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quinta-feira, 10 de outubro de 2024

E HORA DA MOSTRA 48

Antonio Carlos Egypto

 

É sempre uma grande notícia o anúncio de que chegou mais uma edição da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, a 48ª.  Que beleza! 

 


De 17 a 30 de outubro, mais a repescagem no Cinesesc logo após o período normal, ela vai acontecer em 29 salas da cidade.  Entre elas, o Espaço Augusta de Cinema, a Cinemateca Brasileira, o Reserva Cultural, os Cinesystem Frei Caneca e Morumbi, o Kinoplex Itaim, o Instituto Moreira Salles, o Satyros Bijou, o Sato Cinema, o Olido, o Circuito Spcine e diversos CEUs da cidade, além do Cinesesc.

 

Estão previstas exibições de 415 filmes de 82 países.  E desta vez uma novidade: a 1ª. Mostrinha, com filmes para o público infanto-juvenil.

 

A Mostra, em 2024, destaca o cinema da Índia, que é nada menos do que o país que mais produz cinema no mundo.  Que, assim como tem um cinema altamente popular, tem também produções mais elaboradas, de maior teor artístico.  30 longas-metragem comporão o Foco Índia, com destaque para uma retrospectiva do genial cineasta Satyajit Ray (1921-1992).  Ele, que foi roteirista, artista gráfico, compositor, publicitário, diretor de arte, fotografia, som e editor, tem um de seus storyboards ilustrando o pôster da Mostra 48.

 

Tem também uma mostra do cineasta palestino Michel Khliefi e outros filmes do Oriente Médio, como o do israelense Amos Gitai, que há muito tempo tem seus filmes exibidos por aqui.  Alguns filmes estrelados por Marcello Mastroianni, em vários países do mundo, serão exibidos para comemorar o centenário do grande ator italiano.

 

E, claro, como sempre, filmes premiados nos principais festivais mundiais, indicados ao Oscar de filme internacional, produções de todo o mundo, 83 filmes brasileiros e uma competição de novos cineastas, que estejam apresentando seu primeiro ou segundo longa-metragem.

 

Eventos ligados ao cinema, como o IV Encontro de Ideias Audiovisuais, também ocorrem na Cinemateca.  Para se informar de tudo isso e consultar a programação, acesse mostrasp.org

 

Permanentes e ingressos: pacotes de 20 ou 40 filmes, Especial  Vespertina ou Credencial Completa, podem ser adquiridos no Conjunto Nacional, na av. Paulista, a partir de sábado, 12 de outubro.

 

@mostrasp   #mostrasp

domingo, 9 de julho de 2023

CINE SATO



Antonio Carlos Egypto

 

 



Um novo cinema está sendo lançado no bairro da Liberdade, em São Paulo, o cine Sato ou Sato Cinema.  Vinculado ao edifício da Bankyo – Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social – e ao Museu Histórico da Imigração Japonesa, com entrada direto pela rua São Joaquim.  Portanto, um cinema de rua.  Administrado pela Sato Company, estará dedicado à exibição de filmes japoneses, principalmente, mas ampliando para coreanos e chineses, ou seja, produção audiovisual asiática. 

 

Com equipamentos atualizados para boa qualidade de projeção cinematográfica, ocupará um auditório que desenvolve outras atividades e eventos, além do cinema e que, incluindo o mezanino, é uma sala de 1100 lugares.  Pelo menos no início de suas atividades, a programação do cinema estará reduzida aos finais de semana.  No mês de julho, com cinco sessões aos domingos, nos dias 16, 23 e 30. 

 


A julgar pela sala de espera montada, o destaque será para as animações, envolvendo super heróis asiáticos, títulos do acervo da Sato, clássicos de Bruce Lee, por exemplo, e novos lançamentos.  Os primeiros filmes que estão previstos na programação incluem “O Deus do Cinema”, um belo filme do diretor Yôji Yamada, exibido recentemente em São Paulo.  Os outros títulos são “The Promised Neverland”, um filme de ação, aventura e drama, inspirado numa série mangá, “Human Lost”, uma ficção científica passada no ano 2036, e “Kamen Rider Zero One: Real X Time”, envolvendo ação e ficção científica, em exibição dublada.  Os demais passam legendados.  Todos são produções japonesas recentes.

