segunda-feira, 18 de novembro de 2019

A ODISSEIA DOS TONTOS

Antonio Carlos Egypto





A ODISSEIA DOS TONTOS (La Odisea de los Giles). Argentina, 2019.  Direção: Sebastián Borensztein.  Com Ricardo Darín, Andrés Parra, Luis Brandoni, Chico Darín, Verónica Llinás.  116 min.


Na América Latina, os planos econômicos que visam a salvar a economia acabam sempre estourando do lado dos mais fracos e que já estariam acostumados a serem ludibriados, como tontos.  Aqui no Brasil, o plano Collor foi um exemplo dramático de situações terríveis, provocadas pelo confisco do dinheiro poupado pelo cidadão.  Na Argentina, em 2001, tivemos o corralito, que segurou os dólares, limitando drasticamente o seu uso e transformando-os em pesos, que perdiam valor.  Como também aconteceu – e acontece – por aqui, informações privilegiadas de pessoas poderosas e dos bancos favorecem uns e acabam com a vida de outros.

Foi nesse contexto de crise econômica  que desempregados e subempregados, em busca de sobrevivência, conseguiram juntar dólares, para reformar e reavivar uma cooperativa agrícola, até que o corralito, associado a uma manobra bancária escusa, acabou com a economia deles de vez.  Só que, agora, eles disseram “Chega!” e prometeram fazer de tudo para encontrar o dinheiro que lhes foi roubado, arquitetando uma revanche dos perdedores, os tontos.

Se o filme começa bem político, acaba se transformando em uma aventura em forma de comédia.  Mas que mantém o espírito crítico e a ironia, associados a uma forte raiva de se sentir, mais uma vez, passado para trás. 





Tudo acontece numa pequena vila da província de Buenos Aires, onde afinal todo mundo acaba se conhecendo e sabendo de tudo que se passa.  Desse modo, as  estratégias possíveis acabam sendo ampliadas e viabilizadas, embora as consequências também o sejam. A trama é muito bem construída, revelando, uma vez mais, que a Argentina tem escritores e roteiristas muito bons para relatar histórias e relacioná-las ao ambiente social, econômico e político do país.

O diretor Sebastián Borensztein já nos deu o delicioso “Um Conto Chinês”, em 2011, e dirigiu também um episódio de “Relatos Selvagens”, de 2014.  Sucessos de público no Brasil.  Aqui, ele trabalha com um elenco magnífico, liderado por Ricardo Darín, com participação de seu filho, Chico Darín, e que tem Luis Brandoni, Andrés Parra, Verónica Llinás e muitos outros bons atores e atrizes.  Isso resulta num filme bem equilibrado, convincente nas atuações e com um bom ritmo, capaz de envolver o espectador na história.

“A Odisseia dos Tontos” foi escolhido pela Argentina para representar o país na disputa pelo Oscar de filme internacional.  A Argentina costuma indicar produtos fortes nessa disputa, desta vez, porém, acho mais difícil que obtenha êxito, porque há grandes filmes na competição, inclusive o brasileiro “A Vida Invisível”, de Karim Ainöuz, que me parece superior (sem bairrismo), assim como “Parasita”, de Bong Joon-ho, da Coreia do Sul, e “Dor e Glória” de Almodóvar, entre outros.

A primeira exibição de “A Odisseia dos Tontos” no Brasil se deu na 43ª. Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.




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