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quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Bravura Indômita

Tatiana Babadobulos

Bravura Indômita (The Grit). Estados Unidos, 2010. Direção e roteiro: Joel e Ethan Coen. Com: Jeff Bridges, Hailee Steinfeld, Matt Damon, Josh Brolin. 110 minutos

Foi em 1969, quando John Wayne interpretou o xerife beberrão Rooster Cogburn, em “Bravura Indômita” (“True Grit”), filme dirigido por Henry Hathaway. Nesta semana, porém, estreia um novo “Bravura Indômita”, refilmagem que tem assinatura dos irmãos Joel e Etha­n Coen, em uma iniciativa de fazer um filme de faroeste.

Embora os dois sejam autores de “Onde os Fracos Não Têm Vez”, que se passa no Texas, os diretores informam, no material de divulgação para a imprensa, que não o consideram um longa-metragem de western, uma vez que trata-se de uma história atual. Vá lá que eles têm razão neste aspecto, mas a estética, a história, a interpretação levam a crer que trata-se, sim, de um filme deste gênero também.

De qualquer maneira, o longa que estreia nesta sexta, 11, e que concorre a 10 indicações ao Oscar, tem uma garota de 14 anos, Mattie Ross (a estreante Hailee Steinfeld), como protagonista, e que chega a Fort Smith, no estado do Arkansas, em busca do assassino de seu pai, Tom Chaney, que o teria matado por duas barras de ouro.

Em busca de vingança, a garota oferece dinheiro ao xerife da cidade, Rooster Cogburn (nesta versão vivido por Jeff Bridges), que promete matá-lo, mas não de levá-la consigo, tal como fora acordado. Ao invés dela, porém, prefere a companhia do policial texano LaBoeuf (Matt Damon), que quer encontrar o mesmo bandido em troca de uma gorda recompensa.

Com direção e roteiro dos irmãos Coen, a fita se desenvolve de maneira lenta, mas ao mesmo tempo mostrando os detalhes desta empreitada, já que, uma vez atingido o objetivo, todos irão ganhar. O longa mostra também ótimas interpretações de Bridges, cujas pronúncias em inglês com sotaque texano são incompreensíveis, mas retratam o local em que se passa a narrativa. E a bravura da menina que não mede esforços para alcançar seus objetivos, ou seja, de ver a morte de seu pai vingada. Destaque também para o figurino e para a fotografia do longa.

“Bravura Indômita” talvez não precisasse ser refilmada, uma vez que não faz tanto tempo que foi feita (e recentemente relançada em Blu-ray), mas, mesmo assim, ter uma história contada a partir do olhar dos Coen é sempre um belo presente aos olhos. E à cabeça!

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Salt

Tatiana Babadobulos

Salt (Salt). Estados Unidos, 2010. Direção: Phillip Noyce. Roteiro: Kurt Wimmer. Com: Angelina Jolie, Liev Schreiber, Chiwetel Ejiofor , Daniel Olbrychski , August Diehl. 100 min.

Desde “Garota, Interrompida”, filme de 1999 que lhe rendeu o Oscar de Melhor Atriz, Angelina Jolie não saiu mais do foco, seja no assunto do cinema, seja em sua vida pessoal, uma vez que faz trabalhos huma­nitários principalmente na África.

Embora o papel tenha sido bastante dramático, dali pra frente é nos de ação que ela tem se destacado, como em “Lara Croft: Tomb Raider”, “Sr. & Sra. Smith” (no qual atuou ao lado do marido Brad Pitt), “O Procurado”. Sexta-feira, dia 30 de julho, ela chega aos cinemas em mais uma superprodução: “Salt”.

No thriller, ela é Evelyn Salt, uma agente da CIA que é acusada de ser uma espiã russa e que foi designada para matar o presi­dente daquele país durante sua visita em Nova York. A partir de então ela precisa proteger o marido, convencer os colegas da agência de que é inocente, mas, sobretudo, colocar em ação suas crenças e promessas sobre sempre proteger o seu país.

Depois das apresentações dos personagens, quando o espectador vai conhecer um pouco da rotina da protagonista, o diretor Phillip Noyce (“O Colecionador de Ossos”) aponta as suas lentes para a correria sem fim, explosões e o armamento para ne­nhum filme de ação botar defeito. Aliás, cenas capazes de fazer inveja a super-heróis como Ho­mem-Aranha, já que ela sobe em prédios, salta entre carros, se joga do helicóptero etc.

Escrito por Brian Helgeland (“Sobre Meninos e Lobos”), o longa-metragem leva a espio­nagem a sério, diferentemente, por exem­plo, de “Encontro Explosivo” (“Knight and Day”), no qual o astro Tom Cruise é um agente secreto e conta com ajuda de June (Cameron Diaz) para a missão. Cheio de trapalhadas, encontros românticos e bom-humor, “Encontro Explosivo” só se parece com “Salt” em uma questão: cenas forçadas, daquelas que o espectador percebe que, de fato, está na pol­trona do cinema e não envolvido com o filme. A trilha sonora alta e incessante durante os 100 minutos do longa também incomoda o espectador.

Uma curiosidade: o filme, na verdade, fora escrito para Tom Cruise, mas Angelina Jolie teve de substituí-lo pois ele teve pro­blemas na agenda e também ficou com medo de o protagonista ser muito parecido com Ethan Hunt, de “Missão Impossível”, série que deve ganhar, em breve, a quarta parte.

Se em “Encontro Explosivo” há apelo tanto para o público mas­culino quanto feminino (por conta, é claro, dos atores principais e por lembrar uma comédia romântica), “Salt” é muito mais um filme indicado aos rapazes, já que reúne ação, explosões e, claro, a bela e sexy Angelina Jolie.

Nas bilheterias norte-americanas, praça onde o filme estreou no último final de semana, porém, a abertura não foi tão bem assim. Isso porque ficou em segundo lugar, atrás de “A Origem” (“Inception”), longa que estreia dia 6 de agosto no país.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

À Prova de Morte


Tatiana Babadobulos

À Prova de Morte (Death Proof). Estados Unidos, 2007. Direção e roteiro: Quentin Tarantino. Com Kurt Russell, Zoe Bell, Rosario Dawson, Vanessa Ferlito, Rose McGowan. 114 min.

Apresentado aos cinéfilos de plantão que se acotovelaram para conseguir um ingresso durante a 30ª Mostra Internacional de São Paulo, realizada em 2007, o filme “À Prova de Morte” (“Death Proof”), de Quentin Tarantino, finalmente vai estrear nos cinemas brasileiros. Após tanto tempo, o filme até virou motivo de chacota, quando a referência era um filme que demorava (literalmente) anos para entrar em cartaz.

A princípio, sua estreia fora prometida para março de 2008, mas começou a ser postergado até o fim de 2009, quando o diretor havia anunciado a sua vinda ao Brasil para o lançamento do grande sucesso "Bastardos Inglórios" se sentir cansado, Tarantino não veio e seu filme foi, novamente, para a gaveta. Após a mudança de distribuidor, uma vez que o filme pertencia à Europa Filmes, a PlayArte vai colocá-lo no circuito a partir desta sexta-feira, 16 de julho.

Nos Estados Unidos, onde o filme foi produzido, por exemplo, foi exibido nos cinemas ao lado da obra de Robert Rodriguez, “Planeta Terror” (filme que estreou no Brasil ainda em 2007, após a Mostra). Os dois, juntos, formaram o projeto “Grindhouse”.

Mas vamos ao que interessa. Na fita, Stuntman Mike (Kurt Russell) é um ex-dublê de corridas de carros em Hollywood que persegue mulheres com seu carro “à prova de morte”. Mas é no Texas que ele começa a seguir um grupo de mulheres conhecidas: a DJ e modelo Jungle Julia (Sydney Tamiia Poitier), que está saindo com suas amigas para a balada, a modelo Arlene (Vanessa Ferlito), a bad-girl Shanna (Jordan Ladd) e a hippie Pam (Rose McGowan). Depois do Texas, ele segue para o Tennessee, onde escolhe outro grupo de mulheres, todas que atuam no cinema: a maquiadora e figurante Abernathy (Rosario Dawson), a atriz (Mary Elizabeth Winstead), a dublê Kim (Tracie Thoms) e a também dublê Zoe (Zöe Bell), que vive na Nova Zelândia.

Mais uma vez, Tarantino, que é autor do roteiro, brinca com a câmera, abusa dos planos-sequências que o consagraram como diretor, principalmente após "Pulp Fiction – Tempo de Violência" (1994). A violência também é outro fator marcante na fita, tal como em "Kill Bill", volumes um e dois, produzidos respectivamente em 2003 e 2004, e novamente em “Bastardos Inglórios”.

Destaque para a atuação de Kurt Russell, que usa, na mesma proporção, seu charme para convencimento e seu sarcasmo para conquistar, seduzir e provocar medo entre as mulheres escolhidas.

Uma das cenas mais marcantes da fita e que valem destaque é a sequência na qual uma das mulheres é ameaçada de morte enquanto está no capô do carro. Ainda que a história seja bastante violenta, só esta sequência já vale o ingresso do cinema, principalmente para os fãs do diretor. Imperdível!

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Toy Story 3

Tatiana Babadobulos

Toy Story 3. Estados Unidos, 2010. Direção: Lee Unkrich. Roteiro: Michael Arndt. Com vozes de Tom Hanks, Tim Allen. 103 min.

É inevitável: um dia as crianças crescem e os seus brinquedos precisam de um destino. Eles podem ficar de herança para o irmão ou irmã mais novo, podem ser dados a alguém da família ou doados a um orfanato. Há ainda os adultos que crescem, mas ainda conservam alguns de seus melhores brinquedos como recordação de uma época incrível ou até mesmo para, quem sabe, dar ao herdeiro que um dia pode chegar.

