Antonio Carlos Egypto
AMIRA (Amira). Egito/Jordânia,
2021. Direção: Mohamed Diab. Elenco:
Saba Mubarak, Ali Suliman, Tara Aboud.
98 min.
Amira (Tara Aboud) é uma adolescente de
17 anos, que vive com sua mãe Warda (Saba Mubarak) e o pai Nuwar (Ali Suliman),
que ela só conhece de encontrá–lo na prisão.
Ele é um prisioneiro político palestino, considerado terrorista por
Israel. Ela o visita regularmente com a
mãe e conversam por telefone, separados por um vidro grosso. Há, entretanto, afetividade nesse
relacionamento familiar.
Segundo consta, Amira foi concebida por
inseminação artificial, com o esperma do pai.
E, desta mesma maneira, Nuwar espera conceber agora um outro filho com
Warda. Apesar das resistências iniciais
por parte da mãe, repete-se o processo, sendo que agora fica evidente que Nuwar
é estéril. Isso vai provocar uma
derrocada na vida de Amira. Ela terá de
conviver com as suspeitas em relação à mãe e fará um périplo em busca de quem
seria seu pai.
Todo o foco do filme se centra na figura
da jovem Amira, mas o contexto moral, religioso e político que envolve o caso,
numa Jordânia que participa do eterno conflito no Oriente Médio, está bem caracterizado. O Egito aparecerá como possível rota de fuga
nesse contexto conflitivo.
O diretor egípcio Mohamed Diab já é
nosso conhecido, pelo ótimo filme “Cairo 678”, de 2011, que tem crítica postada
aqui no Cinema com Recheio. O cineasta
demonstra uma capacidade de trabalhar num clima de suspense em cima de
situações bem concretas da vida, como essa.
Um suspense envolvente que nos mantém interessados em como a situação
poderá evoluir e o que mais poderá estar encoberto pela trama.
Os fatores culturais aí presentes, os
valores aí abarcados, têm efetivamente uma cor local e questões políticas
específicas, embora tenha também um significado mais amplo e universal. Ressalvadas todas as peculiaridades, o dilema
moral, a busca pela paternidade e a revelação da identidade, são questões que
dialogam com todos os contextos e culturas.
O principal mérito desse filme é
justamente a aplicação do clima de suspense que fisga o espectador num assunto
importante e realista. Não precisa de
nenhum artificialismo, nem de situações ou personagens excepcionais para impor
seu ritmo. Para isso, conta com uma
atriz jovem muito talentosa, um grande ator no papel do pai e um bom elenco que
dá sustentação ao trabalho.
A situação abordada é concreta, muitos
casos de inseminação artificial e de contrabando de esperma têm acontecido e
têm caráter político marcante. Tanto que
o filme que, por seus méritos, seria o indicado da Jordânia para o Oscar de
filme internacional, deixou de acontecer, após fortes críticas de um suposto
enfoque pró Israel e de desrespeito ao sofrimento dos presos políticos
palestinos e de suas famílias.
“Amira” está participando da Mostra de
Cinema Árabe em andamento e chega aos cinemas regulares logo em seguida.
MOSTRA ÁRABE
No Cinesesc, São Paulo, está acontecendo a 17ª. Mostra Mundo Árabe de Cinema, que vai até 07 de setembro de 2022, apresentando filmes inéditos e recentes do Líbano, da Jordânia, do Egito, de Marrocos, da Palestina, da Tunísia.
Em paralelo, no Sesc Digital, estão
disponibilizados três títulos para serem assistidos gratuitamente on line, neste link: https://sesc.digital/colecao/cinema-em-casa-com-sesc
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