quarta-feira, 20 de novembro de 2019

UM DIA DE CHUVA EM NOVA YORK

Antonio Carlos Egypto





UM DIA DE CHUVA EM NOVA YORK (A Rainy Day in New York).  Estados Unidos, 2018.  Direção e roteiro: Woody Allen.  Com Selena Gomez, Timothée Chalamet, Elle Fanning, Jude Law, Liev Schreiber.  95 min.


Que bom ter de volta o Woody Allen às telas de cinema.  Estava fazendo falta.  Suas histórias inteligentes, cheias de charme, com diálogos bem humorados, irônicos e sutis, estão disponíveis novamente ao nosso desfrute.  E aqui, mais uma vez, a cidade é um grande protagonista.  E, mais uma vez, é Nova York, Manhattan, quem brilha e se torna deslumbrante, fabulosa, num dia de chuva.

Se em Nova York tudo acontece, tudo pode acontecer, a vida e a arte pulsam, a chuva não encobre nada disso, até acentua a aventura e a experiência amorosa.

Por conta de uma entrevista com um diretor hollywoodiano, Rolland Polard (Liev Schreiber), a estudante de jornalismo Ashleight (Elle Fanning) tem de se deslocar a Manhattan num final de semana.  Oportunidade logo abraçada por seu namorado Gatsby (Timothée Chalamet).  E ambos fazem planos de como aproveitar Nova York juntos, após a entrevista.  Romanticamente juntos, com direito até a passeios de charrete pelo Central Park.




O que se planeja, no entanto, pode não acontecer.  Elementos fortuitos, inesperados, encontros imprevistos, expectativas não consideradas, podem mudar o quadro dessa comédia romântica, sem que ela deixe de ser uma comédia ou deixe de ser romântica.  A responsável pelas mudanças de comportamento, definitivamente, não é a chuva.

Um filme que tem leveza, sutileza, tiradas inteligentes e bem-humoradas o tempo todo, e uma trilha sonora belíssima fazem do espectador seu cúmplice. As referências cinematográficas envolvendo o nome dos personagens agrada e atrai os cinéfilos. É de se sair feliz do cinema, achando que a vida, afinal, pode ser charmosa e divertida.  Sequências muito bem concebidas e realizadas compõem a narrativa de Woody Allen, que nunca desaponta.

Timothée Chalamet é ao mesmo tempo contido e expressivo, no papel de Gatsby, o namorado que espera e também experimenta.  Elle Fanning é tão deslumbrada quanto a personagem que representa, descobrindo importantes figuras do cinema de Hollywood.  Exagera um pouco, beirando o histriônico.  Selena Gomez (Chan), a quem Gatsby redescobre em sua espera, dá o tom firme e charmoso da sua personagem, na sutileza.  O elenco, como um todo, entra bem no clima do conjunto do trabalho. 

As situações têm, como sempre acontece com o diretor, a capacidade de envolver o espectador, enquanto o municia de tiradas críticas, irônicas.  O que faz com que “Um Dia de Chuva em Nova York” alcance um nível que está muito acima das habituais comédias românticas realizadas com mero intuito comercial.  Qualquer que seja o gênero ou a concepção de cinema, tem de estar acima do interesse comercial, mesmo que ele faça parte da história, como é o caso.



Denúncias, investigações, correções de rota na vida pessoal, não podem impedir, como vinha acontecendo, que um talento da importância de Woody Allen pudesse ser posto na geladeira, boicotado ou impedido de trabalhar.  Até porque, como dizia a velha canção de Herivelto Martins, imortalizada por Dalva de Oliveira, “primeiro é preciso julgar para depois condenar”.  Acusar é fácil.  É preciso investigar e dar amplo direito de defesa.  Até prova em contrário, todos são inocentes.  Desconsiderar isso, em nome de uma campanha ou de algum clamor popular, pode gerar grandes injustiças. E também é necessário distinguir a pessoa da obra que ela cria.





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