornalismo, pois usa a opinião e se esquece do distanciamento.



Na vida, Thompson gastava dinheiro com drogas e álcool, contraía dívidas no hotel, não cobria o acontecimento e, no lugar da matéria, descrevia o ambiente sob seu ponto de vista.

A questão é que o longa, apesar da atuação brilhante de Depp e de sutis toques de humor, não prende o espectador, pois a história é contada de forma superficial. Lá pelas tantas, ainda é possível se perguntar: “Sobre o que se trata este filme? O que querem as personagens?”. O foco é no jornalista, mas não mostra a sua rotina, a não ser vez ou outra em que está escrevendo o horóscopo para o periódico. Faltam conflitos, falta o estresse do fechamento da edição com o editor Lotterman (Richard Jenkins), que saca logo de cara que Kemp é mais um a cair no gosto pelo rum.

Escrito e dirigido por Bruce Robinson (roteirista de “Os Gritos do Silêncio” e diretor de “Os Desajustados”) com base no romance original de Thompson, o longa-metragem se perde e larga a história do jornalismo para focar no romance que pode acontecer entre o jornalista e a linda namorada (Amber Heard) de Sanderson (Aaron Eckhart, de “Batman – O Cavaleiro das Trevas”), um dos empresários envolvidos em negócios obscuros de desenvolvimento de propriedades na ilha.



A questão é que Kemp é recrutado por Sanderson para escrever sobre seu negócio. Aqui, no caso, mais um texto parcial, já que deve, por acordo, usar suas palavras para o benefício dos empresários corruptos. Além da boa atuação de Depp, vale a pena a interpretação de Giovanni Ribisi (“Avatar”), que no filme é o jornalista Moberg.

"Diário de um Jornalista Bêbado" conta uma história que não atrai o espectador e se perde na própria narrativa, deixa lacunas, produz cenas desnecessárias e destoa do conteúdo do livro no qual o filme foi baseado.

Em debate após a exibição do filme no Cine Livraria Cultura, o jornalista Xico Sá disse que “não queria que Johnny Depp fizesse este papel”. Eu concordo.

domingo, 22 de abril de 2012

EU RECEBERIA AS PIORES NOTÍCIAS DOS SEUS LINDOS LÁBIOS

 Antonio Carlos Egypto




EU RECEBERIA AS PIORES NOTÍCIAS DOS SEUS LINDOS LÁBIOS.  Brasil, 2011.  Direção: Beto Brant e Renato Ciasca.  Com Camila Pitanga, Gustavo Machado, Zé Carlos Machado, Gero Camilo.  100 min.


Lavínia (Camila Pitanga) é uma ex-prostituta de estonteante beleza e de forte apelo erótico, que convive com dois homens numa comunidade da região amazônica.  Um é o pastor Ernani (Zé Carlos Machado), que professa sua fé em sintonia com as questões sociais e ecológicas da região, goza de grande respeito na localidade e tem grande ascendência sobre ela. O outro é o fotógrafo Cauby (Gustavo Machado), que está de passagem pelo interior da Amazônia, e parece desconsiderar a força do controle social que os agrupamentos sociais têm, especialmente em pequenas cidades e vilas.  Cauby é amigo de um jornalista refinado, Victor (Gero Camilo), que costuma fazer citações literárias, mas que vive mesmo é do jornalismo de fofocas.


Esses são os personagens de uma trama muito bem urdida, que envolverá aspectos policiais e de suspense e que colocará em questão os julgamentos precipitados e os preconceitos capazes de construir “verdades” inteiramente equivocadas.  O enredo surpreende e o final, muito bem construído, coroa uma obra dramática de ficção, forte e relevante, que se destaca no quadro atual do cinema nacional.

O filme é baseado no livro homônimo de Marçal Aquino, que, junto com os diretores Beto Brant e Renato Ciasca, é responsável pelo roteiro que deu origem a essa narrativa, quente, envolvente, que trata de questões relevantes.  As relações humanas, o desejo e o amor, o meio ambiente e a vida em comunidade, são os elementos que detonam uma trama explosiva, que dá o que pensar.


A questão do desmatamento da Amazônia também é posta em relevo, e serve de moldura e referência para o que acontece com os personagens e para o desfecho que se produz.  Filmagens do alto, percorrendo áreas onde há desmatamento, fazem parte da paisagem desoladora que também acompanha os personagens a certa altura da história.

