sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

ESPETACULOSOS NO OSCAR

Antonio Carlos Egypto

 

 

O cinema que visa ao entretenimento e ao sucesso comercial costuma cultivar o chamado cinema-espetáculo.  Filmes que exploram os recursos tecnológicos, os efeitos especiais, em narrativas grandiosas, focadas principalmente na ação, nos heróis, com uma dimensão fantástica.  É um cinema de grandes custos, grandes orçamentos, o que torna imprescindível alcançar altíssimo faturamento, para que se possam compensar os esforços de suas realizações.  São os tais blockbusters. Alguns alcançam sucesso retumbante, faturam muito dinheiro.  Outros, fracassam redondamente. Alguns conseguem ser mesmo espetaculares.  Mas isso é muito raro. Mais comum é classificá-los como espetaculosos.  Ou seja, fazem de tudo para criar o grande espetáculo, mas costumam derrapar no próprio excesso e pretensão.

 

Três produtos indicados ao Oscar de melhor filme em 2023 penso que possam ser entendidos mais como espetaculosos do que qualquer outra coisa.

 

Babilônia

A começar por BABILÔNIA, de Damien Chazelle (que dirigiu também “La La Land”, em 2016).  Ele focaliza momentos importantes da história do cinema, do mudo (ou silencioso) ao falado, mostra os estúdios, as grandes produções, os astros e estrelas, a grana que ergue e destrói coisas belas, como diria o Caetano.  Com seu elenco de peso, que inclui Brad Pitt, Tobey Maguire, Margot Robbie, Diego Calva e muitos outros, em prolongadíssimos 189 minutos de projeção, é a própria exibição do exagero, em qualquer sentido que se tome.  É tudo histriônico, espalhafatoso, grandiloquente.  As filmagens do cinema mudo carregadas de gritarias, correrias, canto e dança em profusão,  sem falar em elefante e escatologia, tudo em excesso.  Tanto que, quando chega o cinema falado, o silêncio para gravar é o maior tormento.  Mas num instante o excesso e o escândalo se recompõem.  É dificílimo encontrar uma única sequência que não seja assim.  Claro, é cansativo, desgastante, embora atraente.  Se fosse mais sutil e muito mais curto, o filme poderia funcionar.  Como está, francamente, é só espetaculoso.

 


AVATAR: O CAMINHO DA ÁGUA, de James Cameron (diretor de “Titanic”, 1997), retoma os estranhos, alongados e azulados personagens do povo da floresta e os une ao povo do mar, com mensagens de que a água é tudo, está dentro e fora de nós, na nossa origem e no nosso destino.  Enfim, valoriza o papel da água na vida de todos. Até aí, tudo bem e muito apropriado.  Mas será preciso retomar a ideia de guerra para salvar Pandora contra os humanos destruidores e o que o filme acaba fazendo é produzir uma violência na água, dentro dela, no fundo do mar, e que chega a tal ponto que o mar é tomado pelas chamas, se transforma em chamas.  A elegia da água termina em guerra.  Termina, não, se torna uma guerra interminável.  O filme é ainda mais longo do que “Babilônia”: 192 minutos.

No elenco, Sam Worthington, Zoë Saldaña, Sigourney Weaver, Kate Winslet, Stephen Lang.  Muita criatividade visual, alta tecnologia e o resultado: espetaculoso, nada mais.  No entanto, o sucesso comercial já foi garantido pelas bilheterias mundiais.

 

Top Gun : Maverick

TOP GUN: MAVERICK alcança um resultado melhor no quesito espetáculo. Pelo menos, para quem gosta de aviões.  Afinal, eles são a verdadeira atração do filme.  Suas exibições, peripécias, experimentações, combates, batalhas aéreas são muito bem feitas e agradam a muita gente.  Não importa que a história seja sempre a mesma, com decepções, conflitos, substrato romântico, que todo mundo sempre soube que vai acabar bem.  O que vale é a aventura a bordo dos aviões, sua ostentação e suas tresloucadas manobras e combates. O filme é dirigido por Joseph Kosinski. Tem o astro Tom Cruise, além de Miles Teller, Val Kilmer, Jennifer Connely, Glen Powel, no elenco.  É mais um filme longo, mas nem tanto: 131 minutos de duração, que passam sem sacrifícios.

 
Por que esses três filmes estão indicados entre os 10 melhores, segundo os critérios da Academia de Hollywood?  São produtos comerciais espetaculosos, não espetaculares.  Essa busca pelo grande espetáculo é sempre ingrata e absolutamente imprevisível.  Se um desses filmes vencer a categoria principal de melhor filme será uma grande surpresa e uma decepção.  Nem só de espetáculo pode viver o cinema.  Fica tudo tão repetitivo e previsível que ninguém aguenta mais.  Pelo menos, os mais velhos, acho que não, mesmo.

 

E para que produzir filmes de tão longa duração, sem a menor necessidade disso?  É muito tempo perdido para tão pouco resultado. O espalhafatoso estéril. Não é nos pequenos frascos que estão os melhores perfumes?



 

 

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