terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

DIAS PERFEITOS

  Antonio Carlos Egypto

                                                 



DIAS PERFEITOS (Perfect Days).  Japão, 2023.  Direção: Wim Wenders.  Elenco: Koji Yakusho, Tokio Emoto, Arisa Nakano, Aoi Yamada.  123 min.

 

O grande cineasta alemão Wim Wenders declarou publicamente que o cineasta japonês clássico Yasujiro Ozu (1903-1963) é um mestre muito admirado por ele.  Em 1985, Wenders foi a Tokio fazer um documentário, “Tokyo-Ga”, sobre a cidade de seu mestre no cinema e as mudanças que se operaram 20 anos após a morte de Ozu.

 

Não surpreende, portanto, que “Dias Perfeitos”, que concorre ao Oscar, representando o Japão na disputa de filme internacional, seja dirigido por Wim Wenders, numa produção nipo-alemã, com roteiro de Wenders e de Takuma Takasaki. 

 

E qual é a temática de “Dias Perfeitos”?  Eu diria que é viver em harmonia consigo mesmo e com a natureza, mesmo diante das adversidades e de questões não resolvidas no passado.  Parece que mais do que isso: viver feliz, com um sorriso no rosto e um otimismo que parece estar em desacordo com os fatos.

 

Senão, vejamos.  Hirayama (Koji Yakusho) é um senhor (de meia-idade? Esta expressão é estranha) que vive só e cumpre uma rotina de trabalho que ele faz cuidadosa e esmeradamente.  Qual seja, a de limpar banheiros públicos, envergando um macacão da The Tokyo Toilet, com um jovem ajudante pouco interessado nesse serviço: Takashi (Tokio Emoto).

 


Vemos que, na rotina de Hirayama, cabem a leitura de bons livros, a fotografia das árvores, o cuidado com as plantas e a música, que ele ouve por meio de fitas cassetes no veículo que usa para o trabalho.  Não, não estamos no passado, nem nos anos 1980.  As músicas ouvidas, sim.  Mas aprendemos que, com a revalorização do analógico, as fitas cassetes de som podem ser vendidas num sebo, por 80 a 120 dólares.  Ele nem está interessado nisso.  Esse emprego não deve lhe render um alto salário, claro, mas ele coleciona não só fitas, como livros, fotos tiradas com uma máquina antiga, que revela regularmente. Seu assistente reclama da falta de dinheiro até para namorar, mas ele não se queixa de nada.  Aliás, fala muito pouco, quase nada.

 

Acompanhar o dia-a-dia desse personagem e o que, eventualmente, acontece com ele é o que importa ao filme.  O personagem é, na sua vida simples, bastante interessante e muito bem interpretado pelo ator Koji Yakusho, que sustenta o filme quase sem falar.  Sua rotina é sua segurança, seu meio de vida, seu porto seguro.  E, como dizia o título em português do último filme de Yasujiro Ozu, “A Rotina tem seu Encanto” (Sanma No Aji).

 

O filme flui muito bem e nos desafia a pensar o que é que vale nessa vida, afinal?  O conformismo do personagem, evidentemente, provoca estranheza.  Mas faz sentido para ele e é certamente útil para a comunidade.  Quem é que não aprecia um banheiro público limpo, bem higienizado, na hora em que precisa usá-lo?

 

Uma curiosidade: nunca tinha visto o banheiro público envidraçado que se torna opaco e colorido ao ser trancado por dentro.  Coisas da tecnologia, coisas do Japão.



Um comentário:

  1. Pela sua crítica, o filme deve ser interessante mesmo , porque o tema abordado é diferente.
    Não e fácil encarar a vida com otimismo, realizando um trabalho rotineiro, e não agradável como o homem faz.
    E e curioso ele gostar de

    ResponderExcluir