O filme oferece a Camila Pitanga um personagem de grande densidade dramática e que exige uma interpretação apurada, além de uma entrega corporal total, com muitas cenas de nudez e sexo.  Ela se sai magnificamente bem.  Sua atuação vale o filme e a coloca em destaque entre as grandes atrizes brasileiras da atualidade.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

FLOR DA NEVE E O LEQUE SECRETO

Antonio Carlos Egypto



FLOR DA NEVE E O LEQUE SECRETO (Snow Flower and The Secret Fan).  China, 2011.  Direção: Wayne Wang.  Com Bingbing Li, Gianna Jun, Coco Chiang, Vivian Mu, Hu Qing Yun, Shi Ping Cao.  120 min.


Laotong, na tradição chinesa, é uma amiga para o resto da vida, uma irmã.  Nascidas no mesmo dia e ano, ainda que em cidades distintas e provindas de classes sociais diferentes, elas podem firmar um contrato de apoio mútuo afetivo que nunca poderá ser rompido.  Estarão umbilicalmente ligadas, enquanto viverem.  A conjunção astrológica seria uma espécie de garantia de tal contrato.

As laotong adotam uma língua secreta e mensagens nessa língua podem ser guardadas nas dobras de leques.  Daí a referência ao leque secreto, aquele que contém mensagens codificadas entre as irmãs laotong.

O pé perfeito é outra tradição.  À custa de amarrar, doer e sangrar, desde muito cedo se molda um pé pequeno, supostamente perfeito.  Obviamente, nem sempre alcançável ou, pelo menos, não alcançável no grau de perfeição desejado.  A mulher que tiver o tal pé perfeito terá garantia de um bom casamento.  E seus sapatinhos serão alvo de admiração.  Isso remete claramente a uma situação em que a mulher é subalterna, sem voz ativa ou capacidade de sustentar a si própria, sem qualquer possibilidade de independência.


Todas essas tradições terão peso importante na história das laotongs do século XIX, conhecidas como flor da neve e lírio.  Em paralelo a isso, conheceremos uma história similar, dos tempos atuais: a de Nina e Sophia, uma espécie de laotongs do século XXI.

Haverá lugar para tradições como essas na China de hoje?  Especialmente em Hong Kong, onde a contemporaneidade se faz de negócios, bolsas de valores, mercados, vida agitada, tecnologia avançada e, consequentemente, estrutura familiar e vínculos pessoais bem distintos do passado?  Haverá espaço para a fidelidade eterna das laotongs nos tempos atuais?

Por aí é que vai o filme, narrando as histórias tanto de flor da neve e lírio, quando de Nina e Sophia, num vai e vem sem fim, ora, lá, ora, cá, diálogos em mandarim e inglês, a ponto de confundir o espectador que não esteja bem atento à projeção.

Essa quase obrigação, que parece existir atualmente, de sempre montar os filmes numa narrativa não linear e manter a dúvida sobre os acontecimentos descritos e os próprios personagens até o fim, além de cansar e já ter se tornado uma rotina repetitiva, não é a mais adequada a muitas histórias que são contadas pelo cinema.  “Flor da Neve e o Leque Secreto” poderia ter dispensado esse jogo, ou fazê-lo comedidamente.  Só ajudaria a acompanhar melhor a trama e a pensar sobre o assunto proposto.


Em todo caso, a ideia do filme é boa e a reflexão, muito apropriada de se fazer.  Até onde tradições milenares podem resistir ao avassalador processo de mundialização que uniformiza tudo, passando por cima da própria História?  Por outro lado, certas tradições não terão mesmo de acabar, porque se baseiam no domínio de uns sobre outros, apelando para a crueldade e a desumanidade?

Não é fácil encontrar tais respostas, nem se posicionar em um grande número de casos e situações.  “Flor da Neve e o Leque Secreto” tem o mérito de colocar em evidência o problema, sem deixar de apontar os conflitos que cada época e situação podem trazer.  O mal-estar está tanto lá quanto cá.  E há muita coisa boa e genuína, tanto numa época, quanto na outra.  A amizade é o fio condutor de tudo, nos dois casos que se entrelaçam.




quarta-feira, 18 de abril de 2012

AMERICANO


Antonio Carlos Egypto


AMERICANO (Americano).  França, 2011.  Roteiro e Direção: Mathieu Demy.  Com Mathieu Demy, Salma Hayek, Chiara Mastroianni, Geraldine Chaplin, Carlos Bardem.  90 min.



