Antonio Carlos Egypto
BOA SORTE, LEO
GRANDE (Good luck to you, Leo Grande), Reino Unido, 2022. Direção: Sophie Hyde. Elenco: Emma Thompson, Daryl McCormack,
Isabella Laughland. 97 min.
Dois
personagens compõem a trama de “Boa Sorte, Leo Grande”. Nancy (Emma Thompson), viúva na casa dos 60
anos, foi professora de religião no ensino médio. Está aposentada, e em busca
do orgasmo, faz uma aposta arriscada.
Contrata, por meio de firma na Internet, um garoto de programas. O profissional do sexo, entre 20 e 30 anos, é
Leo Grande (Daryl McCormack), habituado a atender parceiros de todas as idades
e disposto a satisfazer seus desejos e fantasias, sem drama.
O que para Leo
é uma rotina conhecida para Nancy é um tabu, uma situação embaraçosa, que ela
quer viver, mas sente culpa e tem medo.
Para ambos, trata-se de uma situação protegida pela impessoalidade de um
quarto de hotel e de identidades verdadeiras não reveladas. Uma atuação, enfim. Como sempre, porém, nos
relacionamentos humanos, eróticos ou não, as coisas sempre tomam rumos não
previstos. E será preciso lidar com
isso, de alguma forma.
O filme
inteiro é a relação desses dois personagens em quatro encontros, no mesmo
espaço, o mesmo quarto de hotel. Exceto
em uma das sequências em que a ação se dá no café do mesmo hotel, envolvendo
uma garçonete, tudo se passa no contexto de uma peça teatral, num único cenário
com uma atriz e um ator. Uma peça fácil
de montar, por sinal.
Busquei nas
informações sobre o filme se sua origem era mesmo uma peça teatral, mas isso
aparentemente não se confirmou. O texto
e roteiro do filme foram escritos por Katy Brand, atriz e escritora britânica
ligada à comédia, principalmente. É fato
que o filme explora o humor da situação, de forma comedida e com leveza. Mas não há como evitar o drama presente
naquele contexto, à medida em que a relação se desenvolve.
A diretora é a
australiana Sophie Hyde, que mostra sensibilidade para as questões da
personagem feminina, sem julgá-la ou caricaturizá-la. Tal como o personagem Leo Grande, que se
surpreende com algumas coisas, mas cumpre seu papel e até projeta suas próprias
questões no que Nancy poderia representar para ele, assim como sua mãe e sua
história de vida oculta.
É, portanto,
um filme de mulheres, da concepção às tomadas de cena. E, apesar da sua evidente teatralidade, os
diálogos e a forma como a narrativa avança mantêm o interesse e trazem vários
aspectos de reflexão relacionados ao assunto escolhido, que o extrapolam e o
enriquecem.
Claro que as atuações de Emma Thompson, talentosa e experiente atriz, e a boa química que se estabeleceu com o jovem e bom ator Daryl McCormack são fundamentais para que “Boa Sorte, Leo Grande” funcione bem. Tal como acontece no teatro, depende muito dos atores e atrizes o êxito de uma apresentação. É o que se dá, aqui, no cinema.
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