terça-feira, 30 de janeiro de 2018

ARTISTA DO DESASTRE


Antonio Carlos Egypto





ARTISTA DO DESASTRE (The Disaster Artist).  Estados Unidos, 2017.  Direção: James Franco.  Com James Franco, Dave Franco, Seth Rogen, Alison Brie.  104 min.



Você já esteve numa sessão de cinema em que o filme, pretendendo lhe mostrar um drama ou aventura, era tão mal feito, estranho, improvável, mal interpretado, que a plateia se põe a rir e, a partir daí, tudo vira comédia?  É uma experiência irritante, mas, ao mesmo tempo, muito divertida.  E compartilhada!

Há filmes assim, um deles deve ter sido “The Room”, de 2003, dirigido por Tommy Wiseau, que é objeto de “Artista do Desastre”.  Um filme que, de tão ruim, se tornou   cult.  E é visto até hoje em sessões malditas no cinema.  As pessoas até listam motivos para assistir ao pior filme de todos os tempos.  A história real dele comporta muitas dúvidas e variações.  Difícil saber como foi mesmo que o tal filme surgiu e se concretizou.

Seja como for, o modo como James Franco representa Tommy Wiseau é estranho e engraçado.  Valeu-lhe o Globo de Ouro como ator de comédia.  Em “Artista do Desastre”, Tommy é mostrado como uma figura absolutamente histérica, sem noção ou limites, sem equilíbrio nem respeito pela privacidade alheia.  E também sem talento.  Mas com dinheiro.  Pelo jeito, muito dinheiro.  Herança milionária?   Não fica claro.




O fato é que Tommy se põe a custear o próprio filme, sem noção do que é dirigir, mas contando com um aspirante a ator, de quem se torna amigo e mantenedor: Greg Sestero (Dave Franco).  Do livro que Greg escreveu é que surgiu a história contada no filme.  Ou seja, ele teria contado o que viveu e como fez “The Room”, como ator e principal colaborador do cineasta sem noção.  Foi pelo roteiro adaptado desse livro que “Artista do Desastre” conseguiu sua única indicação ao Oscar 2018.

A forma como James Franco dirige o filme enfatiza como um desastre de imensas proporções, com muito dinheiro torrado, sobrevive por milagre.  Ou seja, pela capacidade que temos de nos divertir com o que é aberrante, mal feito, ruim.  Diante do desastre, melhor relaxar e gozar.  Desse modo, surge uma comédia sobre esse curioso produto, que é bem divertida.


Já nos créditos finais, são mostradas cenas originais do “The Room”, em paralelo a suas recriações em “Artista do Desastre”.  A similaridade é impressionante!



terça-feira, 23 de janeiro de 2018

SONORA:ENNIO MORRICONE

     
Antonio Carlos Egypto




O compositor Ennio Morricone tem uma vasta contribuição à música de cinema, sendo responsável por mais de 500 trilhas de filmes, na sua Itália de origem e em todo o mundo.  Trabalhos inesquecíveis, que fazem parte da trilha de vida de todos nós.  Basta lembrar  os western-spaghetti de Sergio Leone, “Cinema Paradiso”, de Giuseppe Tornatore, “Teorema”, de Pasolini, “1900”, de Bernardo Bertolucci, “O Deserto dos Tártaros”, de Valerio Zurlini, “A Batalha de Argel”, de Gillo Pontecorvo, “Investigação Sobre um Cidadão Acima de Qualquer Suspeita”, de Elio Petri, “Os Intocáveis”, de Brian De Palma, “Áta-me”. de Pedro Almodóvar, “A Missão”, de Roland Joffé, “Cão Branco”, de Samuel Fuller, “Cinzas do Paraíso”, de Terence Malick ou “Os Oito Odiados”, de Quentin Tarantino.  A lista é interminável, mas por aí já dá para perceber a enorme importância do trabalho musical de Ennio Morricone.  Pois bem, agora que ele está prestes a completar 90 anos de vida, todos esses filmes e muitos outros poderão ser vistos de 24 de janeiro a 19 de fevereiro, numa mostra que homenageia o compositor, no Centro Cultural Banco do Brasil, centro de São Paulo, em sessões a R$5,00.  Veja a programação em ccbbsp@bb.com.br


segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

PRÊMIO ABRACCINE 2017


Antonio Carlos Egypto




A Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema -, da qual também sou associado, tem abrangência nacional, reúne cerca de 100 críticos, em 16 Estados do Brasil.  Por indicação de cada um de nós e posterior votação, foram escolhidos os melhores filmes de 2017, nas categorias melhor filme nacional, longa e curta, e melhor filme estrangeiro.