Este é um filme que respira cinema por todos os poros e remete às gerações que se sucedem se dedicando à sétima arte.  Senão, vejamos.

Mathieu Demy, produtor, diretor, roteirista e ator principal da película, é filho de dois grandes cineastas da história do cinema francês e mundial: Jacques Demy e Agnès Varda.  No elenco, está Chiara Mastroianni, filha de atores emblemáticos e notáveis da história do cinema: Marcello Mastroianni e Catherine Deneuve.  Está também no filme Geraldine Chaplin, filha de ninguém menos do que Charles Chaplin, e tem ainda Carlos Bardem, irmão do já famoso ator espanhol Javier Bardem.

Há um filme dentro do filme.  Cenas de “Documenteur” de Agnès Varda, de 1981, são incorporadas e integradas à narrativa, o que possibilita a Mathieu Demy representar a si mesmo, quando criança, aos 8 anos de idade.  Martin é o nome do personagem desse filme antigo, assim como o de agora, vivido por Mathieu Demy.  Na condição de diretor, ele filmou com recursos semelhantes aos que sua mãe usou como cineasta, naquela oportunidade, o que fez com esta integração de duas situações – infância e vida adulta – ficasse perfeita.  Se você não souber, ou não se inteirar, ao ler os créditos finais, pensará que as cenas da infância foram filmadas agora, com um menino-ator.





Tudo isso já faz de “Americano” um produto atraente.  E não é só.  A trajetória do personagem Martin, que retorna à sua cidade de origem, nos Estados Unidos, na Califórnia, quando da morte de sua mãe, é uma viagem de elaboração da rejeição de um filho por sua mãe, o que marca para toda a vida.  Martin passou a viver com seu pai na França, em Paris, e essa viagem repentina o tira de seu eixo e o obriga a encarar um passado doloroso e redescobrir a história e as relações de sua mãe, ou o que é possível recuperar de tudo isso. 

O propósito seria o de resolver questões práticas, como um apartamento e pinturas que lhe cabem como herança, mas, na verdade, isso é o que menos importa.  Ou melhor, também é difícil lidar com isso após vários anos de ausência e um afastamento que tem na base a rejeição como sentimento.

Ele conhecerá, ou reconhecerá, amigas de sua mãe, como Linda (Geraldine Chaplin), Lola/Rosita (Salma Hayek), enquanto Claire (Chiara Mastroianni), com quem ele vive e de quem está em vias de se separar, aguarda sua volta a Paris.Uma viagem como essa é cheia de surpresas, revelações, transformações, que a narrativa explora bem.

Americano é o nome de um bar-clube de strippers e prostituição que acaba surgindo na vida de Martin, quando ele procura um personagem feminino, cruzando a fronteira e chegando a Tijuana, no México.  O tal Americano será um momento crucial dessa viagem, em que ele descobrirá coisas importantes, em si mesmo, na sua história, nas suas relações e em seus valores.  De onde nada se  espera ,muito pode vir, quando se está em busca de algo.

Mathieu é um ator já experimentado, mas tem em “Americano” seu primeiro longa-metragem como diretor, e entrou de corpo e alma no filme: escreveu, produziu, interpretou.  Um projeto que deve ter muito significado para sua vida, sempre irremediavelmente ligada ao cinema.  Seu filme não segue o estilo do pai e, embora utilize parte de uma fita de sua mãe, também se distingue bem da obra dela.  É um trabalho que incorpora influências, mas mostra personalidade própria.



domingo, 15 de abril de 2012

O PRÍNCIPE DO DESERTO


Antonio Carlos Egypto




O PRÍNCIPE DO DESERTO (Black Gold).  França, 2011.  Direção: Jean-Jacques Annaud.  Com Tahar Rahim, Antonio Banderas, Mark Strong, Freida Pinto, 130 min.


“O Príncipe do Deserto” é uma aventura épica passada no mundo árabe, nos moldes de uma fantasia a la Mil e Uma Noites. 

Nas primeiras décadas do século XX, tribos de diversas etnias se espalhavam pelo deserto e tentavam encontrar formas de convívio que não implicassem guerras constantes.  Quando podiam.  Para tanto, alguns acordos de ocasião, como o chefe de uma tribo educar filhos do chefe de outra tribo, serviam para selar ao menos uma paz provisória.

Uma faixa amarela no deserto é definida como neutra, não pertence a ninguém.  Também, nada há para cobiçar lá.  Até o dia em que exploradores ocidentais – técnicos norte-americanos – encontram petróleo justamente ali.  Aí tudo muda.