 

A ideia de um novo cinema de rua na Liberdade faz lembrar do histórico cine Niterói, que, de 1953 a 1968, na rua Galvão Bueno, teve um papel fundamental na difusão do cinema e da cultura japonesa na cidade, quando pouco se conhecia deles, até então, no mercado exibidor da época.  E também era uma sala enorme.

 


O problema é a viabilidade de um cinema com mais de mil lugares nos dias de hoje, algo que não existe mais em São Paulo.  Ainda que restrito aos finais de semana, poucos dias de exibição por mês, não é fácil trazer um público tão grande à sala de cinema.  O desafio é enorme.  A Sato parece confiante no êxito e na ampliação da empreitada.  Tomara que esteja certa na sua ousadia.  O momento é de comemoração e marca também o 115º. Aniversário da imigração japonesa no Brasil.

 

 

domingo, 18 de junho de 2023

VIVA CINEMATECA

                   

Antonio Carlos Egypto

 

 



A Cinemateca Brasileira tem sede em São Paulo, no bairro da Vila Mariana, Largo Senador Raul Cardoso, 207, num espaço que abrigou no passado o Matadouro Municipal.  Lugar amplo, bonito, com duas salas de cinema no seu interior, projeção ao ar livre e espaço de circulação, que permite eventos como feiras, passeios ou uma vista do pôr do sol, no final da tarde, abertos ao público.

 

Escritórios, laboratórios e salas equipadas garantem a função precípua da Cinemateca: guardar, recuperar, catalogar e digitalizar um grande acervo fílmico para a preservação e difusão do audiovisual do país.  Ou seja, a preservação da história e da memória do nosso cinema, das grandes produções de TV e sua disponibilização não apenas aos estudiosos, mas ao público em geral.  Isso se dá por meio de exibições regulares, não só de seu acervo, mas de grandes filmes do cinema mundial, que vão sendo restaurados e difundidos pelas Cinematecas de todo o mundo.

 

Pois bem, tudo isso está sendo ampliado e revitalizado a partir da reabertura da Cinemateca Brasileira, que se deu em maio de 2022, liderada pela Sociedade Amigos da Cinemateca, após um período de abandono, descaso, corte total de verbas e consequências sérias, como um incêndio no galpão da Vila Leopoldina, que minou parte do acervo. 


 



Agora, contando com financiamento das leis de incentivo à cultura, a Cinemateca dispõe de recursos para revitalizar o acervo, modernizar a instituição e percorrer o país com uma programação itinerante.  O projeto Viva Cinemateca envolve a ampliação das áreas de guarda, tratamento de acervo e restauração.  Expansão do espaço de laboratório e atualização tecnológica, visando garantir a sobrevivência dos 125 anos do cinema brasileiro, desde os antigos filmes do início do século XX, a chamada coleção de nitratos (facilmente inflamáveis) até os famosos cinejornais futebolísticos do Canal 100 e as produções icônicas da TV brasileira.

 

É com grande satisfação que vemos a Cinemateca reviver de forma tão intensa e competente.  O público está vindo assistir às mostras de cinema, e houve várias delas neste ano de 2023.  Todas muito boas.  E há muito a vir por aí.  Para revisitar a história, a Cinemateca retomará 10 filmes brasileiros clássicos, como “Dona Flor e Seus Dois Maridos”, “Central do Brasil”, “Cidade de Deus” e outros, com um apelo à importância e à memória dos filmes, com chamadas como “Lembra daquele filme que começa com a perseguição a uma galinha?”.



domingo, 7 de junho de 2020

EM QUARENTENA

Antonio Carlos Egypto





O cinema saiu de cena.  E eu também.  Dei um tempo para vocês.  Não foi intencional, nem planejado.  Aliás, nada do que vivemos no momento foi intencional ou planejado.  O aleatório, o inesperado, faz parte da nossa vida muito mais do que gostaríamos de admitir.  Alguns preferem criar a fantasia do vírus concebido em laboratório pelos chineses.  Negam a irracionalidade do mundo, o inconsciente, a destruição do planeta, a própria doença.  Como se pudéssemos manejar tudo.  Fazemos escolhas, como Teich.  Exatamente por não termos domínio da situação.