Os vencedores foram:
Melhor Longa Brasileiro: MARTÍRIO, de Vincent Carelli, Ernesto Carvalho e Tatiana Almeida.
Melhor Curta Brasileiro: MAMATA, de Marcus Curvelo.
Melhor Longa Estrangeiro: PATERSON, de Jim Jarmusch.

Paulo Henrique Silva, presidente da Abraccine, afirma que “o prêmio Abraccine marca o encerramento de um ano de muitas atividades da associação, voltadas para a divulgação da reflexão crítica no país.  Os filmes lançados em 2017 refletiram diversas inquietações da sociedade atual e o resultado do prêmio é um exemplo disso”.

Abaixo, o que escrevi sobre os dois longas premiados, aqui no cinema com recheio.

                                           MARTÍRIO
 Antonio Carlos Egypto


O documentário nacional “Martírio”, de Vincent Carelli, Ernesto Carvalho e Tatiana Almeida, de 2016, aborda a política indigenista dos governos brasileiros junto aos índios Guarani-Kaiowá, que sempre buscam recuperar suas terras sagradas e são tratados como invasores.  Constata-se que, de Getúlio Vargas a Dilma Rousseff, pouca coisa mudou no massacre a que estão sujeitas as populações indígenas, frente aos interesses do agora assim chamado agronegócio. Suspeito que, no momento atual, as coisas podem ter piorado ainda mais.  O filme é forte, denso e informativo.  A denúncia que apresenta é muito séria.  O problema é que o filme é muito longo.  Merecia uma edição mais enxuta, o que seria mais eficaz para os seus objetivos.  162 min.

SEGUNDA-FEIRA, 8 DE MAIO DE 2017


PATERSON


Antonio Carlos Egypto




PATERSON (Paterson).  Estados Unidos, 2016.  Direção e roteiro: Jim Jarmusch.  Com Adam Driver, Golshifteh Farahani.  118 min. 


Paterson (Adam Driver) vive em Paterson, New Jersey, cidade de cerca de 150 mil habitantes.  Isso já indica uma posição de familiaridade, de pertencimento, de conforto.  Difícil se sentir estranho ou excluído numa cidade pequena, que leva o seu nome, ou que seu nome tenha sido escolhido em função dela.

O personagem Paterson é motorista de ônibus na cidade e cumpre uma rotina diária que inclui ir para casa após o trabalho, jantar e conversar com a mulher, levar o cachorro buldogue para passear, passar no bar para tomar uma cerveja.  Mas, no meio de tudo, em qualquer espaço de tempo, ele escreve poemas do cotidiano, num caderno secreto, que não mostra nem para a esposa.  A inspiração pode vir de uma conversa qualquer ou de uma simples caixa de fósforos.




Laura (Golshifteh Farahani), esposa de Paterson, tem outro tipo de rotina.  Se ocupa de forma maníaca com formas geométricas em preto e branco, usadas para decorar todos os cantos da casa, suas roupas e seu violão.  E faz cupcakes enfeitados, com motivos em preto e branco.  Até quando propõe uma ida ao cinema com o marido, o filme de terror antigo é em preto e branco.