O filme, dirigido por Jean-Jacques Annaud, de trabalhos talentosos, como “O Nome da Rosa”, de 1988, e “A Guerra do Fogo”, de 1981, não chega a empolgar.  As filmagens na Tunísia e no Catar garantem esplêndidas e fotogênicas locações, que, associadas aos animais, aos figurinos e aos cuidados da direção de arte, asseguram um espetáculo visualmente atraente, o que produz um passatempo de boa qualidade.  Mas não vai além disso.

A discussão que o filme levanta contrapõe uma visão tradicionalista do Corão, e do mundo, aos desafios da modernidade, que a riqueza do petróleo traz, inevitavelmente.  Como é impossível deter a marcha do tempo, mas também é preciso preservar princípios e valores, é dessa polarização que o filme tratará, de um modo ou de outro.  Respeitando ambos os lados, diga-se de passagem.

Tratará, também,de garantir uma história de amor nos moldes de Romeu e Julieta, mas menos trágica.  Tratará de amor filial, do conflito entre pais e filhos, de perdas terríveis que a situação imporá aos envolvidos.  Não faltarão, é claro, as batalhas com muitos figurantes, levantando o pó do deserto, montados sobre camelos, desembainhando suas espadas, e tendo ao lado, ou ao fundo, belas construções típicas.  Nada muito diferente do que qualquer épico hollywoodiano de bom orçamento faria.  Só que se trata de produção europeia e de um diretor conceituado.  E que não chega a ser um “Lawrence da Arábia”.


Esse tipo de história e de espetáculo não favorece grandes interpretações.  Acaba-se caindo no heróico ou no esquemático.  Os atores não têm muito a elaborar para seus personagens.  De pouco adianta ter no elenco um talento como o de Antonio Banderas.  Quem se sai melhor, porque tem um personagem mais rico que passa por grandes mudanças de vida e de personalidade, é Tahar Rahim, vivendo Auda.  Mas sua transformação de recluso bibliotecário, amante dos livros, em grande guerreiro, não é crível.  Freida Pinto, no papel de Leyla, tem chance de viver mudanças e intensas emoções.  Os demais são personagens mais esquemáticos, ou passam rápido pelo filme.

O que acaba valendo é mesmo o aspecto espetaculoso da produção, a aventura.  As ideias até existem, mas não têm chance de se aprofundar, ficam em segundo plano.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Jovens Adultos


Tatiana Babadobulos

Jovens Adultos (Young Adults). Estados Unidos, 2011.  Direção: Jason Reitman. Roteiro: Diablo Cody. Com: Charlize Theron, Patrick Wilson e Patton Oswalt. 94 minutos.



Depois do sucesso de “Juno”, a roteirista Diablo Cody mergulha novamente no universo adolescente. Desta vez, porém, ela não vai falar sobre a garota de 16 anos que engravidou do namorado. Em “Jovens Adultos” (“Young Adults”), ela conta a história de adultos que cresceram, mas não amadureceram.

A atriz sul-africana Charlize Theron é Mavis Gary, uma ghost writer de literatura juvenil (à la saga dos vampiros…). Com o obje­tivo de escrever o livro, já que seu editor não para de lhe cobrar os primeiros capítulos, ela sai de casa vstindo uma camiseta da Hello Kitty, viaja de carro ouvindo fita K-7 até a cidade onde cresceu e se hospeda em um hotel juntamente com o seu cachorro fiel.

A escolha do local, porém, é para reconquistar seu namorado dos tempos de escola. O problema é que ele (Patrick Wilson) está casado e acaba de ser pai. Na primeira noite, a moça reencontra um ex-colega (Patton Oswalt), que também não superou totalmente o colegial, e os dois saem para beber, tal como faziam quando tinham 15 anos.

Dirigido por Jason Reitman (“Amor sem Escalas”), com quem Diablo Cody já trabalhou em “Juno”, o longa explora o comportamento adolescente desses adultos, extraindo o máximo de seus atores. Charlize Theron, por exemplo, mostra com bastante propriedade essa transição que, para a personagem, passou despercebida. Ao mesmo tempo em que passeia pela cidade, vai ao supermercado ouvir a conversa das pessoas e aproveitar as frases de efeito em mais um livro da série destinado aos “young adults”. Porém, faz besteira a perder de vista, quando, por exemplo, tenta reconquistar um ex-namorado que está casado e feliz. Usa o seu vestido mais decotado e sensual, conta para o amigo o que pretende e constrange o espectador quando diz até para a vendedora da loja que quer parecer bem para a esposa do seu alvo.



