quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

ZONA DE INTERESSE

        Antonio Carlos Egypto

 

 


ZONA DE INTERESSE (The Zone of Interest).  Reino Unido, 2023.  Direção: Jonathan Glazer.  Elenco: Christian Friedel, Sandra Hüller, Johann Karthaus, Medusa Knopf.  103 min.

 

O comandante Rudolf Höss (Christian Friedel) do campo de concentração, na verdade, de extermínio, de Auschwitz, durante a Segunda Guerra Mundial, vive com sua família numa bela casa, exatamente ao lado do campo, separada por uma muralha.  Com sua mulher, Hedwig (Sandra Hüller), filhos, a sogra que aparece para visitá-los e outros, todos têm uma vida aparentemente normal e muito confortável.  Esse é o ponto de partida do filme, baseado em obra de Martin Amis.

 

Convenhamos que, por mais negacionismo que se pratique, por mais que se queira ignorar o que acontece ao lado, isso é impossível.  Fornos crematórios emitem fumaça, há sons de tensão, gritos e, ainda mais óbvio, as roupas de judeus que aparecem para serem aproveitadas pelos empregados da casa e até um casaco de peles que Hedwig recuperará.  Banalidade do mal é pouco.

 

Pois bem, o que faz o diretor Jonathan Glazer? Não mostra nada de Auschwitz, tudo está extracampo.  O que é importante não está em cena, não é mostrado, com exceção daquilo que interfere na vida familiar de Höss.  Uma maneira de não explorar o Holocausto sensacionalisticamente?

 

Isso é possível na medida em que já se conhece toda a história.  Pequenos indícios são suficientes para relembrá-la e condená-la.

 


Um grande número de filmes já abordou o tema no cinema, das mais variadas formas e estilos.  Uma obra seminal é “Noite e Neblina”, um curta de Alain Resnais, de 1956, que mostra o que foi Auschwitz, quando o tema ainda estava quente.  Hoje tudo já foi dito e feito, direta ou indiretamente, por personagens distintos, de forma documental, dramática e até de humor. Lembram-se de “A Vida é Bela”, de Roberto Benigni?  E já houve polêmicas sobre o que se deve ou não mostrar sobre um assunto tão sensível e dolorido.

 

A escolha de “Zona de Interesse” pelo distanciamento está não apenas na ausência de imagens do Holocausto, mas também na filmagem de longe e no desempenho dos atores e atrizes, sem nenhum close de rostos, expressões, movimentos.  As performances estão bem contidas, evitando as manifestações emocionais.  Tudo ascético, supostamente neutro.  E sem detalhes, exceto em algumas flores vermelhas, que acabam transformando toda a tela em vermelho, representando o sangue.  Assim como a morte aparece, no início e no fim do filme, em tela toda escura.  A fotografia também é escura.  O filme é lúgubre, desagradável de se ver.  O grande mérito está no uso do som para revelar os horrores escondidos.

 

“Zona de Interesse” está indicado ao Oscar de melhor filme, melhor filme internacional, direção, roteiro adaptado e som.  Se, porventura, eu tivesse direito a voto, cravaria o som.  E só.




 

 

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