O casal vive bem, se apoia mutuamente, são afetivos um com o outro e convivem com o cachorro em paz.  O que isso tudo mostra?  Que o mundo de cada um pode ser confortável, tranquilo. Que a rotina não precisa ser vista como um tédio ou simples acomodação.  Ela também pode ser acolhedora e até poética.  O que não significa, é claro, ausência de conflitos.  E me vem à lembrança o título em português do último filme de um dos grandes mestres do cinema japonês, Yasujiro Ozu (1903-1963): “A Rotina Tem Seu Encanto”, de 1962.  Esse mesmo título caberia muito bem no filme de Jarmusch.  A inspiração em Ozu também é clara.  Tanto que, quando algo abala essa bela rotina poética, é um poeta japonês que aparece em Paterson, para salvar a poesia do personagem Paterson.  Bonito isso!




O diretor Jim Jarmusch teve grande destaque no cinema independente norte-americano, nos anos 1980, e chamou muito a atenção pela capacidade de criar climas mais do que coloquiais e, ao mesmo tempo, estranhos, algo assim meio fora do tempo e das expectativas sociais.  Os ambientes e situações são banais e, às vezes, rotineiros.  Gosto muito de “Estranhos no Paraíso”, de 1984, “Daunbailó” (Down By Law), de 1986, dos curtas que deram origem ao longa “Sobre Café e Cigarros”, de 2003, e do mais recente, “Amantes Eternos”, de 2013.  O jeito cool e esquisito da maioria dos personagens que ele retrata são muitíssimo interessantes, embora nem todas as histórias consigam o efeito desejado e algumas coisas soem repetitivas, no conjunto da obra.  É natural.  Para quem chegou surpreendendo, passada a surpresa a novidade se esgota.  Mas ele está se mostrando capaz de se renovar, ultimamente.  “Paterson” é um claro exemplo disso.

Jim Jarmusch sempre consegue extrair dos atores que escolhe desempenhos especiais, minimalistas, lunáticos, tresloucados ou passivos.  O casal que forma a dupla de protagonistas aqui dá um show de atuação e compõe personagens tão simpáticos quanto familiares e perfeitamente integrados ao clima do cineasta.  A linda e talentosa atriz iraniana Golshifteh Farahani, que foi banida de seu país por ter posado nua para uma revista, é muito convincente e encantadora.  Ela tem mostrado uma versatilidade grande em filmes como “A Pedra da Paciência”, de 2012, e “Dois Amigos”, de 2015.  Adam Driver entrou no clima cool do diretor e se saiu muito bem.  Acabamos de vê-lo em “Silêncio”, de Martin Scorsese, no papel de um padre; ele também tem atuado nos filmes da série “Star Wars”.  A atriz e o ator agregam valor a esse novo trabalho de Jim Jarmusch.


sábado, 20 de janeiro de 2018

ME CHAME PELO SEU NOME


Antonio Carlos Egypto




ME CHAME PELO SEU NOME (Call Me By Your Name).  Itália/Estados Unidos, 2017.  Direção e roteiro: Luca Guadagnino.  Com Armie Hammer, Timothée Chalamet, Michael Stuhlbarg, Amira Casar, Esther Garrel.  131 min.



“Me Chame Pelo Seu Nome” é um filme que aborda, com beleza e sutileza, o desabrochar da sexualidade, o desejo e o amor homoeróticos.  Sem deixar de considerar o contexto social inibidor, a quebra de expectativas, torna factível, e até suave, uma experiência homossexual entre dois homens jovens, Oliver (Armie Hammer) e Elio (Timothée Chalamet), no verão de 1983, no norte da Itália.  Já constatando e refletindo avanços reais nas mentalidades, que foram transformando preconceitos em tentativas de compreensão e acolhimento.

Magníficas locações no norte da Itália fazem a bela moldura do drama.  Uma produção caprichada e requintada, que seduz o espectador.  O problema está no elitismo da proposta.  Senão, vejamos.

Elio, aos 17 anos, passa seus verões numa casa de campo luxuosa da família.  Ele lê muito, absorve e discute literatura com seus pais e outros frequentadores da casa.  É inteligente, bem informado, toca piano e violão, conhece tanto música clássica quanto boa música popular da atualidade.  Seu pai é um renomado professor, especializado em cultura greco-romana, que costuma receber estagiários qualificados para ajudá-lo em suas pesquisas, nos verões lá passados.  Ali, eles são hospedados, servidos por diversos empregados, desfrutam de comida sofisticada, piscinas naturais, natureza exuberante os envolve.