E é exatamente este o enredo de “Toy Story 3”, longa-metragem de animação que estreia nesta sexta-feira, 18. Os brinquedos que ganham vida quando os donos viram as costas, criados por John Lasseter em 1995 (e que marcou a história do cinema de animação, uma vez que foi o primeiro longa feito totalmente por computador, ou seja, em três dimensões), ganha agora a terceira sequência, sendo desta vez também em 3D (que necessita de uso dos óculos especiais).

Na trama, dirigida por Lee Unkrich (codiretor de “Toy Story 2” e “Procurando Nemo”) e com roteiro de Michael Arndt (a partir de argumento de Lasseter, Unkrich e Andrew Stanton), o cowboy Woody (dublado por Tom Hanks, na versão original), convoca os amigos Buzz Lightyear (dublado por Tim Allen), Senhor e Senhora Cabeça de Batata e toda a turma para ver como chamar a atenção de Andy, o garoto que os ganhou na infância mas agora, se prepara para ir para a faculdade. Sua mãe, então, sugere que ele e sua irmã, uma adolescente que fica ouvindo música em seu iPod, separem os brinquedos que não querem mais para levar para outras crianças, ou seja, para uma creche. A partir de então, começa a diversão e a correria, pois os brinquedos (que atualmente vivem dentro de um baú) vão tentar achar um jeito de continuar com os donos que tanto amam.

Há, claro, os mesmos personagens das dus histórias anteriores, mas há os novos, que são apresentados ao decorrer da trama, como Barbie e o Ken, que protagonizam cenas hilárias. Ken, aliás, faz o tipo metrossexual exagerado, ou seja, fica naquela linha tênue que separa o homem que gosta de se cuidar do homessexual. Há também ursos de pelúcia.

Mais uma vez, a Pixar (que foi comprada pela Disney em 2006) acerta a mão e apresenta um longa-metragem embasado na verossimilhança. Ainda que seja um absurdo os brinquedos saírem andando e conversando, as cenas convencem, basta ter imaginação. O humor vem em pitadas generosas e é capaz de agradar crianças e adultos, já que esses também um dia tiveram seu brinquedo favorito e com certeza vão se lembrar daquele boneco que não quiseram dar.
Uma vez, John Lasseter contou que a ideia de fazer um filme com os brinquedos que ganham vida partiu do momento em que viu o que as crianças faziam com seus bonecos: colocavam na boca, jogavam no chão etc. E, se no primeiro filme, havia um menino que maltratava os bonecos, tirava suas cabeças etc., aqui podem ser vistas cenas parecidas.

“Toy Story 3” é um filme sensível, que mistura uma boa história, alta tecnologia, mas também mexe com o emocional das pessoas. Há pelo menos duas sequências fortes, nas quais pode-se dizer que foram feitas para que o espectador chore. A música tensa ajuda a criar o clima e o resultado é bem-sucedido.

Ainda que o longa tenha versões em 3D (como a que eu assisti), é só uma questão de profundidade que se altera, pois não há cenas que ultrapassam os limites entre a tela e a plateia. A não ser para o bolso, uma vez que o ingresso para a versão 3D é mais caro que a tradicional, acredito que o espectador que assistir à versão 2D não deve ter prejuízo em qualidade de imagem. Prepare o lenço, pegue as crianças e boa diversão!

segunda-feira, 10 de maio de 2010

O Mundo Imaginário do Doutor Parnassus

Tatiana Babadobulos

O Mundo Imaginário do Doutor Parnassus (The Imaginarium of Doctor Parnassus). Reino Unido, Canadá, França, 2009. Direção: Terry Gilliam. Com Heath Ledger, Johnny Depp, Jude Law, Colin Farrell, Christopher Plummer, Verne Troyer, Andrew Gar­field, Tom Waits, Lily Cole. 123 min.

Ainda que a morte de Heath Ledger, em janeiro de 2008, tenha atrapalhado um pouco o lançamento e a finalização do filme “O Mundo Imaginário do Doutor Parnassus” (“The Imaginarium of Doctor Parnassus”), a fita teve algumas exibições durante a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, no ano passado, mas dia 7 estreia no circuito de cinema.

A aventura se passa na Londres dos dias atuais e Parnassus (Christopher Plummer) possui um espetáculo itinerante, o Imagina­rium, que vai de um lugar para o outro a fim de inspirar a imaginação das pessoas. Sua companhia de teatro, composta pelo sarcástico Percy (Verne Troyer) e pelo mágico do baralho Anton (Andrew Gar­field), Parnassus ofe­rece ao pú­blico a possibilidade de entrar em um universo repleto de imagina­ção com a ajuda de um espelho.

Porém, depois de receber a imorta­lidade e a juventude concedidas pelo diabo, senhor Nick (Tom Waits), chegou a hora de Parnassus lhe entregar o que lhe prometera: sua filha Valentina (Lily Cole), que vai fazer 16 anos.

Heath Ledger faz o papel de Tony, um forasteiro charmoso e misterioso pelo qual Valentina se apai­xona. No entanto, para driblar a sua falta, o roteiro foi modificado durante as filmagens e ele co­meça a aparecer com outras perso­nalidades e, portanto, vividas por outros atores: Johnny Depp, o irlandês Colin Farrell e o inglês Jude Law. E é justamente Tony quem vai tirar satisfação com Nick para salvar a moça. Para tanto, ele envolve outras persona­gens caricatas, que serão convencidas a conhe­cer o outro lado do espelho e ser mais uma presa para o diabo.

A fita se passa pelas ruas de Londres e mostra muitos locais tu­rísticos da capital inglesa, como a ponte da Torre de Londres, a Ca­tedral Southwar, o Leadenhall Market, o rio Tâmisa.

“O Mundo Imaginário do Dou­tor Parnassus”, dirigido por Terry Gilliam (de “Os 12 Macacos”), ga­nha pontos com o seu visual colorido, cheio de efeitos especiais, maquiagem e figurino, e por conta da interpretação dos atores. Mas é nítida a mudança do roteiro e pode entediar um pouco o espectador no iní­cio, pois a his­tória é lenta e demora a desenrolar e prender a atenção do público. Se você conseguir ficar até o final, vai valer a pena.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Tudo Pode Dar Certo

Tatiana Babadobulos

Tudo Pode Dar Certo (Whatever Works). Estados Unidos, 2009. Direção e Roteiro: Woody Allen. Com Larry David, Evann Rachel Wood, Patricia Clarkson, Ed Begley Jr. 92 min.

Diretor conhecido por filmar sempre perto de sua casa, em Nova York, Woody Allen quebrou a rotina quando realizou quatro filmes seguidos na Europa, sendo três na Inglaterra e um na Espanha [respectivamente “Ponto Final – Match Point” (2005), “Scoop – O Grande Furo” (2006), “Sonho de Cassandra” (2007) e “Vicky Cristina Barcelona” (2008)]. Como produz praticamente um filme por ano desde 1965, o último que fez e que chega ao Brasil é “Tudo Pode Dar Certo” (“What­ever Works”). Nesta produção, portanto, Woody Allen retorna ao lar e faz de sua cidade preferida o pano de fundo, ou melhor, uma outra personagem para a sua história. Retorna, também, à comédia, seu gênero preferido – embora tenha feito muitos dramas ultimamente.

Na fita que ele dirige e escreve, o protagonista é Boris Yellnikoff (Larry David), um aposentado que um dia ganhou um Prêmio Nobel em mecânica quântica por seu trabalho e vê sua liberdade ameaçada, depois de já ter se divorciado. Isso porque uma jovem ingênua, Melo­dy (Evann Rachel Wood), chega a Big Apple vinda do sul do país e, como não tem onde passar a noite, pede a ele para ficar um dia em seu sofá. No entanto, os dias vão se estendendo, até que ambos começam a conviver mesmo com a grande diferença de idade e todas as manias que Boris possui e das quais não abre mão (como a incessante necessidade de lavar as mãos e cantar ao mesmo tempo). Para rechear ainda mais a história, há o envolvimento de outros personagens, como os pais da menina (Patricia Clarkson e Ed Begley Jr.) e os amigos de Boris.

O longa-metragem mostra as características do diretor, principalmente na abertura (o mesmo tipo de letreiro em preto-e-branco), a orientação urbana de filmar (sempre incluindo apartamentos, cafés, restaurantes, ruas de Nova York e longos passeios pela cidade enquanto a câmera o acompanha em plano-sequência), diálogos longos e bem construídos e, sobretudo, um bom humor sarcástico e impagá­vel. Para completar, a maneira preconceituosa de tratar as pessoas, sempre se achando mais inteligente e superior a todos.

Boris é o alterego de Woody Allen, um ranzinza nato que reclama de tudo e tem aversão a badalações. Segundo ele mesmo conta, gosta mesmo é de assistir aos seus jogos de basquete e torcer para os Knicks, tocar seu clarinete e ficar com os filhos. Outra semelhança entre o roteiro e o diretor é que Woody também é casado com uma jovem cerca 30 anos mais nova que ele.

No meio dos diálogos, Allen insere o nome do longa-metragem em diversas situações, faz seu protagonista olhar para a câmera, como se estivesse falando diretamente ao espectador (e finaliza a fita desta maneira, refletindo se sobrou alguém na plateia – uma vez que seus filmes não costumam fazer sucesso e render muitos milhões nas bi­lheterias, mas possui o público cativo e Allen sempre alegou que faz filmes para se divertir). Entre as discussões, há a religião e fala também dos judeus (ele, aliás, é judeu). Há discussão sobre o cinema, o Oscar e, quando Boris liga a televisão, começa a assistir a um filme estrelado por Fred Astaire.

