Antonio Carlos Egypto
VALOR SENTIMENTAL (Affeksjonsverdi/Sentimental
Value). Noruega, 2025. Direção: Joachim Trier. Elenco: Stellan Skarsgard, Renate Reinsve,
Elle Fanning, Inga Ibsdotter Lilleaas.
133 min.
“Valor Sentimental” começa com um personagem
importante, a casa onde sempre viveu a família do cineasta Gustav Borg (Stellan
Skarsgard). Uma casa bela e tradicional
em sua concepção arquitetônica. Mas,
segundo a imaginação de Nora (Renate Reinsve), a casa sente a falta das pessoas
que se vão e a deixam mais leve ou transformam o barulho das brigas em
silêncio. Isso tudo diz respeito às
complicações familiares e, sobretudo, à ausência frequente do pai na vida das
filhas, Nora e Agnes (Inga Ibsdotter Lilleaas).
E ao que Nora sente sobre isso. É
importante que se diga que Nora é atriz, mas seu pai aparentemente nunca a viu
atuar e nem tem interesse pelas escolhas que ela faz. Enquanto isso, Agnes, na condição de atriz,
já atuou em filme de Gustav há muitos anos.
No entanto, Gustav Borg retorna e tem um roteiro
para filmar justamente na casa da família.
Um roteiro ficcional, mas muito baseado nas experiências familiares, que
algumas aparentemente devem ter lhe escapado, pelas ausências. O problema é que seu projeto inclui Nora como
atriz principal da história. O que é
assustador para ela e que ela prontamente rejeita.
O projeto do filme avança, obtendo financiamento, e
Gustav escolhe, então, uma atriz famosa para substituir Nora, Rachel Kemp (Elle
Fanning). Só que toda a filmagem
prosseguirá na casa, onde continuam vivendo Nora e Agnes.
O desenvolvimento dessa história vai revelar as
questões familiares profundas aí envolvidas, num estilo que lembra a grande
referência escandinava: o sueco Ingmar Bergman (1918-2007). Ao mesmo tempo, a questão que se coloca é a
relação entre a realidade e a ficção.
Até que ponto é possível tratar ficcionalmente, com realismo, a
trajetória familiar penosa e conflitiva?
É possível tentar resolver pela via ficcional as coisas que ficaram para
trás, travadas, encalacradas ou como tabus?
Uma atriz distante dos fatos como Rachel poderá
incorporar o papel pensado e concebido para a filha do diretor? E Nora, como poderá conviver com as filmagens
que representam a sua própria história?
Ou a história, tal como seu pai a vê?
Como se percebe, um filme de muitas camadas de
relações que dá margem a muitos questionamentos e situações humanas
fundamentais. Tem densidade e emoções à
flor da pele, sem sentimentalismos e sem evoluir para o melodrama. Novo trabalho do diretor Joachim Trier,
nascido na
Dinamarca, atuando na vizinha Noruega.
Mostra a força de suas obras, sendo a que conheço e comentei aqui no cinema
com recheio “A Pior Pessoa do Mundo”, de 2021, um filme muito bom.
O grande ator sueco Stellan Skarsgard tem brilhante
atuação, discreta e verdadeira, no papel central de “Valor Sentimental” e o
retorno da atriz norueguesa Renate Reinsve, após o papel central em “A Pior
Pessoa do Mundo”, reafirma seu grande talento e se destaca novamente aqui.
O filme está indicado a vários prêmios no Globo de Ouro e no Oscar, sendo um
provável forte concorrente a melhor filme internacional com o nosso “O Agente
Secreto”.


Nenhum comentário:
Postar um comentário