quinta-feira, 22 de outubro de 2020

FILMES DE NOVOS DIRETORES NA #44 MOSTRA

Antonio Carlos Egypto

Entre os filmes de novos diretores, de primeiro ou segundo longas, presentes à 44ª. Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, comento aqui alguns títulos.

 

MOSQUITO


MOSQUITO, produção portuguesa, dirigida por João Nunes Pinto, nos leva a acompanhar as andanças de um jovem soldado português de 17 anos, que se voluntariou para servir na Primeira Guerra Mundial e acabou perdido em terras moçambicanas, na África.  Partindo desse fato, extraído de uma história verdadeira, referente a um avô do diretor, o filme explora a passagem do real ao alucinatório, e vice-versa, o tempo todo, criando um clima intrigante e dando margem a sequências curiosas, audaciosas, estranhas.  É uma viagem, no sentido lisérgico do termo. 120 minutos.

 

LIMIAR é um média-metragem armênio, de pouco mais de 60 minutos, dirigido por Rouzbeh Akhbbari (iraniano) e Félix Kalmenson (russo).  Assiste-se a um cineasta à procura de sítios históricos, que remetam às origens do povo armênio.  Ele circula por belas locações a pé e de carro, isso favorece planos gerais muito bonitos.  O filme, no entanto, não chega a se realizar como cinema.  É, no máximo, preparação de cinema.  Belo de se ver é.

 

PANQUIACO é um documentário do Panamá, dirigido por Ana Elena Tezera.  Focaliza o Panamá indígena, a partir de um personagem, Cebaldo, que deixou sua terra de origem e foi viver no norte de Portugal.  Mas nunca conseguiu se desligar de sua aldeia natal.  Quando volta, percebe que seu passado já não faz parte de sua história, de sua memória.  Sua alma ficou no rio, mas se perdeu dos antepassados.  Questões assim, mitos, crenças, poesia, entram na narrativa, que segue lentamente em busca do que se perdeu.  85 minutos.

 

Em O PROBLEMA DE NASCER, da Áustria, dirigido por Sandra Wollner, é de relações familiares que se trata.  Vamos assistindo a uma curiosa e talvez estranha ou, quem sabe, incestuosa relação entre pai e filha.  Mas também percebemos que a memória é um divisor de águas entre eles, de um passado que se mostrará traumático.  É que a situação envolve uma androide, o que altera significativamente a nossa percepção inicial.  A ideia é boa, a dificuldade é que o filme é muito escuro, um complicador para assisti-lo no computador.  94 minutos.


SUOR

 

SUOR, ao contrário, é um filme muito claro e colorido sobre Sylvia, uma treinadora de exercícios físicos, influenciadora digital, que vende a alegria, o ritmo, as cores, a boa comida e a boa forma do mundo fitness e tem milhões de seguidores.  Qual é o reverso da medalha, quando ela está desconectada?  Fácil prever, não é?  A felicidade digital é um engodo.  As coisas são mais complicadas do que isso.  Mas o filme não se aprofunda muito na questão.  Produção polonesa, dirigida pelo sueco Magnus von Horn.  105 minutos.

 

APENAS MORTAIS, filme chinês, dirigido por Liu Ze, focaliza a temática do mal de Alzheimer, que abala o cotidiano de uma família e os planos e relacionamentos de seus membros.  É correto ao mostrar o problema e a dramaticidade que ele adquire no contexto, mas não consegue encaminhar a narrativa para um entendimento mais claro de procedimento, soluções, saídas.  Por exemplo, a incontinência urinária e o descontrole das fezes aparecem como situações insuportáveis, insolúveis. No entanto, não se faz uso de fraldas geriátricas, uma saída bastante exequível para diminuir as tensões apresentadas. Até porque não se tratava de uma família sem recursos. 96 minutos.

 


APENAS MORTAIS


AL SHAFAQ – QUANDO O CÉU SE DIVIDE, da Suíça, da diretora Esen Isik, aborda a família Kara, de origem e convicções muçulmanas, vivendo na Turquia e se equilibrando entre diferentes hábitos culturais.  O pai, com seu autoritarismo, e a mãe, sendo protetora, mas sem muita eficiência, compõem o clichê da família, que acaba por produzir a atração no filho mais jovem para o extremismo religioso de guerra.  Quando se dão conta, será tarde.  Aí, a busca do filho pode tomar outros sentidos.  Um pouco mais de nuances poderia ajudar o filme a alcançar dimensões mais sutis do problema.  98 minutos.

@mostrasp



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