“Tudo Pode Dar Certo” não é o melhor filme de Woody Allen, mas com certeza reserva ao espectador momentos de bastante reflexão, descontração e divertimento com direito a pia­das inteligentes – acima da média de outras produções cinematográficas. Uma expe­riência que, sem dúvida, vale a pena – e o ingresso do cinema.

domingo, 25 de abril de 2010

Alice No País das Maravilhas


Tatiana Babadobulos

Alice No País das Maravilhas (Alice in Wonderland). Estados Unidos, 2010. Direção: Tim Burton. Com Johnny Depp, Mia Wasikowska, Helena Bonham Carter, Anne Hathaway. 108 min.

É comum diretores e atores trabalharem juntos em várias produções, principalmente quando o resultado é positivo. Basta lembrar de Woody Allen e Diane Keaton e Scarlett Johansson; Paul Greengrass e Matt Damon. E vários outros. Pela sétima vez, o diretor Tim Burton escala o ator Johnny Depp para protagonizar o seu filme. Depois de “Edward, Mãos de Tesoura” (1990), “Ed Wood” (1994), “A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça” (1999), "A Fantástica Fábrica de Chocolate" (2005), “Sweeney Todd – O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet” (2007), além da animação em stop-motion “A Noiva Cadáver” (2005), no qual um dos perso­nagens tem a voz dublada pelo ator, os dois estão juntos em mais uma produção com personagem estranho e nada convencional no longa-metragem “Alice no País das Ma­ravilhas” (“Alice in Wonderland”).

No épico de aventura e fantasia, Depp é o Chapeleiro Maluco que vive no mundo subterrâneo onde Alice (Mia Wasikowska) vai parar, já adulta, quando foge do pedido de casamento, uma vez que não concorda com a aristocracia inglesa onde vive. Como já esteve no local na infância, ela reencontra os amigos Coelho Branco (com voz de Michael Sheen), os irmãos Tweedledee e Tweedledum (Matt Lucas), Domindongo (voz de Barbara Windsor), a Lagarta (voz de Alan Rickman), o Gato Risonho (voz de Stephen Fry). Durante o passeio naquele mundo, Alice terá de encontrar seu destino e acabar com o reino de terror da Rainha Vermelha (Helena Bonham Carter), que sempre ordena que a cabeça de quem quer que seja e que atrapa­lhe o seu caminho seja cortada, e recuperar a espada da Rainha Branca (Anne Hathaway).

Embora a história já seja conhecida, uma vez que é baseada nos livros de Lewis Carroll, o longa criado por Tim Burton apre­senta um show de imagens coloridas (que poderão ser vistas nas versões 35 mm, 3D e Imax 3D, em um total de 400 cópias, sendo 80% dubladas e 20% legendadas), mas sem deixar que o visual sobreponha a história ou a interpretação competente dos atores ao vivo e das animações que se misturam com os reais.

Mesmo que a história tenha sido escrita por Carroll no final do século 19, permanece interessante até hoje, uma vez que tanto as personagens como toda a mise-en-scène mexe com a imaginação das pessoas e discute sobre amadurecimento e escolhas. Este, portanto, é um dos motivos de o conto de fadas permanecer vivo. E com a opção em três dimensões, ou seja, com o uso dos óculos especiais, o show de imagens fica ainda mais incrível.

Como não podia ser diferente, há a luta do bem contra o mal, mas mesmo as personagens boas são caricatas. Esse tipo, vale lembrar, é a especialidade da dupla Burton-Depp. O que se vê na tela, portanto, é uma reunião de esquisitices, um colorido sem fim, mas sobretudo uma história bem contada com um visual incrível.

Se Johnny Depp incorpora com des­treza seu personagem, assim como Helena Bonham Carter está impagável, o mesmo não acontece com a atriz responsável pela protagonista – lhe falta carisma. E não convence o espectador, é artificial demais.

Apesar dos problemas da fita, “Alice no País das Maravilhas” tem agradado, pois já conquistou, nos Estados Unidos, a maior bilheteria de abertura (de um filme que não é sequência) de todos os tempos, arrecadando US$ 116,3 milhões. Os investimentos de marketing, obviamente, contribuem para esse buchicho (até mais que a qualidade do filme, vale di­zer), e a história não vive apenas dentro da tela, mas também fora dela.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

A Riviera Não É Aqui


Tatianna Babadobulos

A RIVIERA NÃO É AQUI (Bienvenue chez les Ch'tis). França, 2008. Direção: Dany Boon. Com: Kad Merad, Dany Boon, Zoé Félix. 106 min.

Demorou um pouco para che­­­gar aqui. Filmado em 2007 e exibido na França (e na Europa, de maneira geral) em 2008 e 2009, o longa-metragem A Ri­viera Não É Aqui” chega ao Brasil em uma estreia tímida, em quatro praças. Em São Paulo, as exi­bições são ape­nas no circuito digital, ou se­ja, nos cinemas Arteplex Frei Ca­ne­ca, Es­pa­ço Unibanco Pom­péia (Shop­ping Bourbon), Cinema da Vila (rua Fradique Cou­tinho) e Cine Bombril (Cojunto Nacio­nal).

Se o Brasil não trata esta produção com entusiasmo, saiba que os franceses (por motivos óbvios, é claro) prestigiaram o filme so­bre um gerente dos Correios que é transferido para o norte do país. Isso porque a fita, que teve o or­ça­mento de 11 mi­lhões de euros, arrecadou, no fi­nal de semana de abertura, mais de 20 milhões de euros (segundo o IMDB – In­ter­net Movie Data­base). De acordo com o material de divulgação pa­ra a imprensa, o filme já rendeu na bi­lheteria mais de 180 milhões de euros naquele país e continua contabilizando. Esse foi, portanto, o filme francês de maior su­cesso de bilheteria. Talvez seja o equivalente ao nosso “Se Eu Fosse Você 2” que, embora não seja lá um gran­de filme, agradou ao pú­blico e rendeu na bilheteria.

O que mais se deve a este su­cesso é que o longa-metragem aborda as diferenças existentes den­tro do mesmo país (França), as questões culturais e, sobretudo, linguística. E em um território imenso como é a França, não po­deria ser diferente. Vide o caso do Brasil e as diferenças existentes entre as regiões Norte, Sul, Su­­deste, Centro-Oeste, Nordes­te.

Morador de Salon-de-Pro­ven­­­ce, uma cidade localizada no sul da França, Philippe Abrams (Kad Merad) é gerente dos Correios (va­le lembrar que “La Poste” também faz as ve­zes de banco), mas luta para ser transferido para a Riviera Fran­cesa, local banhado pelo mar Medi­terrâneo e considerado um dos mais belos do mundo. No entanto, sua esposa, Julie (Zoé Félix), vive em de­pressão e ele acredita que a mudança fará bem a ela e ao seu casamento. No entanto, ele mente em sua carta de transferência e coloca tudo a perder. Co­mo punição, é enviado para Ber­gues, cidade localizada ao norte da Fran­ça, em Nord-Pas-de-Ca­lais. Por conta do clima (e da fa­ma), ninguém que mora ao sul quer viver lá. A partir de então, sua vida começa a virar um inferno, pois sua esposa não pensa em ir junto.

Além do clima, existe o dialeto, o “picardo”, difícil de se en­tender e que será um dos motivos da graça. O nome original do fil­me, “Bienvenue Chez les Ch'tis”, tem a ver com a maneira como esse dialeto é conhecido lá (ch'tis).

A comédia “A Riviera Não É Aqui” é dirigida e escrita por Danny Boon, que também atua no longa-metragem. Ele é An­toine Bailleul, o carteiro que vai recepcionar o novo gerente, e in­cluí-lo no ambiente familiar. O roteiro, aliás, é bastante pessoal, uma vez que Boon é nativo da­quela região e sempre achou que as pessoas olham o local com preconceito e desdém por, principalmente, não conhecer o am­biente. O filme, então, é dedicado a sua mãe.

A câmera de Danny Boon faz um travelling, no início, pelas pelas paisagens do mediterrâneo e a abertura faz uma brincadeira pelo mapa: bem divertido.

Não bastassem as boas atuações dos atores (Kad Merad está impagável!), o público ri principalmente por conta dos trocadilhos do idioma, pelo trabalho que fazem e “enchem a cara” a convite dos moradores (principalmente para se aquecer do frio).

“A Riviera Não É Aqui” é um longa que apresenta uma evolução bem pontuada dos personagens, é humano, faz rir, mas sem ser uma comédia pastelão. Além de le­ve, sua maior virtude, po­rém, é não ser pretensioso, nem arrogante. E por isso o fil­me se torna belo e imperdível.

Em tempo: não saia do cinema antes dos créditos finais. Os erros de gravação são bem divertidos!

quarta-feira, 31 de março de 2010

Os EUA x John Lennon


Tatianna Babadobulos

Os EUA x John Lennon (The U.S. vc. John Lennon). Estados Unidos, 2006. Direção: David Leaf e John Scheinfeld. 95 min.

Documentários não são o forte das salas de exibição no Brasil, por exemplo. Talvez este seja apenas um dos motivos pelos quais o longa-metragem Os EUA x John Lennon chega apenas agora, dia 2 de abril, aos cinemas de São Paulo e do Rio de Janeiro, após ser exibido na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo de 2006, justamente o ano de produção do filme.

A fita é uma verdadeira retrospectiva da história do ex-Beatle John Lennon e sua luta pela paz nos Estados Unidos, em plena Guerra do Vietnã. O documentário conta uma história paralela àquele país, mostrando a luta pelos direitos civis, a decepção com o governo Nixon, o memorável caso Watergate.

Durante o filme, o espectador poderá conhecer algo mais que aquele membro dos Beatles (ao lado de Paul McCartney, Ringo Starr e George Harrison) fazia fora dos palcos, e que ele não era apenas um dos precursores do “iê-iê-iê”. Sua banda de rock continua fazendo sucesso e é uma das mais famosas do mundo, mesmo que tenha acabado nos anos 1970. Na tela, ele surge como uma pessoa de princípios, um jovem carismático que se recusa a ficar calado frente às injustiças.