Mavis Gary acaba de sair de um casamento fracassado, tem depressão, vive de ressaca e tem inveja da felicidade dos outros. No entanto, convence o espectador de ser como é, já que o amigo lhe diz que ela é a garota que todo garoto como ele sonha em ter.

“Jovens Adultos” ilustra o comportamento infantil de quem ainda não sabe o que quer da vida com humor ácido e sarcasmo, em diálogos bem construídos e interessantes. E, ao mesmo tempo, mostra que a garota mais popular do colégio também tem problemas, apesar da fama. É só uma questão de tempo para que eles apareçam de fato.

Titanic 3D


Tatiana Babadobulos

Titanic. Estados Unidos, 1997. 3D, 2012. Direção e roteiro: James Cameron. Com: Leonardo DiCaprio, Kate Winslet, Billy Zane. 194 minutos.

Faz 15 anos que o mundo se rendeu ao charme de Kate Winslet durante o par romântico que formava com Leonardo DiCaprio, em um típico filme-catástrofe que unia história, emoção e tecnologia. Depois disso, eles partiram para o sucesso e nunca mais pararam.

Dirigido, escrito, produzido e editado por James Cameron, “Titanic” retorna às telas em formato 3D para “celebrar” o centenário da tragédia que deixou mais de 1.500 mortos em alto mar, em plena viagem inaugural do navio que foi feito para não afundar. Como o longa-metragem é baseado em fatos reais, não há importância ao se dizer que sim, o navio afunda. O enredo, porém, enfoca o caminho percorrido até que isso aconteça.

James Cameron também alcançou o sucesso com a sua obra. Até bem pouco tempo atrás, “Titanic” era o filme de maior bilheteria da história do cinema (arrecadou mais de US$ 1,8 bilhão ao redor do mundo e recebeu 11 indicações ao Oscar). Cameron só perdeu o primeiro lugar adivinha pra quem? Para ele mesmo, em 2009, quando filmou “Avatar” com uma câmera especial. Esse é o trunfo deste filme sobre os “homens azuis”.

Nesta sexta-feira, 13, estreia nos cinemas a versão em três dimensões de “Titanic”. Ou seja: é o mesmo filme, feito a partir da mesma matriz, mas com o incremento tridimensional.

Na trama, Leo DiCaprio (“A Origem”, “Ilha do Medo”) é Jack Dawson, um rapaz sem eira nem beira que ganha durante um jogo de cartas um par de bilhetes para embarcar na viagem inaugural do R.M.S. Titanic, talvez o mais famoso, luxuoso e inovador navio de toda a história, que sai da Inglaterra para a América. Lá, ele conhece Rose Dewitt Bukater (Kate Winslet, de “O Leitor”, “Contágio”), uma garota pertencente a uma família falida, mas que tem a “oportunidade” de reverter esta situação com o casamento, já que seu noivo foi quem patrocinou a viagem.



Como seria de se esperar, o rapaz pobre e a garota chique e supostamente rica se encontram, se encantam um com o outro e prometem felicidade eterna. A questão é que há uma tragédia anunciada no meio do caminho. Em meio à confusão, os dois vão precisar se unir para tentar se salvar.

O (re)lançamento de “Titanic” é uma oportunidade de os jovens que não assistiram ao filme na tela grande em 1997 se acomodarem na poltrona mais confortável e fixar os olhos durante três horas. Já o incremento da conversão em 3D não convence, não faz diferença ao espectador, ao contrário, por exemplo, dos longas de animação e do próprio “Avatar”, que já fora filmado com uma câmera inovadora.

Aqui, o 3D não é capaz de levar o espectador para dentro do navio, ou de ter a sensação quase real de estar se afogando juntamente com as personagens do filme. É verdade, porém, que trata-se de uma grande produção, com uma história emocionante que teve o auxílio da tecnologia e dos efeitos especiais para nascer. Mas poderia ser em 2D, sem o uso daqueles óculos desconfortáveis que os cinemas entregam na entrada da sessão. Para completar, momento de ouvir novamente a “canção-chiclete” interpretada por Celine Dion: “My Heart Will Go On”, composta por James Horner e Will Jennings, que ganhou o Oscar de Melhor Canção.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

XINGU

 Antonio Carlos Egypto



XINGU, Brasil, 2011.  Direção: Cao Hamburger.  Com João Miguel, Felipe Camargo, Caio Blat, Maiarim Kaiabi.  102 min.