O estagiário da vez é Oliver, pesquisador norte-americano de 25 anos, desenvolvendo doutorado, que será objeto do interesse de Elio.  Este, por sua vez, vai vivendo suas primeiras experiências sexuais com a amiga Márzia, sob a aceitação tácita dos pais.  Esses mesmos genitores, evidentemente, serão capazes de entender e acolher a diversidade sexual.  Dinheiro tem de sobra, não há qualquer restrição quanto a isso. 




Convenhamos, num contexto como esse, tudo fica mais fácil, até o sofrimento é bonito de se ver, como as cenas finais do filme atestam.

Nada disso tira os méritos de “Me Chame Pelo Seu Nome”.  A direção de Luca Guadagnino, que também fez o belo “Um Sonho de Amor”, em 2009, é muito segura.  O roteiro, também do cineasta James Ivory, é muito bom.  Os dois atores centrais, Armie Hammer e Timothée Chalamet, dão um show de interpretação e revelam uma parceria em cena muito convincente.  O clima leve em que o drama é levado também é uma escolha feliz, já que as histórias de amor gay costumam ser muito carregadas de tensões, agressividade e incompreensões.  Evidentemente, não é preciso ser assim.  No caso, o contexto onde se dá a trama, e o local, favorecem um pouco demais a leveza.  Mas por que não?  Os ricos também amam, e sofrem, não é?

A produção é absolutamente global.  Envolve a Itália, do diretor Guadagnino, os Estados Unidos, a França e até mesmo o Brasil, por meio de Rodrigo Teixeira, da RT Features.  O filme é falado em várias línguas, conforme a necessidade das situações e personagens, inclusive o inglês.  Isso lhe permite concorrer ao Oscar, ao que parece, com boas chances em algumas categorias.  Se viesse a ser escolhido como melhor filme, não deixaria de ser, também, uma vitória brasileira, já que são os produtores que recebem o prêmio.

Conjecturas e fantasias à parte, será que a Academia de Hollywood já conseguiria hoje premiar um romance gay, o que ela quase fez com “Brokeback Mountain”, em 2006, mas que não rolou?  Recebeu, então, os prêmios de melhor diretor para Ang Lee, roteiro adaptado e trilha sonora original.  Mas o de melhor filme ficou para “Crash”. Verdade que "Moonlight", que venceu o ano passado,  incluia a questão gay, mas a discussão era mais ampla e focava as temáticas racial e social. Ali a Academia estava procurando se redimir das críticas que recebeu quanto à discriminação das indicações de negros no Oscar. Novos tempos, novas possibilidades?  A conferir.


sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

LOU


Antonio Carlos Egypto





LOU (Lou Andreas-Salomé).  Alemanha, 2016.  Direção e roteiro: Cordula Kablitz-Post.  Com Katharina Lorenz, Nicole Heesters, Liv Lisa Fries, Julius Feldmeier, Alexander Scheer, Philipp Haub.  113 min.



“Lou” é uma cinebiografia da intelectual Lou Andreas-Salomé, nascida em 1861, em São Petersburgo, na Rússia.  Mas que viveu toda sua vida na Alemanha, falecendo em 1937.  E que vida!  Filósofa, romancista e, depois, psicanalista, foi uma revolucionária em tempos de descobertas e mudanças, o final do século XIX e início do XX.

Atuando sempre fora dos padrões e das expectativas sociais, Lou foi uma mulher que escandalizou seu tempo, nas questões de gênero.  Seu comportamento público era totalmente surpreendente para uma mulher daquela época.  Basta dizer que ela manteve, por um bom tempo, um convívio a três, com os filósofos Friederich Nietzsche e Paul Rée, influenciando e sendo influenciada por eles, intelectualmente, sem sexo, sem a menor intenção de casar ou ter filhos com nenhum deles, ou com qualquer outro.  Era uma figura forte, porque também se dedicava intensa e prioritariamente aos estudos, o que lhe deu uma dimensão intelectual fantástica.

