domingo, 19 de fevereiro de 2023

A BALEIA

  Antonio Carlos Egypto

 

 



A BALEIA (The Whale).  Estados Unidos, 2022.  Direção: Daren Aronofsky. Elenco: Brendan Fraser, Hung Chau, Sadie Sink, Samantha Norton, Ty Simpkis.  117 min.

 

A questão da obesidade mórbida que o personagem Charlie (Brendan Fraser) de “A Baleia” nos apresenta é muito importante e muito séria.  Quando uma pessoa pesa acima de 200 quilos e se torna incapaz de sair do sofá ou fica dependente de andar com andador e mesmo assim com muita dificuldade, ela fica presa em casa, paralisa sua vida, torna-se vítima de preconceito, silencia e se torna invisível à sociedade.  Uma espécie de morte em vida, de gravíssimas consequências.  E que, geralmente, envolve muito sentimento de culpa, ainda que outros fatores além da alimentação desmedida contribuam para isso.  O aspecto emocional é, via de regra, o detonador do excesso alimentar e a persistência nele revela uma dificuldade que tem diversas origens, mas, de qualquer modo, demonstra uma incapacidade que é dolorida.

 

Charlie foi – é – professor de literatura inglesa e ainda trabalha on line com os alunos, porém, com a câmera desligada, supostamente quebrada ad eternum.  De outro modo, poderia ser difícil continuar a realizar esse trabalho.

 

Charlie depende de uma enfermeira, que o acompanha na maior parte do tempo e garante sua subsistência.  Ela é Liz, belo desempenho de Hung Chau, indicada ao Oscar de atriz coadjuvante.  Outra personagem da história de Charlie é sua filha Elie (Sadie Sink), de quem ele descuidou e agora tenta resgatar, que é uma adolescente irritante, que age com crueldade, mas tem lá seus motivos para ser assim.  Ainda aparece a ex-mulher dele, Mary (Samantha Norton).  Circula pela casa, também, Thomas (Ty Simpkis), um militante religioso, digamos, pouco convencional.

 



A dramaturgia que aqui se desenrola é fruto da peça teatral homônima, de Samuel D. Hunter, que é também roteirista do filme.  Aqui não há a preocupação de disfarçar essa origem nem de ampliá-la.  O filme se passa todo no apartamento mal iluminado, de onde Charlie não sai.  No mesmo ambiente escuro, que é uma marca dominante da fotografia, experimentamos o mal-estar dessa vida sufocante, claustrofóbica.

 

O diretor Daren Aronofsky já é conhecido pelo seu pendor para o dramalhão pesado, carregado emocionalmente, como vimos em “Cisne Negro”, de 2010, e em “Réquiem para um sonho”, de 2000.  Aqui não é diferente, o que só carrega nas tintas de um filme que seria pesado, de qualquer modo.  Aronofsky acentua esse peso.  Em contrapartida, Brendan Fraser, ótimo ator, com boa chance no Oscar, atua com comedimento e humildade, humanizando o seu personagem, sem excessos, o que torna o filme mais palatável.  De qualquer maneira, não é uma obra a que se assista sem alguma dose de sofrimento.



 

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