Tudo começou em 1943, quando o governo Getúlio Vargas e o Marechal Rondon promoviam a Marcha Para o Oeste.  Os irmãos Cláudio e Leonardo Villas Bôas, em busca de aventura pelo Brasil Central desconhecido, se integraram à missão.  Orlando, o irmão mais velho, chegaria em seguida,para a expedição Roncador-Xingu.  Leonardo se desligaria algum tempo depois e seria o primeiro deles a falecer.

Os irmãos Villas Bôas teriam um grande papel na política indígena do país, o que tem como ponto máximo a criação do Parque Nacional do Xingu, marco na defesa dos direitos dos índios à sobrevivência de suas tribos e de suas respectivas culturas, em 1961, já no curto período de governo de Jânio Quadros.


A saga dos irmãos Villas Bôas é contada no filme “Xingu”, de Cao Hamburger, que também dirigiu “O Ano que Meus Pais Saíram de Férias”, belo filme de 2006.  Em “Xingu”, a história dos Villas Bôas é apresentada por meio de seus momentos mais expressivos, já que envolvem um longo período de tempo e um grande número de eventos, idas e vindas, avanços e recuos, que seria impraticável registrar passo-a-passo.  A solução é boa e, embora lacunas sejam evidentes, o processo é capturado.  A opção por uma narrativa mais linear também ajuda a compreensão dessa história não muito conhecida ou já esquecida por muitos.

O narrador da história, no filme, é o idealista Cláudio Villas Bôas, vivido por João Miguel, que obtém o desempenho mais brilhante e destacado dentre os intérpretes dos três irmãos.  Felipe Camargo vive o mais velho deles e aquele que melhor negocia nas tratativas políticas, que envolveram vários governos, incluindo Juscelino Kubistchek e o período do autoritarismo militar.  A atuação de Felipe Camargo é mais discreta, talvez um pouco aquém da dimensão que tem Orlando na trama, mas adequada.  E Caio Blat vive o corajoso e voluntarioso caçula, Leonardo, de forma convincente.  Destaque também para o elenco indígena e Maiarim Kaiabi, no papel de Prepori.

As cenas que mostram a primeira aproximação com índios, que estavam até então isolados do homem branco, e o encontro e a concretização do convívio pacífico com eles, são muito bonitas e envolventes.  Dizem muito.

O filme de Cao Hamburger explora as diferenças entre os irmãos, como um elemento que ajuda a explicar um processo que exigia ação solidária, equilíbrio, idealismo, convicções apaixonadas e até um tanto de insanidade.  O importante é que a resultante de tudo isso acabou sendo muito positiva.


O Parque Indígena do Xingu foi a primeira reserva brasileira.  Como mostra um dos diálogos do filme, abrange um território maior do que o da Bélgica.  Conquistá-lo para os índios, enquadrando muitos interesses econômicos, políticos e de ordem militar, não foi tarefa nada fácil e, evidentemente, envolveu muitas concessões.  O Parque completou em 2011 cinquenta anos de existência, o que é muita coisa.  Vale a pena celebrá-lo com um filme que, além de nos relembrar da importância do respeito às culturas indígenas, sempre e constantemente ameaçadas pelo caráter predatório do homem branco, também destaca a natureza.  Por meio de paisagens belíssimas, esplendidamente fotografadas, as locações de “Xingu” conquistam o espectador, suas imagens têm quase a mesma força que a trajetória marcante dos irmãos Villas Bôas.

“Xingu” foi exibido na sessão Panorama do Festival de Berlim 2012, recebendo um prêmio do público e elogios da imprensa internacional. Segundo a revista inglesa Screen International, “é um épico poderoso”.  É bom acrescentar que não se vale da exploração do heroísmo puro e simples, nem de uma postura maniqueísta.  É um filme que tem mais nuances do que certezas, embora seja tão inabalável quanto os Villas Bôas na defesa das culturas indígenas.

terça-feira, 3 de abril de 2012

AS NEVES DO KILIMANJARO

 Antonio Carlos Egypto


AS NEVES DO KILIMANJARO (Les Neiges du Kilimandjaro).  França, 2011.  Direção: Robert Guédiguian.  Com Jean-Pierre Darroussin, Ariane Ascaride, Gérard Meylan, Marylene Canto, Gregoire Leprince-Ringuet.  107 min.