Encontrou em Rainer Maria Rilke, o jovem poeta e escritor, um envolvimento maior.  Ele era uma figura que incorporava o feminino em si mesmo e essa foi uma das coisas que a encantou, segundo se vê no filme “Lou”.  Fez análise com ninguém menos do que Sigmund Freud, com quem aprendeu e desenvolveu trabalhos na área nascente da psicanálise.






Aos 72 anos de idade, se vale do jovem filólogo Ernst Pfeiffer para escrever suas memórias e, mais uma vez, impressionar um homem  importante.  O filme “Lou” conta essa experiência, a da construção das memórias contadas e ditadas ao filólogo.  E, na forma de flashback, ela repassa sua história, escolhendo e selecionando o que lhe interessa contar.  Essa forma acaba sendo bem convencional e não muito atraente.  Mas a história contada, a de Lou, essa é impactante. 

Três atrizes vivem a vida de Lou, em diferentes etapas: Liv Lisa Fries, na adolescência, que desponta para o novo, Katharina Lorenz, em todos os episódios da vida adulta, narrados por Nicole Heesters, a Lou aos 72 anos.

O elenco masculino traz personagens um tanto complicados de interpretar:  o delicado e apaixonado Rilke, o superbigodudo Nietzsche, o filósofo Rée, desejando e engolindo uma situação que o incomodava, o escritor Pfeiffer, jovem apaixonado por uma mulher já idosa, e o discreto e imponente Freud, como analista.  Todos grandes homens, de certo modo, a serviço dessa grande mulher.  As caracterizações desses personagens deixam um tanto a desejar, mas o trabalho da diretora Cordula Kablitz-Post consegue envolver pela força de um relato pouco conhecido de uma figura feminina que merece ser resgatada, pela importância histórica que tem.




quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

MELHORES FILMES DE 2017

 Antonio Carlos Egypto

Como já é tradição, e todos os críticos costumam fazer, aí vão minhas listas de melhores filmes do ano de 2017, tanto nacionais quanto internacionais.

São considerados elegíveis os filmes lançados regularmente nos cinemas, ao longo de todo o ano.  Excetuam-se os filmes lançados diretamente em DVD, Blu-ray ou pelo sistema on demand, na TV e Internet.  Também não estão incluídos os filmes exibidos pelos cinemas apenas em mostras ou festivais, que não chegaram ao circuito de exibição no ano.

É claro que toda lista envolve um critério pessoal, sendo passível de crítica quanto às escolhas e omissões.  E também é evidente que eu vi muitos filmes no cinema, ao longo de 2017, mas devem ter me escapado bons filmes, que poderiam até figurar nas listas.  Faz parte do jogo. 

Mesmo assim, espero que estas listas sejam de alguma utilidade, sirvam para uma troca de ideias ou para tentar resgatar um programa que se perdeu em algum canto de 2017.  Um ano verdadeiramente para se esquecer, mas com muitos lançamentos no cinema e bons filmes, tanto brasileiros quanto de todo o mundo.


FILMES NACIONAIS

1) ERA O HOTEL CAMBRIDGE, de Eliane Caffé.
2) BINGO, O REI DAS MANHÃS, de Daniel Rezende.
3) CIDADES FANTASMAS, de Tyrell Spencer.
4) NO INTENSO AGORA, de João Moreira Salles.
5) PITANGA, de Beto Brant e Camila Pitanga.
6) QUEM É PRIMAVERA DAS NEVES, de Jorge Furtado e Ana Luíza Azevedo.
7)   JOAQUIM, de Marcelo Gomes.
8)   MARTÍRIO, de Vincent Carelli.
9)   COMO NOSSOS PAIS, de Laís Bodansky.
10) O FILME DA MINHA VIDA, de Selton Mello.