Quando foi imperioso ficar em casa, com meus mais de 70 anos e com minha esposa alguns anos mais velha, ficou muito incômodo permanecer no apartamento, com um prédio em construção bem ao lado.  A solução era óbvia.  Mudar por uns tempos (quantos, nunca se sabe) para a nossa casa de veraneio em Águas de São Pedro.  Quando a compramos, há 20 anos, a ideia era, quem sabe, ficar por lá, quando batesse a velhice.  Nessa hora em que a gente quer mais sossego do que agitação e o corpo já não obedece à mente.  Essa hora ainda não chegou, quero crer.  Mas o estigma do vírus que ataca preferencialmente os idosos pesa.



Lá temos o privilégio de usufruir de uma casa gostosa, confortável, bem arejada e solar, com varandas e vista para um lago.  O que eu poderia desejar mais do que isso, durante uma pandemia, em que o programa é ficar em casa?

Permaneci por lá nos últimos 70 dias, usufruindo de tudo isso, mas tive de voltar agora, por conta da declaração do imposto de renda, que deixamos para trás.  Pretendo voltar em seguida, porque para nós o isolamento social permanece indicado.  Ou melhor, indispensável. 




Só que lá não disponho da mesma tecnologia que está à disposição em São Paulo.  Não tenho wi-fi nem TV a cabo.  Internet, só pelo smartphone, com limitações.  A TV aberta, jornais e sites, garantem as notícias (cada vez mais absurdas e assustadoras).  CDs e DVDs dão conta das músicas e filmes preferidos.  Tem também os livros.  Ver filmes inteiros pelo celular ou digitar textos por lá, nem pensar.  É preciso ser telegráfico.  Nas mensagens, nos textos, nos vídeos para assistir.  E quem  precisa de tanto estímulo?  Como já dizia Caetano Veloso, em “Alegria, Alegria”, em 1967/68, quem lê tanta notícia?

Tenho recebido por e-mail, via celular, muitas informações sobre lançamentos de filmes em streaming, ofertas de filmes gratuitos on line, mas não é apropriado para o meu atual momento ou possibilidade.  O coronavírus me fez parar.  Eu posso fazer isso e acho que tem seu valor esse encontro comigo mesmo e essa reflexão sobre o que nos espera.  Nessa hora, não estou preocupado em ser produtivo ou estar atualizado.  Tudo tem seu tempo.




Penso nos trabalhadores da área da cultura e nos trabalhadores em geral, para quem o desafio desse período está sendo devastador e, claro, temo pelo futuro de todos nós e da cultura, no país.  Da escalada de mortes que assola o Brasil, nem se fala.  Se alguém que me lê agora perdeu parente ou amigo nessa pandemia, aceite meus sentimentos.  Isso não aconteceu comigo.  Pessoas próximas sofreram com a doença, inclusive um morador aqui do nosso prédio, que se recupera após longo período hospitalar, com entubação, hemodiálise e tudo o mais.  Espero que sobrevivamos.  Cuidem-se.  E, se puderem, fiquem em casa.




quarta-feira, 18 de março de 2020

CINEMA E CRISE

Antonio Carlos Egypto



Estou aqui falando de cinema já há um bom tempo.  Praticamente 12 anos de forma ininterrupta, postando, pelo menos, uma matéria crítica toda semana.  Mas, com frequência, essa média cresce e só tenho suspendido as postagens por ocasião de alguma viagem mais longa.  Faço isso por paixão.  Cinema sempre foi a minha paixão, desde pequeno.  Aquela tela grande que concentra a atenção das pessoas, aquela sala escura que destaca o filme, aquele som impactante, aquela atmosfera toda sempre me fascinou.  E ainda me fascina.  É insubstituível.




