domingo, 17 de julho de 2022

ELA E EU

Antonio Carlos Egypto

 


 


ELA E EU.  Brasil, 2021.  Direção: Gustavo Rosa.  Elenco: Andrea Beltrão, Eduardo Moscovis, Mariana Lima, Lara Tremouroux, Karine Teles, Jéssica Ellem.  101 min.

 

“Ela e Eu” nos fala da adaptação a eventos inesperados e raros sobre os quais não temos controle ou possibilidade de prever ou fazer planos, segundo o diretor Gustavo Rosa.

 

Que situação é a que se apresenta no filme?  É a condição de Bia (Andrea Beltrão), que no parto de sua filha entrou em coma, por vinte anos, fazendo parte da família como uma bela adormecida, cuidada por todos, inclusive por uma cuidadora profissional, Sandra (Karine Teles).  Consta que ela seria uma ex-roqueira, o que tem pouca relevância no caso.  Seu marido, Carlos (Eduardo Moscovis), sua nova mulher, Renata (Mariana Lima) e Carol (Lara Tremouroux), a filha que cresceu vendo a mãe sempre dormindo, compõem esse núcleo familiar que teve de se organizar de um modo que permitisse conviver com Bia no estado passivo e lhe devotando os devidos cuidados.  Também faz parte da história a namorada de Carol, Giovana (Jéssica Ellem), caracterizando uma relação amorosa de uma universitária branca com uma mulher negra, a mostrar que essa família não cultiva preconceitos.  No entanto, a importância desse vínculo na narrativa é quase nula.  Funciona como símbolo de modernidade.  Assim como um médico negro que surge numa única cena, que parece existir apenas para ressaltar uma mensagem antirracista do filme.

 

Penduricalhos à parte, a questão maior se coloca quando Bia sai do coma, volta à vida ativa, vinte anos depois.  Isso vai exigir uma nova adaptação a uma realidade inesperada ou, pelo menos, imprevista quanto ao tempo.  Todos, de alguma forma, terão de se reinventar e Bia, reaprender a viver, redescobrindo sensações, situações, sentimentos, palavras e expressões, numa constante de novas descobertas, das coisas mais simples às mais estranhas para suas possibilidades atuais.  Tudo vai mudar novamente, na vida de todos.  Não é fácil!

 




“Ela e Eu”, porém, não acentua o que seria dramático.  Todos parecem excessivamente controlados, civilizados, em um tom abaixo do que se poderia esperar.  Exceto, naturalmente, Renata, que se vê frente ao confronto com o passado amoroso de Carlos com Bia.  O estilo low profile  do filme não chega a convencer, embora o desempenho do ótimo elenco seja digno de elogios.

 

O destaque maior vai, com certeza, para a atuação de Andrea Beltrão que, ao longo do filme, mas especialmente na primeira parte, tem de representar inerte, muda, pelo olhar, pelo piscar dos olhos, por pequenos movimentos.  E depois ser uma espécie de adulta-bebê ou adulta-criança.  Um papel que exige muito dela e que ela realiza com talento admirável.

 

A trilha sonora do filme é bem elegante e charmosa, a cargo de Lucas Santanna e de canções de Chico Buarque, Caetano Veloso, que canta a música título Ela e Eu, entre outros.

 

Entre os destaques da filmagem, os momentos do acordar de Bia, com imagens que oscilam em nitidez e falta de foco e o uso do som, reverberando sem clareza, merecem atenção.  E as imagens do filme nos reafirmam que o Rio de Janeiro continua lindo, apesar dos enormes problemas que o cercam.




 

Nenhum comentário:

Postar um comentário