BERGMAN ISLAND, França. Direção e roteiro: Mia Hansen-Love. Elenco: Vicky Krieps, Tim Roth, Mia Wasikowska, Anders Danielsen Lie. 105 min.
Assistir a um filme que fala de Ingmar
Bergman (1918-2007), que tem como locação a ilha de Farö, onde ele viveu e
filmou, visitar paisagens, lugares, casas, que estão registrados na sua obra
cinematográfica, é tudo o que um cinéfilo, ou crítico, gostaria de ver. Pois a diretora francesa Mia Hansen-Love nos
oferece isso no filme “Bergman Island”.
É um imenso prazer percorrer com seus personagens essa bela ilha, ver a
casa, a biblioteca, o cinema, o moinho, a vegetação, o mar, as pedras e o silêncio
que encantavam o mestre sueco em sua reclusão, protegida pela própria população
da localidade. Já bastaria isso para nos
interessar por esse filme. Mas, nesse
caso, teríamos um documentário, à semelhança do filme homônimo “A Ilha de
Bergman”, produção sueca dirigida por Marie Nyreröd, em 2006. A ilha estava lá, mas o foco foi o próprio
Bergman, ainda vivo, revendo sua vida e sua história no cinema, no teatro, na
TV. “Bergman Island”, de Mia Hansen-Love, é uma ficção. Um casal de cineastas e roteiristas vai
passar um período na ilha de Farö, em busca de inspiração, além de conhecer o
lugar icônico que Bergman escolheu para viver, onde escreveu e filmou. Ambos escrevem, passeiam pela ilha, juntos e
separados. Ele faz o Bergman Safári, esquema turístico que
leva aos lugares que marcam a obra do diretor.
Ela faz um percurso mais livre e solto, em busca desses lugares. E escrevem, ele, com mais facilidade e disciplina,
ela, com mais tensão e dúvida. No
entanto, é ela que começa a contar a sua história, o seu roteiro. O que vemos, então, é o seu roteiro já
transformado em filme. Assistimos ao
filme dentro do filme, embora inconcluso, ou assim definido como tal, por
ela. A uma certa altura, o que está
acontecendo com o casal se confunde com o roteiro e até com os atores que o
representam, numa fusão muito interessante de desejo, inspiração, realidade,
fantasia.
AHED’S
KNEE, Israel. Direção e roteiro: Nadav Lapid. Elenco: Avshalom Pollak, Nur
Fibak. 109 min.
Após “Synonyms”, de dois atrás, também
exibido na Mostra, Nadav Lapid nos traz um novo filme que provoca e polemiza.
Um pouco pela forma, que exagera na câmera agitada, na música pop e em certos
maneirismos. Isso para dar um ar moderno
ao filme, que ocupa sua parte inicial, mas é no questionamento ao seu país, o
Estado de Israel, que se encontram as grandes polêmicas. O personagem Y, cineasta, que costuma expor
em conferências temas referentes aos filmes que realiza, vai a uma pequena cidade
de 5 mil habitantes, ao lado do deserto.
Lá se encontra com Yahalom, mulher, representante do Ministério da
Cultura, quando fica sabendo que só poderá falar de assuntos já determinados
por uma lista, que ele deve respeitar.
Ou seja, o que não está lá está proibido. Há uma brecha, um assunto pode ser sugerido
desde que se dê o enfoque e o motivo para poder ser aceito. Há, evidentemente, uma censura que compromete
a liberdade de expressão. Isso estará no
centro da relação que se estabelece entre os dois personagens. Porém, outras questões serão tocadas, como o
totalitarismo e a belicosidade do Estado, o caráter conservador do pensamento,
a não-aceitação da crítica. O personagem
aborda, ainda, a invasão do Líbano e a política de incentivo ao suicídio, por
cianureto, em caso de perda militar irreversível. E uma questão econômica da localidade, a
perda de valor dos pimentões que sustentavam a cidade, também motivo de
desespero e suicídio de muitas pessoas lá.
Será o personagem Y um revolucionário, um pessimista, a ser rechaçado ou
alguém que toca nas feridas que ninguém ousa mexer?
@mostrasp
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