A contra partida é quando retrata o governo dos Estados Unidos, representado por Richard Nixon (impossível não se lembrar de George W. Bush), e a perseguição por conta de seu visto americano até a obtenção do green card, uma vez que John Lennon era inglês. Isso porque o governo tentou silenciá-lo e expulsá-lo do país.

Dirigido por David Leaf e John Scheinfeld, o documentário mostra imagens políticas e ativistas daqueles anos (1966/ 1976) e depoimentos atuais, entre outros, de Yoko Ono, a viúva do músico, que apresenta ainda mais seu engajamento. “De todos os documentários já feitos sobre John Lennon, este é o que ele amaria”, disse ela.

A trilha sonora, como não podia deixar de ser, é repleta das suas músicas, um verdadeiro deleite para os amantes da bandas. A ênfase fica a cargo de “All we are saying is give peace a chance”, trecho da canção “Give peace a chance”.

Com direção e roteiros impecáveis, o filme merece ser visto e respeitado, principalmente pela pesquisa de imagens, edição bem feita e história do nosso tempo.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Ilha do Medo

Tatiana Babadobulos

Martin Scorsese, em mais uma parceria com Leonardo DiCaprio no papel principal, tal como aconteceu em “Gangues de Nova York”, “O Aviador”, “Os Infiltrados”, traz às telas o suspense “Ilha do Medo” (“Shutter Island”).

O longa-metragem conta a história do agente Teddy Daniels (DiCaprio) que, ao lado do parceiro Chuck Aule (Mark Ruffalo, de “Ensaio Sobre a Cegueira”), vai tentar desvendar o mistério sobre o desaparecimento de uma mulher em Shutter Island, um local onde funciona um hospital psiquiátrico (e onde estão detidos pacientes considerados perigosos pela justiça).

No auge da Guerra Fria, nos anos 1950, os dois agentes da polícia federal terão de enfrentar problemas maiores do que estava imaginando.

Adotando o estilo noir, com cenas sombrias e com protagonistas que vivem em um mundo cínico, o filme é cheio de jogos psicológicos que vão deixando o espectador cada vez mais em dúvida sobre onde se quer chegar ao final da história. O clima de suspense, digno de Alfred Hitchcock (o clássico “Vertigo”?) vai aumentado ainda mais com a música incidental.

No hospital, onde os policiais ficarão alguns dias até encontrar a pessoa que fugiu, há pessoas igualmente assustadoras, que cometeram crimes e estão em fase de tratamento e cumprindo pena.

As cenas se passam na ilha, sempre acompanhada de mau tempo, com tempestades, ventos, chuva; ou dentro do hospital, com cenas escuras, pacientes estranhos e os próprios agentes da polícia criando problemas, suspense, intriga entre os médicos, como com doutor Cawley (Ben Kingsley) e outros pacientes.

Em flashback, Teddy (cuja interpretação de DiCaprio é bastante convincente, principalmente por conta da ansiedade e da esquizofrenia) vai lidando, ao mesmo tempo, com o seu passado, com sua esposa, Dolores (Michelle Williams), e o que aconteceu de lá pra cá. São alucinações, paranoias que vão surgindo aos poucos e aumentando o suspense.

Baseado no livro de Dennis Lehane (“Paciente 67”), “Ilha do Medo” é altamente provocador, que o tempo inteiro faz um jogo e deixa o espectador atento às mudanças de comportamento dos personagens, suas atitudes, e o faz imaginar o que está acontecendo, podendo torcer ora para o médico, ora para o paciente.

Ao final, muitos vão se perguntar como não notaram, nas sutilezas das cenas, os indícios sobre o desfecho. Sob a batuta do mestre Scorsese (especialista em blockbuster, mas que ultimamente tem se contentado com filme que não seja o típico arrasa-quarteirão, o que não é sinônimo de má qualidade, que fique claro), “Ilha do Medo” é uma excelente produção, um filme de gênero que reúne elenco de primeira linha, acompanhado de figurino de época para situar o tempo, efeitos especiais para criar o clima tenso, bom roteiro e, voilà, direção impecável.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Educação

Tatiana Babadobulos

Nick Hornby é um apaixonado por música, literatura e, vá lá, cinema. Entre outros, é autor do romance "Alta Fidelidade", cujo livro ganhou as telas e fez muito sucesso com o protagonista vivido por John Cusak, viciado em "top 5", ou seja, em tudo o que fala ou pensa, inclui uma lista com cinco itens. Desta vez, ataca de roteirista. A partir do texto autobiográfico da jornalista Lynn Barber, publicado na revista literária "Granta", sobre seu primeiro namorado, Hornby escreveu o roteiro de "Educação" ("An Education"), longa-metragem que estreia após receber três indicações ao Oscar 2010 (melhor filme, atriz, roteiro adaptado).

Na Inglaterra dos anos 1960, a adolescente Jenny (Carey Mulligan) vive sufocada com os estudos e com a pressão do pai autoritário (Alfred Molina), que a obriga a estudar latim para ingressar em Oxford, embora ela goste mesmo de francês e queira ir a Paris ver filmes, ler livros, ouvir os cantores franceses, fumar seus cigarros, vestir roupas pretas, uma vez que, do outro lado do Canal da Mancha, o mundo lhe parece mais livre que na imensa ilha que habita. Para ela, o mundo perfeito tem nome: Paris.

O marasmo começa a mudar quando, ao sair da aula de violoncelo, ela conhece David (Peter Sarsgaard), um bon vivant mais velho que ela e faz "negócios" com obras de arte. Como entende de música clássica (e pode levá-la a concertos e a frequentar os mesmos locais da nata londrina), ela aprende a apreciar restaurantes, deixa de lado os estudos e, com as amigas da escola, compartilha de suas experiências (inclusive o sexo, que, segundo ela, "Todas essas poesias, e todas aquelas canções, sobre algo que leva tão pouco tempo?).

Nesta transição, portanto, ela vai aprender que a tal educação não está apenas nos livros, embora a escola não possa ser menosprezada, pois a professora e a diretora têm algo a ensinar. E é essa vida cheia de ilusões que ela quer.

Com direção da dinamarquesa Lone Scherfig, "Educação" discute os problemas da vida no Reino Unido da época, uma vez que tinha ficado para trás, se comparado aos Estados Unidos e à França e cuja população preza pela "liberdade, igualdade e fraternidade". O espectador vai se confrontar também com as atitudes do pai que, ao mesmo tempo que quer mandar, é medroso e não se sente confortável em ir para a França por não ter, por exemplo, o dinheiro daquele país, uma vez que naquele período pós-Segunda Guerra Mundial, tratava-se de um transtorno o câmbio de moedas.

Como foi inspirado no primeiro namorado de Lynn Barber, a fita retrata o que compõe o primeiro amor: apresentar à família, conhecer os amigos, apreciar os locais e as coisas pela primeira vez, ainda que o rapaz já o tenha feito antes. Para ela, desfrutar dessas maravilhas tem os lados bom e o ruim. E isso o filme também mostra.

O filme traz figurino e o retrato de uma Londres fria e cinzenta dos anos 1960 e trilha sonora (bem escolhida, aliás!) para o espectador apreciar e sintonizar os costumes, as pessoas, os amores. "Educação" reflete a juventude de hoje, ainda que não sob as mesmas circunstâncias e sob os mesmos aspectos. No entanto, é possível, sim, se identificar com a personagem, ainda que, aparentemente, os pais não exerçam hoje em dia tanta influência nas escolhas dos filhos como há 40 anos.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Amor Sem Escalas

Tatiana Babadobulos

Se o livro "Up in the Air", de Walter Kirn, não tivesse sido lançado em 2001, poderíamos pensar que o roteiro para o filme homônimo (mas que no Brasil está sendo chamado de "Amor Sem Escalas") foi escrito especialmente para um ator: George Clooney.

Ora, quem acompanha a carreira e um pouco que seja de sua vida pessoal sabe que se trata de um bon vivant de 48 anos, solteiro, que talvez nem pense em se casar. Assim é Ryan Bingham, personagem vivido por Clooney neste longa-metragem. Ao invés de ser ator e viajar por conta das filmagens, Ryan é executivo de uma empresa e sua função é viajar por todas as cidades dos Estados Unidos para demitir pessoas. Ou seja, ele é pago por empresas que terceirizam seu "trabalho sujo", que é encarar um funcionário de alguma instituição para demiti-lo, sem comentar os motivos.

Embora a fita não situe o espectador da época em que se passa, é fácil perceber que enfoca um período de crise econômica e, claro, pós-11 de setembro. E para escolher os personagens que vão interpretar os que foram demitidos, foi realizada pesquisa com diversas pessoas que passaram pelo drama. De fato, parece real. A maneira como esses depoimentos são mostrados na tela pelo diretor Jason Reitman (de "Juno") parece um documentário.

Um trabalho como esse (o de demitir pessoas), portanto, não poderia ser feito por alguém senão por uma pessoa que não se apega a nada: seja família, casa ou amor. Como diz o personagem, sua casa é no ar, pois ele se sente bem voando entre um destino e outro carregando apenas uma mala de mão, que é capaz de arrumar em minutos.

Além de demitir pessoas, seu trabalho consiste em fazer palestras motivacionais. E uma das coisas interessantes, já que faz analogia da vida de cada um como se fosse uma mochila, é que o espectador pode começar, sem prestar atenção, a fazer os exercícios que o personagem ensina na tela, colocando na mochila o que é essencial em sua vida e sentindo o peso dela nas costas. Ou que é preciso esvaziar a mochila antes de enchê-la novamente. Simples.

