sexta-feira, 26 de dezembro de 2025

VALOR SENTIMENTAL

Antonio Carlos Egypto

 


VALOR SENTIMENTAL (Affeksjonsverdi/Sentimental Value).  Noruega, 2025.  Direção: Joachim Trier.  Elenco: Stellan Skarsgard, Renate Reinsve, Elle Fanning, Inga Ibsdotter Lilleaas.  133 min.

 

“Valor Sentimental” começa com um personagem importante, a casa onde sempre viveu a família do cineasta Gustav Borg (Stellan Skarsgard).  Uma casa bela e tradicional em sua concepção arquitetônica.  Mas, segundo a imaginação de Nora (Renate Reinsve), a casa sente a falta das pessoas que se vão e a deixam mais leve ou transformam o barulho das brigas em silêncio.  Isso tudo diz respeito às complicações familiares e, sobretudo, à ausência frequente do pai na vida das filhas, Nora e Agnes (Inga Ibsdotter Lilleaas).  E ao que Nora sente sobre isso.  É importante que se diga que Nora é atriz, mas seu pai aparentemente nunca a viu atuar e nem tem interesse pelas escolhas que ela faz.  Enquanto isso, Agnes, na condição de atriz, já atuou em filme de Gustav há muitos anos.

 

No entanto, Gustav Borg retorna e tem um roteiro para filmar justamente na casa da família.  Um roteiro ficcional, mas muito baseado nas experiências familiares, que algumas aparentemente devem ter lhe escapado, pelas ausências.  O problema é que seu projeto inclui Nora como atriz principal da história.  O que é assustador para ela e que ela prontamente rejeita.

 

O projeto do filme avança, obtendo financiamento, e Gustav escolhe, então, uma atriz famosa para substituir Nora, Rachel Kemp (Elle Fanning).  Só que toda a filmagem prosseguirá na casa, onde continuam vivendo Nora e Agnes.

 

O desenvolvimento dessa história vai revelar as questões familiares profundas aí envolvidas, num estilo que lembra a grande referência escandinava: o sueco Ingmar Bergman (1918-2007).  Ao mesmo tempo, a questão que se coloca é a relação entre a realidade e a ficção.  Até que ponto é possível tratar ficcionalmente, com realismo, a trajetória familiar penosa e conflitiva?  É possível tentar resolver pela via ficcional as coisas que ficaram para trás, travadas, encalacradas ou como tabus?

 


Uma atriz distante dos fatos como Rachel poderá incorporar o papel pensado e concebido para a filha do diretor?  E Nora, como poderá conviver com as filmagens que representam a sua própria história?  Ou a história, tal como seu pai a vê? 

 

Como se percebe, um filme de muitas camadas de relações que dá margem a muitos questionamentos e situações humanas fundamentais.  Tem densidade e emoções à flor da pele, sem sentimentalismos e sem evoluir para o melodrama.  Novo trabalho do diretor Joachim Trier, nascido na
Dinamarca, atuando na vizinha Noruega.  Mostra a força de suas obras, sendo a que conheço e comentei aqui no cinema com recheio “A Pior Pessoa do Mundo”, de 2021, um filme muito bom.

 

O grande ator sueco Stellan Skarsgard tem brilhante atuação, discreta e verdadeira, no papel central de “Valor Sentimental” e o retorno da atriz norueguesa Renate Reinsve, após o papel central em “A Pior Pessoa do Mundo”, reafirma seu grande talento e se destaca novamente aqui.

 

O filme está indicado a vários prêmios  no Globo de Ouro e no Oscar, sendo um provável forte concorrente a melhor filme internacional com o nosso “O Agente Secreto”.




Nenhum comentário:

Postar um comentário