O filme francês “As Neves do Kilimanjaro”, que está estreando nos cinemas, foi produzido em 2011 e não se trata de uma refilmagem.  O título é o mesmo do filme dirigido por Henry King, em 1952, com Gregory Peck, Susan Hayward e Ava Gardner, baseado no livro de Ernst Hemingway, mas não tem nada a ver com ele.  Pode causar alguma confusão no público.  Uns podem achar que é a mesma história, outros, que é o mesmo filme, em cópia restaurada.  Nem uma coisa, nem outra. Se eles têm algo em comum, é apenas a citação do monte permanentemente branco do Kilimanjaro, no Parque Nacional da Tanzânia, o ponto mais alto da África.  No filme atual, um lugar para onde se pode planejar uma viagem, por ocasião da aposentadoria, só isso.

“As Neves do Kilimanjaro” é, por sinal, não só um filme atual e novo, mas também contemporâneo na sua concepção. Baseado em um poema de Victor Hugo,ele se constrói por meio de uma série de dilemas que envolvem decisões a serem tomadas a cada passo, e para as quais é inevitável pensar, ponderar, avaliar prós e contras.  Implica reflexões que têm como base o senso de justiça e como cada um se relaciona com seus próprios princípios, na vida prática.


Vou descrever apenas o primeiro desses dilemas, que nos é apresentado nos primeiros minutos do filme.  Mas se você não quiser conhecê-lo antes de ver a fita, é só saltar o próximo parágrafo.

Michel (Jean-Pierre Darroussin) é um trabalhador que preside o sindicato de sua categoria.  Foi por meio dele, e do sindicato, que a empresa negociou a demissão de vinte pessoas, para que ela pudesse enfrentar a crise que atinge a economia europeia.  Ao invés de decidir quem seriam os demitidos, o acordo com o sindicato estabeleceu que se faria um sorteio entre todos os empregados.  Diante de uma urna com todos os nomes, os vinte papéis sorteados seriam os dos demitidos.  Michel, como líder sindical, estaria dispensado de entrar nesse sorteio, já que o próprio cargo lhe dá estabilidade no emprego, para que possa lutar pelos interesses da categoria enquanto estiver na função para a qual foi eleito pelos colegas.  Se ficar de fora do sorteio, seu emprego será preservado.  Mas seria isso justo?  Se entrar no sorteio, pode perder seu emprego, às vésperas da aposentadoria, não conseguir novo trabalho e, ainda, prejudicar sua própria atuação sindical.  O que fazer?

Isso que eu descrevi é só o começo do filme.  A partir desse dilema, muitos outros se colocarão, sempre com respostas difíceis de dar, envolvendo decisões delicadas como essa.  Não há cartilhas que possam dar conta de como alguém deve se comportar diante dos desafios da realidade.  Não existem fórmulas prontas que se possam aplicar, estejam elas na ideologia política, nos princípios filosóficos, nas religiões. Viver pode ser penoso e dolorido diante da consideração ética da administração da justiça.  Nem as leis, ou o arcabouço jurídico-constitucional de um país, conseguem dar conta disso.  E o que muitas vezes parece evidente, dependendo das circunstâncias, pode se revelar bem menos claro e nos surpreender, parcial ou completamente.


É disso que trata, com brilhantismo, o filme de Robert Guédiguian: da complexidade da vida e das relações humanas, especialmente aquelas que são tocadas pelas carências sociais, as que envolvem o mundo do trabalho e os valores da comunidade que o cerca.  Mais do que isso: a luta interior que temos de manter com nossos valores internalizados, nas decisões pessoais que tomamos.  E que, por certo, terão consequência para os outros, tanto os que estão ao nosso lado, como a família, quanto os que não conhecemos muito bem.

Não custa lembrar aqui uma frase do genial Millôr Fernandes (esse era gênio, mesmo, não é força de expressão), recém-falecido: “Como são admiráveis as pessoas que não conhecemos muito bem”.  E como também podem nos surpreender, para o bem e para o mal, não só essas pessoas, mas até aquelas que estão ao nosso lado.