Em uma das viagens, Ryan conhece o que seria, aparentemente, sua versão feminina (ao decorrer da fita, porém, veremos outra coisa). Isso porque Alex (Vera Farmiga) é uma executiva que vive em Chicago e passa boa parte de seus dias viajando. Depois do primeiro dia, os dois começam a trocar o itinerário de suas agendas para se encontrarem casualmente em algum hotel. Uma das cenas mais bizarras que protagonizam juntos é quando ambos começam a disputar quem tem mais cartões fidelidade que o outro, além de trocarem experiências sobre o assunto. Ryan, aliás, tem a meta de chegar a 10 milhões de milhas voadas e ser o sétimo passageiro a conseguir o feito.

Seu destino começa a querer mudar, porém, quando seu chefe contrata uma funcionária, Natalie (Anna Kendrick), que criou uma maneira de demitir os funcionários via internet, em vez de gastar dinheiro com passagens aéreas, hotéis, aluguel de carros etc. A partir de então, ele vai carregá-la a tiracolo e mostrar como faz para não ter apego a nada.

Sobre demissões, o diretor Lars von Trier mostrou no filme "O Grande Chefe", quando o dono de uma empresa pretende vendê-la, mas para não mostrar aos seus funcionários seu caráter, precisa de um chefe fictício e, então, contrata um ator para desempenhar o papel do big boss para levar a culpa de mau caráter.

Clooney, que vem se tornando melhor ator a cada produção, mergulha de cabeça neste filme e mostra que está bem à vontade no papel. A cada cena, convence o espectador sobre sua opção, além de mostrar confiança ao funcionário que está demitindo. Afinal de contas, ele vai lá, se apresenta, dispensa a pessoa e lhe entrega um manual sobre os procedimentos a serem seguidos. Daí pra frente, nunca mais verá o demitido e segue para demitir outros, e outros.

A química com Vera funciona e ambos têm o timing perfeito para o roteiro que, além de ser um leve drama, tem um pouco de humor. Sem citar o nome, a fita faz uma referência à produção francesa "O Fabuloso Destino de Amélie Poulain", quando a protagonista pede a uma amiga para fotografar seu duende em diversos locais.

Além de discutir sobre o desapego, "Amor Sem Escalas", escrito a quatro mãos por Jason Reitman e Sheldon Turner, coloca em questão relacionamentos, principalmente quando Natalie pergunta por que Ryan não pensa em se casar e pede para ela convencê-lo do contrário. Então, ele afirma que o matrimônio é dispensável para o estilo de vida que escolheu. A fita retrata também de maneira sensível o momento em que vivemos, os avanços tecnológicos e as falhas de comunicação. "Amor Sem Escalas" é para ver e depois refletir, é para desfrutar das belas cenas, dos ensinamentos do protagonista, de se identificar com a história. E depois tocar a vida e sempre se questionar sobre o porquê das coisas.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Sempre ao Seu Lado

Tatiana Babadobulos

Filmes sobre a convivência com cachorros há aos montes no cinema, basta lembrar de "Lassie", "Beethoven", do recente "Marley & Eu", e assim por diante. A história real de "Sempre ao Seu Lado" ("Hachiko: A Dog's Story") aconteceu na década de 1930, no Japão. Esta é a segunda adaptação da narrativa que se passa integralmente do outro lado do mundo, nos Estados Unidos. A primeira versão, "Hachiko Monogatari" (de 1987), é japonesa e foi sucesso de bilheteria. Agora, quem dirige a fita estrelada por Richard Gere é o sueco Lasse Hallström (o mesmo de "Chocolate").

Hachiko, ou Hachi, como é chamado pelo dono, significa o número 8, equilíbrio entre o céu e a terra, mas é também o nome do cachorro da raça akita que é adotado na estação de trem por Parker (Gere), um professor universitário que faz o mesmo caminho entre sua casa e a estação todo santo dia. Seu fiel cachorro o acompanha pela manhã, retorna para casa e, no horário em que ele volta, lá está ele pontualmente à sua espera, pronto para levá-lo para casa, haja chuva, sol ou neve.

Durante os dias em que Hachi vai ao encontro do dono, faz amizade com as pessoas em volta, com o bilheteiro, com o maquinista, com o vendedor de cachorro-quente. E sempre leva um pouco de comida durante sua passagem em frente a um restaurante. Nesses passeios, a câmera de Hallström mostra o ponto de vista do cachorro, que vai descobrindo coisas novas.

"Sempre ao Seu Lado" é uma história sobre o relacionamento familiar, sobre lealdade e cuidado dos animais, sobre convivência. Trata-se de uma narrativa simples (e um pouco repetitiva em alguns momentos, mas justificável), que se passa basicamente dentro da casa onde vive o personagem de Gere e a estação de trem onde ele encontra o cão diariamente. Contudo, é minuciosamente bem elaborada, principalmente para não cair no sentimentalismo exagerado, uma vez que a história, por si só, já é emocionante o suficiente para mexer com o espectador. Um dos pontos altos da fita (que eu não vou contar) mostra que a forte ligação entre o cão e o seu dono está além de qualquer outra influência (e porque muitas coisas se justificam).

"Sempre ao Seu Lado" é uma história real, cuja repercussão no Japão rendeu a Hashiko três estátuas de bronze, sendo uma delas na "Saída Hachi", na Estação de Trem de Shibuya, em Tóquio. Richard Gere faz o papel de um personagem emotivo, que se envolve com o cão facilmente, e o adota para não deixá-lo sozinho, mesmo a contragosto da esposa, vivida por Joan Allen.

A história do cão e seu dono rendeu matérias nos jornais da época, fazendo com que Hashiko se tornasse o centro das atenções no Japão. A primeira estátua foi erguida em abril de 1934 e o cão morreu em 8 de março do ano seguinte, mas sua história não foi esquecida nem após a Segunda Guerra Mundial, já que, em 1948, a Sociedade para Recriar a Estátua de Hachiko encarregou Takeshi Ando, filho do artista original que havia então morrido, a fazer uma segunda estátua, erguida em agosto daquele ano.

Vá ao cinema (sem o seu cachorro), mas leve consigo lenço de papel. Se algumas lágrimas escorrerem, não se acanhe. É natural que isso aconteça e tenho certeza que você não será o único.

sábado, 28 de novembro de 2009

Julie & Julia

Tatiana Babadobulos

Nem pense em assistir ao longa-metragem "Julie & Julia", estreia desta sexta, 27, com o estômago vazio. Eu explico por quê. A fita é inspirada no livro de Julie Powell, uma americana que, sem saber o que fazer da vida (embora tivesse um cargo como secretária pública), resolveu escrever um blog (diário na internet) sobre culinária.

No entanto, não se trata de um blog qualquer. Com algum dote na arte de cozinhar, Julie se impôs um desafio: em 365 dias iria preparar 524 receitas que constam do livro de Julia Child, “Mastering the Art of French Cooking”, coescrito por Louise Bertholle e Simone Beck. A obra foi escrita enquanto ela vivia na Europa, mas principalmente enquanto estudou na famosa escola francesa Cordon Bleu. E agora vem a parte da fome: durante 123 minutos, as personagens vividas por Amy Adams ("Dúvida") e Meryl Streep ("O Diabo Veste Prada") cozinham delícias de dar água na boca.

Casada com um diplomata, Julia (Meryl, sempre ótima!) vai viver em Paris em 1949. Sem falar uma palavra em francês, descobre que na capital francesa sua paixão é a comida – e não os cobiçados vestidos das famosas maisons. Depois de começar a fazer um curso de chapéus, decidiu que iria se especializar na cozinha francesa. Ou melhor: iria aprender a fazer as delícias e ensiná-las aos americanos.

Para intercalar as cenas, a diretora Nora Ephron ("Sintonia de Amor"), também autora do roteiro, mostra a vida de Julie, que se passa em 2002, justamente quando ela decidiu escrever o blog. Entre as idas e vindas no tempo, as lentes de Nora contrastam os processos, como viveu Julia e como Julie dialogava com a especialista na cozinha, como foi o progresso do blog que virou livro, que virou filme.

"Julie & Julia" fala de amor, convivência com as pessoas, paixão por gastronomia, sobre ter um projeto na vida. Meryl Streep é um destaque à parte, pois, mesmo que faça uma personagem caricata, cheia de trejeitos, caras e bocas, voz aguda e esganiçada, ela mantém o bom humor e mostra que é uma atriz completa.

Do outro lado, Julie está prestes a fazer 30 anos, se encontra em um turbilhão, sem saber o que fazer da vida, ao lado do marido, editor de uma revista - aliás, é ele quem sugere o blog. E quando começa a escrever o diário, prepara receitas difíceis e diferentes e diz que nunca havia comido ovo na vida – e provou a receita de oeufs pochés de Júlia. Outro detalhe que ela aponta para a cozinha é quando diz que, quando nada dá certo durante seu dia, chega em casa e faz um delicioso bolo de chocolate! A escritora faz o tipo mimada (que chora quando a receita não dá certo), mas é persistente.

Na parte gastronômica do filme, o espectador poderá conferir como se faz um verdadeiro boeuf bourguignon, como se cozinham lagostas e como se costuram patos. As duas ambientações, ou seja, a década de 1950 e o ano 2000, são bem posicionados com objetos das duas épocas, figurinos e locais, principalmente os automóveis em Paris, os bistrôs... Aproveite o filme, delicie-se com a direção intimista de Nora e bon appétit!

2012

Tatiana Babadobulos

Está marcado no calendário maia, instituído séculos atrás, que, depois de 21 de dezembro de 2012, não há mais nada. Ou talvez haja. Enfim, é baseado no fato de que o mundo vai-se acabar a partir de um grande dilúvio que desenvolve o longa-metragem 2012”.

A fita se desenrola a partir de 2009, quando a alta cúpula dos Estados Unidos e de grandes nações do mundo começam a perceber o perigo que a humanidade corre. Então, os dias vão se passando, até que 2012 chega e tudo o que eles precisam fazer é colocar em prática o que determinaram tempos antes.

