quarta-feira, 20 de julho de 2022

MEMÓRIA

Antonio Carlos Egypto

 



MEMÓRIA (Memoria).  Colômbia/Reino Unido, 2022.  Direção e roteiro: Apichatpong Weerasethakul.  Elenco: Tilda Swinton, Juan Pablo Urrego, Elkin Diaz, Jeanne Balibar, Daniel Giménez.  136 min.

 

O conceituado diretor tailandês Apichatpong Weerasethakul, também conhecido por Joe, por sugestão dele mesmo, já que seu nome é impronunciável, lança agora pela primeira vez uma produção fora da Tailândia.  O filme “Memória” é uma realização da Colômbia e do Reino Unido.  Seu universo, que compreende drama e ficção científica, no entanto, é marcadamente uma obra pessoal do diretor.  Tem os elementos inusitados que caracterizam, desde sempre, o seu trabalho e deixam um sentido, digamos, oculto.  Misterioso em sua narrativa, que não chega a se revelar por inteiro, mesmo ao final do filme.  É o espectador que fará sua síntese, após ter sido provocado por estímulos diversos e, quiçá, contraditórios.  Inteligentemente explorados em diversas dimensões.

 

Vamos tentar dizer, então, de um modo mais compreensível aquilo que as imagens mostram.  E, no caso desse filme, sobretudo, o que os sons expressam.  O trabalho de som é um dos grandes trunfos do filme.  Melhor assisti-lo num cinema com ótima qualidade de som, para desfrutar do impacto.

 

A memória pode trilhar caminhos que passam de uma pessoa a outra e ao longo da história de um indivíduo ou de um povo, ou de uma interação entre os indivíduos, suas histórias pessoais, a cultura e as tradições de seu ambiente, natural e histórico.

 

Tudo começa com um som estrondoso na cabeça de Jéssica (Tilda Swinton), que a faz levantar na noite escura e daí para a frente dificultará permanentemente seu sono.  Sentir-se acordada, mas não conseguir se mexer, associado ao som explosivo, é a doença que acomete a personagem.  Acompanhamos Jéssica em seu périplo por diferentes lugares e situações, na cidade de Bogotá e na floresta, em busca de alcançar domínio sobre o que está lhe acontecendo.

 

Apichatpong Weerasethakul


Diante de uma mesa de som, um engenheiro a ajuda a encontrar o som preciso que a acomete, algo como uma bola de concreto batendo numa parede de metal, cercada por água do mar.  Mas é também um estrondo vindo do centro da terra.  Que tal?

 

E se ela descobrir depois que o engenheiro de som já estava morto, ou melhor, que ele pode reaparecer no futuro sem memória?  Entenderam?  Provavelmente não.  No entanto, deixem-se levar pela onda dos acontecimentos, curtam a eficiência da imagem, a onipresença de um som que praticamente conduz a trama e apreciem o talento inquestionável da atriz Tilda Swinton, em mais um grande trabalho, em que ela também aparece como produtora do filme.

 

O nosso grande Joe é um dos cineastas mais criativos e inventivos do cinema mundial atual.  Mistura questões ancestrais, etnográficas, culturais, a elementos científicos atuais e futuristas, mergulhando num terreno espiritual que incorpora visões e fantasmas de vidas passadas e projeções futuras.  É muito rico vivenciar o que seus filmes têm a nos mostrar, mas é preciso mergulhar num terreno pantanoso que não traz perigo nem violência.  Ao contrário, traz um mundo mental amoroso e delicado.  Só que não é fácil de decifrar ou de andar nele.  É caminhar no pântano.  Às vezes não dá para chegar a lugar nenhum.  Em todo caso, depende de cada um essa caminhada.

 

Para quem não entrou em contato com outros filmes do diretor, recomendo “Tio Boonmee, que pode recordar suas vidas passadas” (2010) e “Cemitério do Esplendor” (2015), que têm críticas postadas aqui no Cinema com Recheio.

 

 

 

 

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