“As Neves do Kilimanjaro” é daqueles filmes simples, na superfície, mas profundos, numa leitura mais atenta e cuidadosa.  Merece ser visto e, se possível, debatido.  Que o título homônimo do clássico hollywoodiano não atrapalhe sua carreira.  E seria bom, também, que as pessoas não entrassem no cinema em busca de um impactante drama romântico, recheado de belas paisagens, porque aí, certamente, iriam se frustrar.  Não que não haja um amor duradouro e companheirismo nas relações de Michel com Marie-Clare (Ariane Ascaride), mas o tom é completamente outro.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Um Método Perigoso


Tatiana Babadobulos

Um Método Perigoso (A Dangerous Method). Reino Unido, Alemanha, Canadá e Suíça, 2011. Direção: David Cronenberg. Roteiro: Christopher Hampton. Com: Keira Knightley, Viggo Mortensen, Michael Fassbender, Vincent Cassel, Sarah Gadon. 99 minutos



Cura da doença através da conversa. Essa foi, no início do século 20, a sugestão de um audacioso médico suíço, Carl Gustava Jung, inspirado no método utilizado por um médico austríaco, que veio a se tornar o pai da psicanálise. Seu nome? Sigmund Freud. O método utilizado por ambos, assim como o relacionamento entre eles, são temas do longa-metragem “Um Método Perigoso” (“A Dangerous Method”), que estreia nesta sexta-feira, 30 de março, nos cinemas. A fita, que concorreu à Palma de Ouro em Cannes, no ano passado, também teve indicação ao Oscar, mas voltou para casa sem nada. Injustamente.

Dirigido por David Cronenberg (“Senhores do Crime”, “Marcas da Violência”) e escrito por Christopher Hampton (“Desejo e Reparação”), o longa foi inspirado em sua própria peça, “The Talking Cure”, além do livro de John Kerr, “A Most Dangerous Method”. A narrativa se passa às vésperas da Primeira Guerra Mundial, quando Zurique (Suíça) e Viena (Áustria) são os cenários para a história que envolve descobertas sexual e intelectual.



A questão é que “Um Método Perigoso”, baseado em fatos reais, parte da internação de uma jovem russa, Sabina Spielrein (Keira Knightley, de “Orgulho e Preconceito”), em consequência de visíveis problemas psicológicos ocasionados na infância reprimida. Seu problema parte, principalmente, da histeria e humilhação que sofria pelo pai. A internação, aliás, fora proposta por Jung, no filme vivido por Michael Fassbender (“Bastardos Inglórios”), justamente com inspiração nos tratamentos de Freud (Viggo Mortensen, de “Marcas da Violência”, “A Estrada“).

Outra personagem importante é o paciente Otto Gross (o ator francês Vincent Cassel, de “Cisne Negro”), que é pervertido e está determinado a ultrapassar os limites, já que leva em conta a opinião de que nada deve ser reprimido (do uso de drogas à poligamia).

Faz parte de sua proposta incentivar os outros a tomarem atitudes semelhantes, já que, segundo Freud, muitos dos problemas comportamentais estão diretamente ligados à sexualidade. É dele o conselho a Jung: “Não passe pelo oásis sem parar para beber”.

Neste turbilhão de conflitos, o espectador vai vivenciar uma avalanche de opiniões sobre o mesmo tema e, o mais importante: que as ideias expostas começaram a ser divulgadas pelos médicos em 1904.

Para recriar o ambiente da época, o filme lança mão do figurino impecável, além de levar para as locações a realidade da época. Até mesmo a casa onde Freud viveu foi utilizada.



Cronemberg, especializado em suspenses e filmes de terror, se mostra um pouco perdido quando o assunto se volta para o drama. Principalmente por conta da interpretação dos atores, já que a atuação de Keira parece um pouco exagerada para o seu problema. Logo no início, o espectador se depara a uma cena bastante forte, que inclui a internação de Sabina, com direito a pontapés e gritos histéricos.

“Um Método Perigoso” traz diálogos construídos com frases feitas pelos médicos, e frisa bastante o fato de Freud achar que (quase) tudo o que acontece na vida das pessoas tem a ver com a sexualidade. Sublinha também a vida tranquila que Jung tinha, no quesito econômico, já que a sua esposa era rica e ambos, arianos. E também o discutido envolvimento de paciente e médico.

Além do momento que a Europa vivia neste conflito intelectual, o diretor oferece uma pincelada na questão do Holocausto, já que tanto Freud quanto Sabina eram judeus (Freud foi expulso da Áustria e a russa voltou para a sua terra natal, onde morreu fuzilada).

“Um Método Perigoso” reúne um grande elenco e traz para a sala de cinema uma discussão importante e, quem sabe, acaba se tornando uma verdadeira terapia de grupo.