Para contar essa história, o diretor Roland Emmerich (de “10.000 a.C.”) usa como mote uma família comum americana. Jackson Curtis (John Cusack) é um escritor fracassado e separado de Kate (Amanda Peet), com quem teve dois filhos. Atualmente, ele faz bicos como motorista de limusine para um empresário russo (rico e egoísta) e ela se casou com um cirurgião plástico. Porém, durante um acampamento com os pequenos, Jackson conhece um “maluco” que anuncia que, de fato, o fim do mundo está chegando.

Ao retornar para casa, em Los Angeles, Curtis descobre que um terremoto passou por ali e tudo o que eles devem fazer é fugir para a China. Paralelamente, membros do governo americano estão se organizando para tomar o mesmo rumo juntamente com alguns cidadãos previamente selecionados, mas sem avisar aos demais. Então, o presidente (negro, vivido por Danny Glover, de “Ensaio Sobre a Cegueira”) desiste de ir e a correria começa.

2012” é um típico filme-catástrofe que mistura várias tragédias que encontra pelo meio do caminho, tal como já puderam ser vistas em
Inferno na Torre”, Titanic”, “Poseidon”, “O Dia Depois de Amanhã” (do mesmo diretor), “Guerra dos Mundos” (que também usa a família como gancho) e muitos outros.

Outro enfoque dado por Emmerich é extremamente político, pois envolve os altos escalões de vários países do mundo. Mas a liderança, como não poderia deixar de ser, é dos Estados Unidos. O local seguro escolhido para eles se salvarem não por acaso é a China, o país emergente que cresce sem parar. E a história segue sempre com foco na família, dando um caráter mais humano e de maneira a envolver o espectador e fazê-lo se enxergar naquela confusão, naquela catástrofe natural que acabará atingindo a todos.

Para reunir todas essas catástrofes, o diretor se valeu da tecnologia e dos inúmeros efeitos especiais para projetar terremotos, inundações, destruição de cidades inteiras. E essas inserções começam a ser forçadas, como o voo pilotado pelo cirurgião plástico a beira do caos total, as explosões etc.

Aos brasileiros, foi dedicada uma sequência bastante breve (que ilustra o cartaz de divulgação do filme), que é quando são transmitidas imagens da queda do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, direto da televisão local.

2012” não é um filme composto por diálogos bem-construídos, ao contrário. O arrasa-quarteirão serve mesmo para escancarar as imagens na tela grande e fazê-las contar a história. Neste quesito entra também o fato de não se precisar de atores excepcionais. Em todo caso, Cusack consegue interpretar direitinho o papel que transita entre o pai de família fracassado e o herói que vai salvar a família da catástrofe. Assim como Danny Glover mantém a serenidade para tomar a decisão tal como um presidente que quer fazer o bem para o povo americano.
O longa-metragem é cheio de clichês previsíveis e escancara as imagens impossíveis na tela. Durante duas horas e meia o espectador vai acompanhar cenas repletas de ação e terá o sentimento de que tudo ali é irreal. Porém, quem sai de casa para assistir a um blockbuster americano sobre o fim do mundo não pode esperar outra coisa.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Distrito 9

Tatiana Babadobulos


Parece um documentário, com depoimentos no início, bem ao estilo Michael Moore (de "Sicko - S.O.S. Saúde", "Fahrenheit 11 de Setembro", "Tiros em Columbine") de se fazer, mas, cerca de meia hora depois do início da fita, o diretor estreante no formato de longa-metragem Neill Blomkamp conta a história sobre os alienígenas que estão há 20 anos na Terra e, por algum motivo, não conseguem voltar para casa.


Com produção de Peter Jackson, responsável pela trilogia "O Senhor dos Anéis", nada poderia ter sido melhor para Blomkamp, que escolheu sua terra Natal, Johannesburgo (África do Sul), para ser o cenário de "Distrito 9" ("District 9"), o longa de ficção científica que conta na tela grande. Na trama, os alienígenas se tornaram refugiados por não conseguirem retornar para casa e foram alojados em barracos localizados no Distrito 9, enquanto as nações do mundo discutiam o que fazer com eles.


Contudo, quando o prazo já se esgotou (bem como a paciência das autoridades), a União Multinacional (MNU) precisa retirar os aliens a qualquer custo de lá. Eis que um agente, Wikus (Sharlto Copley), é destacado para convencer os ETs a deixarem o acampamento, até que contrai um vírus e é afastado de sua esposa, Tânia (Vanessa Haywood), principalmente porque seu pai, Koobus (David James), diretor da empresa, faz a sua cabeça e inventa mentiras a respeito do modo como o vírus fora contraído.


No filme, a história se alterna entre o que é ficcional e o que é, na concepção do diretor, ultrarrealista, visto que há misturas de imagens em estilo documental, imagens reais do noticiário local, além das imagens feitas com a ajuda do computador, como é o caso das criaturas, que no longa eles chamam de camarões. No entanto, o espectador pode jurar que se trata de algo verdadeiro, extremamente real.


Um ponto que faz a plateia achar isso é o fato de que, antes de rodar o longa, Blomkamp fez o curta-metragem no estilo documentário "Alive in Jo'burg", cujo cenário foi uma favela de Johannesburgo anos atrás. De acordo com o material de divulgação para a imprensa, o cineasta saiu às ruas com a equipe de filmagem para registrar as reações reais das pessoas, pois seus entrevistados entenderam que "alien" se tratava do conflito e da xenofobia existentes entre os cidadãos de Johannesburgo para com a invasão de imigrantes ilegais (na expressão em inglês, "illegal aliens", ou simplesmente "alien") vindos dos países vizinhos. Blomkamp diz que não tentou enganar as pessoas entrevistadas propositalmente. "Eu só queria obter as respostas mais reais e genuínas possíveis."


Filmes sobre ETs existem aos montes, há diversos exemplos no cinema e, cada criador, seja ele Steven Spielberg (de "ET – O Extraterrestre"), Roland Emmerich (de "Independence Day"), Ridley Scott (de "Alien") ou Barry Sonnenfeld (de "MIB - Homens de Preto") deu à sua criatura o aspecto como enxerga esses seres de outros planetas.


Pois bem, especialista em efeitos visuais, o diretor de "Distrito 9" levou às telas a sua visão pessoal acerca da vida extraterrestre. Ou seja, eles "não são atraentes, não são bonitinhos nem apaixonantes". Segundo Terri Tatchell, corroteirista ao lado do diretor, Blomkamp optou por um tipo de alienígena assustador, duro, quase um soldado.


Com direito a espaçonave e cenas grotescas que conseguem enojar o espectador no cinema, a discussão de "Distrito 9" vai além da bobagem de se fazer retratos bizarros de seres de outros planetas. Isso porque, nas entrelinhas (ou escancaradamente para o cinéfilo mais atento), a fita fala sobre a população que vive às margens, do preconceito de quem não consegue emprego, além, é claro, do Apartheid (a segregação racial sul-africana).


Para se ter uma ideia, o alien fala e entende a língua dos humanos, está sujeito às leis de onde vive (e pode, sim, de repente ser despejado do barraco ilegal), tem nome (o principal chama-se Christopher e é vivido por Jason Cope), tem filho (C.J.) e, para arrematar, pensa em seu povo antes de tudo, quando tem a oportunidade de recomeçar.


No final (calma, eu não vou contar), ao contrário dos filmes europeus, tem-se uma ideia do que vai acontecer mais pra frente (uma sequência, talvez?). O desfecho não é totalmente explícito, tal como nos filmes hollywoodianos, mas também não tão aberto como os europeus de um modo geral.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Bastardos Inglórios

Tatiana Babadobulos

Quentin Tarantino não brinca em serviço. Depois que mostrou ao mundo "Pulp Fiction – Tempo de Violência" (1994), não se contentou e fez "Kill Bill", volumes um e dois, respectivamente em 2003 e 2004. Embora esses últimos tenham alguns fãs, não se trata de unanimidade quando o assunto é a idolatria ao diretor que chegou para quebrar a linearidade dos roteiros, além de utilizar a violência de forma estética inovadora, mostrando, também, que se trata de uma bizarrice sem noção.

Vale lembrar de "À Prova de Morte" (2007), que ainda não foi lançado oficialmente no Brasil, mas foi exibido na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo daquele ano ao lado de "Planeta Terror", de Robert Rodriguez, filme capaz de mostrar essas características.

Tarantino viria ao Brasil para a divulgação de seu novo longa-metragem, "Bastardos Inglórios" ("Inglorious Bastards"), mas cancelou a viagem à última hora por se sentir cansado. Não é porque o diretor não veio que se deve deixar de lado a sua obra. A fita é uma obra-prima. Possui suas características principais, fazendo coro à forma como faz seus filmes, já que também é autor do roteiro. No longa, o espectador vai encontrar diálogos hilários, momentos históricos tristes, fantasia, sangue e morte nas quais muitas vezes não é possível encarar a tela do cinema.

O filme se passa a partir de 1941, ou seja, durante a II Guerra Mundial, em uma França ocupada pela Alemanha nazista, em busca de fugitivos judeus que se escondiam em casas de campo. Assim, até parece que você já viu esse filme. Mas como Tarantino não é um diretor convencional, ele tratou de mudar tudo e começou a contar a sua história dividindo a fita em capítulos. Eis, portanto, que se inicia com "Capítulo 1 – Era uma vez...".

Depois de ver sua família ser assassinada sob o comando do coronel nazista Hans Landa (Christoph Waltz), Shosanna Dreyfus (Mélanie Laurent) vai para Paris e, com um documento falso, assume a direção de um cinema. Lá, conhece um soldado alemão que quer fazer ali a avant-première de seu filme sobre a morte de milhares de judeus.
Em outra situação, no “Capítulo 2 –Bastardos Inglórios”, está o tenente Aldo Raine (Brad Pitt), que quer unir os judeus para fazer com os nazistas o que eles fazem com seu povo, ou seja: dar o troco na mesma moeda. Do interior dos Estados Unidos e com sotaque bastante evidente, Aldo e seu grupo, que é chamado de “os Bastardos”, se une à atriz alemã Bridget von Hammersmark (Diane Kruger) para derrubar os líderes do Terceiro Reich. 