FILMES INTERNACIONAIS

1)   LUMIÈRE, A AVENTURA COMEÇA, de Thierry Frémaux. 
2)   ALÉM DAS PALAVRAS, de Terence Davies.
3)   PATERSON, de Jim Jarmusch.
4)   FRANTZ, de François Ozon.
5)   EU, DANIEL BLAKE, de Ken Loach.
6)   NA PRAIA, À NOITE, SOZINHA, de Hong Sang-soo.
7)   MANCHESTER À BEIRA-MAR, de Kenneth Lonergan.
8)   CARTAS DA GUERRA, de Ivo M. Ferreira.
9)   O FANTASMA DA SICÍLIA, de Fábio Grassadonia e Antonio Piazza.
10)         POESIA SEM FIM, de Alejandro Jodorowsky.
Destaques: A TRAMA, de Laurent Cantet e O OUTRO LADO DA ESPERANÇA,  de Aki Kaurismaki.



terça-feira, 9 de janeiro de 2018

CORPO E ALMA

   
Antonio Carlos Egypto





CORPO E ALMA (Teströl és Lélekröl).  Hungria, 2017.  Direção: Ildiko Enyedi.  Com Alexandra Borbély, Morcsányi Géza, Zoltán Schneider.  116 min.



“Corpo e Alma” é o filme indicado pela Hungria para a disputa do Oscar de filme estrangeiro e que, ao contrário do nosso “Bingo, o Rei das Manhãs”, entrou na lista prévia para a indicação dos cinco nominados à votação final.  E tem tudo para entrar na lista definitiva.

É um filme imageticamente forte.  Sua abordagem do matadouro de animais onde se passa a história mostra, de um lado, toda a assepsia exigida pelos controles oficiais, ao mesmo tempo em que exibe o sangue e as entranhas dos animais, a selvageria que é o abatedouro e o esquartejamento.  O paradoxo é que o dono do estabelecimento, que com ele lucra e vive, nem aguenta ver o que se faz lá e não entende quando um candidato a funcionário não se incomoda com o que vê.  O natural é se incomodar, claro, se houver alguma sensibilidade. 

Esse mesmo personagem, Endre (Morcsányi Géza), mostra-se reservado, até tímido, no seu ambiente de domínio e se aproxima com dificuldade de uma nova colaboradora, inspetora que lá chegou: Mária (Alexandra Borbély).  Ela é travada ao contato e às relações, numa existência despreparada para o convívio humano que escape aos rígidos códigos de controle que ela utiliza no trabalho, sem nenhuma flexibilidade. 




Esses dois personagens carentes se encontrarão numa narrativa bem construída, em que se destaca o inusitado fato de que, noite após noite, eles experienciam sonhos idênticos.  Sonhos que remetem a impulsos de caráter instintivo, projetados em animais, não o gado abatido no matadouro, mas cervos se encontrando na neve.  E aqui, novamente, as imagens dessa natureza gelada e dos bichos são bastante sedutoras.  Ou seja, os sonhos são belos, remetem a uma história de amor.  Intrigante, estranha, assustadora, mas, sim, uma história de amor.

A realização cinematográfica se vale do onírico e do poético para mostrar a fragilidade e a vulnerabilidade do humano e da possibilidade de amar.  A crueldade está presente no cotidiano e o sofrimento parece ser uma condição indissociável da própria vida.

A diretora Ildiko Enyedi mostra mão firme num tema rarefeito, que pede personagens inibidos, bloqueados.  Exigindo, portanto, desempenhos contidos, voltados para dentro.  Um desafio que, sobretudo, Alexandra Borbély vence brilhantemente.  Mas todo o clima do filme e o desempenho do elenco seguem no mesmo diapasão.  “Corpo e Alma” ganhou o Urso de Ouro na 67ª. edição do Festival de Berlim, como melhor filme.


Lembrete

Estão em cartaz nos cinemas bons filmes que foram destaque da 41ª. Mostra Internacional de Cinema de São Paulo: THE SQUARE, A ARTE DA DISCÓRDIA, de Ruben Östlund, da Suécia;  O PACTO DE ADRIANA, de Lizette Orozco, do Chile; O JOVEM KARL MARX, de Raoul Peck, da Alemanha; O MOTORISTA DE TÁXI, de Jang Hoon, da Coreia do Sul; e COM AMOR, VAN GOGH,  de Dorota Kobiela e Hugh Welchman, animação adulta da Polônia, já comentados aqui.