É bom ver um filme em casa, quando os equipamentos contribuem para aproximar essa experiência à do cinema.  Definitivamente, porém, não é a mesma coisa.

Arte de verdade implica mergulho na experiência, entrega, concentração, crítica e reflexão.  Não é fácil obter isso.  O próprio cinema, pode-se dizer, acaba estando muito mais a serviço do entretenimento do que da arte.  Se isso acontece na sala de cinema, imagine em casa, onde tudo tende a favorecer a dispersão.  Da circulação de pessoas e animais domésticos ao onipresente celular e suas notificações ás interrupções para comer e ir ao banheiro, que acabam sendo mais frequentes, ou à luminosidade pouco adequada à fruição cinematográfica, tudo contribui para que a experiência seja bem distinta da do cinema.   Não importa quão genial seja o filme visto em casa.     Não há “8 ½” de Fellini que consiga sair ileso.

Se criadas as condições apropriadas, em horário mais tranquilo, talvez tarde da noite, pode ser muito interessante descobrir alguns filmes, rever outros, conferir uns de menor importância.  Ou centrar-se na trama em si, mais do que no clima do filme, na sua criatividade, na expressividade de sua linguagem.  As séries, quero crer, se prestam bastante a esse papel.  Principalmente, quando consumidas com o excesso que muitos apregoam fazer.

O avanço tecnológico possibilitou a multiplicação de plataformas, mas não prejudicou o cinema.  Ao contrário, popularizou os filmes ainda mais.  Democratizou o acesso, talvez acentuando o caráter de entretenimento mais descomprometido e o espírito do descartável, em oposição ao produto cultural de maior relevância.  Mas isso faz parte do jogo.  E já se veem serviços de streaming, VOD e lançamentos atuais em DVD mais preocupados com a história do cinema e com filmes artisticamente mais elaborados.

De qualquer modo, o cinema nunca vai morrer, as salas de cinema não vão acabar.  Pelo menos nas cidades maiores, a opção sempre estará lá.

Nos últimos anos, com a evolução tecnológica, o processo de fazer filmes e também o de distribuí-los e exibi-los tornou-se mais fácil e acessível.  A produção tem crescido, para todos os gostos.  Em São Paulo, têm sido lançados no circuito comercial dos cinemas em torno de 400 filmes por ano, mais do que os 365 dias do calendário.  E nessa conta não entram os festivais, as mostras especiais e retrospectivas.  O volume do que chega aos cinemas é muito maior.´




De repente, aquela certeza de que o cinema sempre estará lá e com novidades permanentes é atropelada por um novo coronavírus, que acaba produzindo o que parecia impossível imaginar.  Retém as pessoas em casa, fecha as salas de cinema, paralisa a produção, impede a distribuição.  Nesta semana em São Paulo, quase todos os cinemas fecharam as portas, nenhum lançamento aconteceu, todos foram adiados para um futuro ainda incerto.  E o que estava em andamento parou.  Hollywood inteira, pelo que informam.  Dá para conceber isso?  Como ficará o cinema brasileiro depois dessa crise?  Os efeitos de tudo isso na cadeia econômica devem ser imensos.  Muito triste de imaginar.

Bem, claro que não foi só o cinema ou a cultura em geral que parou.  Parece que tudo parou, a terra parou, indicando que muita coisa vai ter de mudar, daqui para a frente.  No funcionamento da vida, na relação com o meio ambiente, nas relações econômicas de produção e consumo, até no modo de ser da globalização.  Não creio que isso possa ser visto apenas como um fenômeno passageiro.  As consequências são sérias, a crise é grave.  Talvez seja a oportunidade para que a humanidade possa construir uma existência mais sustentável, a partir da compreensão e análise das vulnerabilidades globais que se apresentam.  E que sempre haja espaço para que o cinema possa nos encantar.  Sem a arte, a vida perde a graça e o sentido.