Em outra situação, no "Capítulo 2 – Bastardos Inglórios", está o tenente Aldo Raine (Brad Pitt), que quer unir os judeus para fazer com os nazistas o que eles fazem com seu povo, ou seja: dar o troco na mesma moeda. Do interior dos Estados Unidos e com forte sotaque, Aldo e seu grupo, que é chamado de "os Bastardos", se une à atriz alemã (Diane Kruger) para derrubar os líderes do Terceiro Reich.

Ainda há o "Capítulo 3 – Noite Alemã em Paris", em 1944, e o "Capítulo 4 – Operação Kino", até que, de uma maneira que só Tarantino poderia fazer, todos esses personagens se encontram e,voilà: dá-se o clímax. É no "Capítulo 5" que acontece a première.

O galã Brad Pitt faz um personagem caricato, cheio de trejeitos estranhos. Mélanie Laurent merece destaque, pois consegue transmitir sua ira com relação aos nazistas de um jeito meigo e sedutor.

Quem se destaca, porém, é Christoph Waltz, que também faz um personagem caricato, pronuncia diálogos em francês, inglês e alemão com tom de deboche e muita ironia na maior parte do filme. O roteiro, claro, possui personagens reais, mas são os fictícios que entusiasmam o espectador, principalmente porque são eles que têm todo o sabor da fantasia proposta por Quentin Tarantino. Uma fábula que mistura o real e o irreal, que ninguém poderia contar melhor que o próprio diretor.

"Bastardos Inglórios" é um filme imperdível, que deve estar na lista de todo cinéfilo que se preze.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Duas vezes Juliette Binoche


Tatiana Babadobulos

Estão em cartaz em São Paulo dois filmes franceses que trazem a atriz Juliette Binoche no elenco. Ambos, aliás, estrearam no mesmo dia. Um deles é "Paris" ("Paris") e, como não poderia deixar de ser, o cenário é a própria capital francesa. Mas a cidade mais conhecida do mundo como pano de fundo não é o único atrativo do longa-metragem dirigido por Cédric Klapisch ("Bonecas Russas").

O filme conta a história de Pierre (Romain Duris, de "As Aventuras de Molière") que, segundo seu médico, está em estado terminal, pois precisa de um transplante de coração. A primeira pessoa para quem ele conta a triste novidade é sua irmã Élise (Juliette), mas a primeira mudança que faz em sua vida é começar a observar o mundo ao seu redor e os diferentes personagens que vivem na cidade.

Assim, a história se constrói na medida em que Klapisch aponta suas lentes para os feirantes que disputam a freguesia, para a moça que começa a trabalhar na padaria cuja dona é uma insuportável racista e mandona (Karin Viard), o arquiteto Philippe (François Cluzet), seu irmão, o professor de história Roland (Fabrice Luchini), que se apaixona pela aluna Laetitia (Mélanie Laurent) e fica lhe enviando poemas anônimos por mensagens do celular. O filme também mostra personagens que tratam de problemas com a imigração (tema tratado também em “Bem-Vindo”, de Philippe Lioret).

E é a partir desse mosaico que Cédric Klapisch mostra o cotidiano de Pierre que, como professor de dança, junta seu grupo e mostra coreografias intensas, bem-construídas, embora não tenha fôlego para executar todos os saltos que são propostos. Romain Duris, aliás, é capaz de transmitir ao espectador a dor que sente e mostra que é possível superar esse momento de tensão e esperar, curtindo a vida, brincando com as sobrinhas, sendo feliz.

"Paris" teve três indicações ao César (o Oscar francês), nas categorias Edição, Filme e Atriz Coadjuvante (Karin Viard). Trata-se de um filme belo, capaz de fazer com que o espectador contemple o cenário em que a história se passa e, por que não?, olhe para si e veja que ao seu redor a vida pode ser mais bonita do que lhe parece. Sim, o cinema tem essa capacidade e não se pode perder a chance.

O outro longa é o drama francês "Horas de Verão" (“L'Heure d'Été”), que foi apresentado no ano passado durante a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Escrito e dirigido por Oliver Assayas, o filme conta a história da matriarca, Hélène Berthier (de "A Questão Humana"), que reúne na casa de campo da família seus filhos e netos para celebrar seu 75º aniversário.

Então, os irmãos, que vivem distantes, se encontram e logo depois a mãe morre. A partir de então eles terão de fazer as divisões que incluem obra de arte de seu tio, um pintor do século 19. Começam pra valer as diferenças entre a designer que vive em Nova York, Adrienne (Juliette), o economista e professor Frédéric (Charles Berling) e o empresário Jérémie (Jérémie Renier), que atualmente vive na China e um dos que não pensam nem em discutir o assunto. No entanto, é preciso enfrentar a discussão, uma vez que Frédéric não quer ter de decidir tudo sozinho já que os outros dois irão embora e darão as costas a essas questões.

“Horas de Verão” se passa praticamente dentro da casa de campo da família e é dentro do imóvel que também fará parte do inventário que acontece o drama familiar que discute o valor da herança e da família, entendimento entre irmãos que têm pouco em comum, principalmente porque cada um quer cuidar da própria vida e não daquela que foi deixada pela mãe deles que muito fala sobre as origens e os valores que objetos têm e que dizem sobre a família em que nasceram.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Anjos e Demônios

Carolina do Couto Rosa

Mais uma vez, a união de Dan Brown e Ron Howard dá o que falar no mundo cinematográfico. Depois de "O Código Da Vinci", filme que levantou suspeitas sobre Maria Madalena ter uma filha com Jesus Cristo, chega agora "Anjos e Demônios" ao cinema e provoca a Igreja católica em uma fascinante historia sobre ciência e religião.

Tom Hanks é novamente o protagonista da historia fazendo o professor Dr. Robert Langdon e se torna o responsável em salvar os cardeais sequestrados e evitar que o fanático da seita dos Iluminati bombardeie toda a cidade do Vaticano.

A Igreja recusou o filme antes mesmo de ele estrear no cinema e não facilitou em nada a produção do mesmo. As cenas não foram rodadas no Vaticano e em nenhuma Igreja de Roma. Conseguiram permissão, apenas por poucas horas, para gravar em frente a uma Igreja na Piazza del Popolo, onde no dia da filmagem estava acontecendo um casamento. Tom Hanks, muito simpático, conseguiu liberar a passagem para a noiva levando-a até a porta da igreja. As pessoas em volta aplaudiram e Tom Hanks se mostrou divertido e brincalhão em meio a tantos conflitos nas filmagens de "Anjos e Demônios". Este acontecimento não deixa de ser uma cena típica de filmes Hollywoodianos.

Falando da adaptação dos livros, Ron Howard consegue com este filme melhor resultado que em "O Código Da Vinci". No filme anterior, a história era recheada de detalhes, fazendo do livro muito mais interessante que o filme, que não consegue esclarecer todos os mistérios e deixa o espectador perdido diante de tanta informação. Já em "Anjos e Demônios" o resultado é excelente, tanto livro quanto filme conseguem prender o espectador e fazê-lo sofrer com o suspense da trama.

Um bom entretenimento, que diverte e distrai.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Ensaio Sobre a Cegueira

