terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

POBRES CRIATURAS

 Antonio Carlos Egypto

 

 



POBRES CRIATURAS (Poor Things). Estados Unidos, 2023.  Direção: Yorgos Lanthimos.  Elenco: Emma Stone, Willem Dafoe, Mark Ruffalo, Ramy Youssef.  141 min.

 

Ficção científica desvairada em tom de comédia um tanto amalucada, mas nem sempre engraçada.  “Pobres Criaturas”, produção norte-americana dirigida pelo cineasta grego Yorgos Lanthimos, é um filme bastante estranho para merecer 11 indicações ao Oscar (perde somente para “Oppenheimer” com 13).

 

Nele se veem cabeças de porco em ave, animal metade pássaro-metade cachorro e carruagem dirigida apenas pela cabeça do cavalo.  Isso só para entrar no clima.

 

A personagem principal é Bella Baxter, num desempenho espetacular de Emma Stone, também produtora do filme e indicada ao Oscar de atriz.  Bella foi salva da morte por um experimento “científico” no começo do século XX, que lhe implantou o cérebro do bebê que ela estava gerando, quando resolveu se suicidar.  E ela se tornou uma mulher adulta e bonita num cérebro que nada conhecia do mundo e que precisava crescer e se desenvolver.  Mulher com cabeça e comportamento de criança, ou seja, uma espécie de Frankenstein de saias.

 

Seu “pai”, o estranho cientista Godwin Baxter (Willem Dafoe) também é uma espécie de Frankenstein e mais claramente marcado, com cortes intensos por todo o rosto, consequências dos experimentos de seu pai, também cientista.  Lembrem-se de que, no Frankenstein original, criador e criatura sempre foram confundidos.  Pois é! Vale a brincadeira.

 


Isso é só o começo de uma história delirante que, no entanto, pretende abordar o desenvolvimento, conhecimento e a libertação de Bella, no seu processo de amadurecimento rápido e avançado.  Uma espécie de ode ao feminismo.  Será?  Mas como assim?  Que liberdade e decisões autênticas e bem pensadas podem vir de uma pessoa despreparada e ingênua?

 

Aí vai um exemplo do filme.  Quando Bella descobre a pobreza e a morte de crianças por fome, ela toma todo o dinheiro espalhado que o amante ganhou no jogo, guarda numa caixa e o entrega a dois tripulantes do navio onde estavam vivendo, para que seja entregue aos pobres que precisam, ficando o casal sem dinheiro para nada, a partir daí.  Socialismo ou pura ingenuidade? 

 

Na mesma linha, suas descobertas dos prazeres do corpo, na masturbação, experimentando relações sexuais variadas e na prostituição que ela não chega a conceituar propriamente, não podem ser entendidas como libertação ou autonomia feminina. Falta consciência nessas ações infantilizadas de Bella.

 

Reconheço que o filme é bem feito e até divertido, embora cometa muitos excessos.  Quando, por exemplo, o personagem Duncan Wedderburn (Mark Ruffalo, também indicado ao Oscar de ator coadjuvante) bate voluntariamente a cabeça contra o balcão ou contra a parede, por causa do ciúme de Bella, absolutamente inexplicável, dadas as circunstâncias, sabendo-se quem ela é.

 

Enfim, é um filme para quem gosta de curtir o non sense, o fantástico, o amalucado.  Não cabem muitas reflexões nesse terreno, apesar das intenções dos realizadores.  Fica tudo bem artificial e esquisito.  Pelo menos para mim.



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