Tatiana Babadobulos

"Ensaio Sobre a Cegueira", livro escrito pelo português José Saramago, traz uma história comovente e ao mesmo tempo incômoda, pois trata-se de uma epidemia de uma cegueira que atingiu uma cidade inteira. Ao decorrer dos dias, conforme as pessoas vão "pegando", é possível conhecer as reações humanas. Para o cinema, o diretor Fernando Meirelles aceitou a empreitada de filmar a história que, na versão original (em inglês, já que é a origem dos produtores), chama-se "Blindness".
No início, em uma movimentada metrópole, um homem (Yoshino Kimura) está dirigindo e, de repente, não consegue avançar o semáforo porque ficou cego, de uma cegueira branca, leitosa. Quando consegue chegar em casa, vai com a esposa ao médico, que afirma não ter nada. Daí em diante, muitas pessoas passam a não ver e seguem para um local determinado pelo governo, onde ficarão em quarentena.
E é a partir daí que começa a segunda parte da trama, ainda mais incômoda, com imagens densas que desafiam a dignidade do ser humano, quando os obriga, cegos, a viverem com outras pessoas também cegas, que nunca conheceram na vida. E eles sofrem com a falta de comida e de medicamento, andam nus pelos corredores (afinal, apenas o espectador e um personagem podem ver - a Mulher do Médico, vivida por Julianne Moore). Ainda assim, ela não conta aos demais (exceto ao marido, personagem de Mark Ruffalo), que pode enxergar. Assim como no livro, os personagens não têm nomes.
Com roteiro escrito pelo canadense Don McKellar, o longa-metragem mostra em detalhes o sofrimento das pessoas, situa o espectador no local onde eles ficam "internados", principalmente por conta da sujeira proveniente das fezes, da urina, além dos corpos daqueles que morrem que vão ficando pelo chão, e da violência dos estupros, em cenas fortes, mas que não chocam o espectador pois apenas induz. Essa seqüência, aliás, conforme disse Meirelles em entrevista, foi cortada após os "screening tests", mas poderá ser vista no DVD.
Com fotografia de César Charlone, o mesmo que acompanhou Meirelles em "Cidade de Deus", o espectador quase pode ver tal como o personagem, já que o excesso de branco e a falta de foco dão essa impressão. Como foi filmado em diversas cidades, o filme não conta ao espectador onde a narrativa se passa, mas as imagens possuem orientação urbana. No início, as imagens, que lembram videoclipe (uma característica de Meirelles que pode ser conferida tanto em "Cidade de Deus" como em "O Jardineiro Fiel"), mostram o caos no trânsito, o barulho nas ruas. No entanto, é possível identificar que as cenas externas são filmadas em São Paulo. É fácil reconhecer a Avenida Paulista, a Ponte Estaiada antes de ficar pronta, a Marginal do Pinheiros, mas ao mesmo tempo agride o espectador porque as placas dos carros são maquiadas e a viatura da "Police" possui chapa de três letras e quatro números (exatamente como as brasileiras).
Ao mesmo tempo em que os personagens são estranhos, pelo fato de estarem sendo testados, o espectador consegue eleger um para o qual torcer. E boas interpretações, aliás, não faltam. Nisso, há de se dar todo o mérito a Meirelles, que pecou na direção de arte (que mostra, por exemplo, televisores antigos e carros modernos), mas deu um banho em fotografia e direção de atores.
No elenco, também está Alice Braga, que trabalhou com Meirelles em "Cidade de Deus" e interpreta a Mulher dos Óculos Escuros. Um dos destaques, porém, é o personagem Rei da Ala 3, interpretado por Gael García Bernal. Isso porque ele é apresentado como Barman do hotel, mas depois, quando vai para a quarentena, passa a controlar a comida e a exigir jóias e mulheres em troca. Um dos momentos engraçados é quando ele pinta as unhas e imita Steve Wonder cantando "I just call to say I love you".
Além de São Paulo, o longa foi filmado no Canadá (em uma prisão desativada) e nas ruas de Montevidéu, no Uruguai.
Sobre o cineasta
Fernando Meirelles começou no cinema comercial em 1999, quando dirigiu ao lado de Fabrízia Pinto, "Menino Maluquinho 2 - A Aventura". Nesta época, o cinema brasileiro vivia o ciclo da Retomada, iniciado em 1993. O primeiro filme que marca esta época é "Carlota Joaquina", dirigido por Carla Camurati. O diretor nasceu em São Paulo, no dia 11 de setembro de 1955. Sua infância foi dividida entre sua casa, que ficava próxima ao que hoje é a Praça Pan-Americana, no Alto de Pinheiros, e o interior, onde moravam os seus avós. Terceiro filho de quatro ao todo, Fernando Meirelles morou um ano nos Estados Unidos, quando tinha 11 anos de idade, pois seu pai foi fazer uma especialização na Universidade da Califórnia, Los Angeles (Ucla). Lá ele aprendeu a falar inglês fluentemente.

Meirelles não se lembra qual foi o primeiro filme a que assistiu, mas se lembra que seu pai filmava com câmera 8 mm e costumava projetá-los na parede. Mas foi aos 13 anos que começou a fazer filmes domésticos em Super-8. Quando começou a freqüentar a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, porém, Meirelles também realizou trabalhos em Super-8, como o "Arquitetura Animada". Seu trabalho de conclusão foi entregue em vídeo, mas lhe valeu apenas a nota mínima para aprovação.

Estudou francês em Paris e em Aix en Provence, na França, e tinha a intenção de estudar Biologia e Oceanografia na Sorbonne, mas desistiu antes mesmo de fazer a matrícula e tratou de voltar para o Brasil após um passeio por outros países. Foi a partir daí que começou a cursar arquitetura na FAU. Embora gostasse da profissão, Fernando Meirelles nunca chegou a trabalhar na área. Na verdade, seu primeiro trabalho remunerado foi para um professor da Universidade que encomendou fotografias para documentação na beira do Rio Paraná. Foi a partir de então que começou a trabalhar por prazer, e a receber por isso. Junto com outros colegas, Paulo Morelli e Dario Vizeu, fundou a Aruanã Filmes. Foi esta produtora que deu forma às animações em 35mm, usando umacâmera da Escola de Comunicações e Arte da USP.

Q sofreu um acidente de moto e ficou seis meses preso à cama e a uma cadeira-de-rodas que Fernando Meirelles leu sem parar clássicos da literatura e terminou a faculdade entregando o trabalho final em vídeo. Na USP, aproveitava para assistir ao filmes que eram projetados ali, principalmente o cinema alemão, além de freqüentar cinemas da cidade, onde desenvolveu seu gosto pela sétima arte e admiração por diretores, como Terrence Malick, Martin Scorsese, Coppola e Robert Altman, além dos clássicos Akira Kurosawa, Satyajit Ray, Ingmar Bergman e Gillo Pontecorvo. Entre os ingleses, Mike Leigh, Ken Loach. Entre os brasileiros, gosta de obras dirigidas por Rogério Sganzerla, Júlio Bressane, Nelson Pereira dos Santos, Sérgio Person, Arnaldo Jabor, Roberto Farias, Hector Babenco, Walter Lima Jr., entre outros.

A partir daí já tinha fundado a produtora independente Olhar Eletrônico ao lado de Paulo Morelli, Marcelo Machado, Dario Vizeu e Beto Salatini, onde começou a produzir vídeos para a TV em uma casa localizada na Praça Benedito Calixto, em Pinheiros, onde havia uma ilha de edição onde seria a sala. Os quartos no fundo eram usados para eles mesmos dormirem. Tudo foi intuitivo e os rapazes aprenderam sozinhos. Seus primeiros filmes foram "Marly Normal", "Garotos do Subúrbio", "Do Outro Lado da Sua Casa". A partir desses trabalhos eles foram convidados para trabalhar na TV, no programa 23ª Hora, a convite do jornalista Gourlat de Andrade. Fizeram também o programa Antenas e criaram o repórter Ernesto Varela, interpretado por Marcelo Tas, que se incorporou pouco tempo depois. Foi por conta deste repórter que a produtora foi convidada a produzir vídeos para a Abril Vídeo, onde produziram quadros para o programa "Olho Mágico". Outro programa criado para esta empresa foi o Crig-Rá, com assuntos de variedades, destinado a adolescentes. Na seqüência, fizeram programas políticos para o PT, mas não deu certo. Segundo depoimento de Fernando Meirelles à jornalista Maria do Rosário Caetano, para a sua Biografia Prematura, da Coleção Aplauso, "a Olhar Eletrônico foi dando certo não porque fazíamos TV bem feita, mas porque fazíamos diferente". Ele conta que o trabalho não era bem acabado, mas era original.

Antes de fazer sucesso com a série infantil "Rá-Tim-Bum", na TV Cultura, a partir de 1988, a Olhar Eletrônico passou ainda a fazer quadros para a TV Bandeirantes (Vídeo Surf), quadros para o Fantástico, da TV Globo, e para aextinta TV Manchete. Meirelles também dirigiu o "TV Mix" na TV Gazeta, de onde saiu muita gente que foi para a MTV, assim que ela foi implantada no Brasil.

Durante cinco anos seguidos recebeu o prêmio de Melhor Diretor de Publicidade Brasileiro pela revista Meio e Mensagem, além de vários Leões em Cannes, Clio Awards etc. A convite de Roberto Oliveira, Fernando Meirelles deixou os comerciais de lado por um tempo para criar 180 episódios, de meia hora cada um, do infantil "Rá-Tim-Bum".

Com a ida de muita gente embora para tocar outros projetos, a Olhar Eletrônico fechou e em 1990 Fernando Meirelles e o sócio Paulo Morelli criaram a O2 Filmes, no Alto de Pinheiros, em São Paulo. Ao lado de Nando Olival, o cineasta dirigiu os curtas-metragens "Bom Coração", em 1996, e "E no Meio Passa um Trem", em 1998. Como forma de um ensaio para "Cidade de Deus", dirigiu ao lado de Kátia Lund o curta "Palace II", que ganhou, entre os prêmios, o de Melhor Curta-metragem no Melbourne International Film Festival (2002 - Austrália); Best Interncaional Short - Festival de Brasília (2001 - Brasil); 30º Festival Internacional de Cinema do Algarve (Portugal).

Seu primeiro longa-metragem foi "Menino Maluquinho 2 - A Aventura", em1998, com direção ao lado de Fabrízia Alves Pinto, filha de Ziraldo, autor do livro. Em 2001, ao lado de Nando Olival, dirigiu "Domésticas - O Filme", baseado em peça teatral homônima, sobre o universo das empregadas domésticas. Meirelles, então, iniciou outro projeto, embora já estivesse mergulhado no universo de "Cidade de Deus" desde 1998, quando comprou os direitos do livro escrito por Paulo Lins.

Ao lado de Bráulio Mantovani, Meirelles recorreu a elenco não conhecido para formar os atores e atrizes do longa-metragem que o projetaria internacionalmente e conquistaria diversos prêmios, incluindo quatro indicações ao Oscar. Seu penúltimo filme lançado foi "O Jardineiro Fiel", produção internacional, com elenco igualmente estrangeiro, e que se passa em Londres e em cidades do Quênia, na África. Neste ano, foi lançado "Blindness", filme baseado em romance do escritor português José Saramago, "Ensaio Sobre a Cegueira". O longa-metragem começou a ser rodado em julho de 2007 em estúdios do Canadá. De acordo com o blog publicado na internet sobre o filme, Meirelles já havia lido o livro assim que ele foi lançado no Brasil, em 1997 ou 1998. Ele conta, no primeiro post, que tentou comprar os direitos do filme, mas não houve interesse por parte do autor. Foi aí que resolveu se aprofundar em "Cidade de Deus". O convite aconteceu em meados de 2006, quando recebeu um e-mail do produtor canadense Niv Fichman perguntando se conhecia o livro de Saramago. Ao receber o roteiro pelo correio, Meirelles acenou positivamente e recomeçou o trabalho. Para aceitar o convite, Meirelles sugeriu a equipe que confia, César Charlone na fotografia e Daniel Rezende na montagem, além de ser uma co-produção brasileira.