UM DIA DE CHUVA EM NOVA YORK (A Rainy Day in New York). Estados Unidos, 2018. Direção e roteiro: Woody Allen. Com
Selena Gomez, Timothée Chalamet, Elle Fanning, Jude Law, Liev Schreiber. 95 min.
Que bom ter de volta o Woody Allen às telas de
cinema. Estava fazendo falta. Suas histórias inteligentes, cheias de
charme, com diálogos bem humorados, irônicos e sutis, estão disponíveis
novamente ao nosso desfrute. E aqui,
mais uma vez, a cidade é um grande protagonista. E, mais uma vez, é Nova York, Manhattan, quem
brilha e se torna deslumbrante, fabulosa, num dia de chuva.
Se em Nova York tudo acontece, tudo pode
acontecer, a vida e a arte pulsam, a chuva não encobre nada disso, até acentua
a aventura e a experiência amorosa.
Por conta de uma entrevista com um diretor
hollywoodiano, Rolland Polard (Liev Schreiber), a estudante de jornalismo
Ashleight (Elle Fanning) tem de se deslocar a Manhattan num final de
semana. Oportunidade logo abraçada por
seu namorado Gatsby (Timothée Chalamet).
E ambos fazem planos de como aproveitar Nova York juntos, após a
entrevista. Romanticamente juntos, com
direito até a passeios de charrete pelo Central Park.
O que se planeja, no entanto, pode não
acontecer. Elementos fortuitos,
inesperados, encontros imprevistos, expectativas não consideradas, podem mudar
o quadro dessa comédia romântica, sem que ela deixe de ser uma comédia ou deixe
de ser romântica. A responsável pelas
mudanças de comportamento, definitivamente, não é a chuva.
Um filme que tem leveza, sutileza, tiradas
inteligentes e bem-humoradas o tempo todo, e uma trilha sonora belíssima fazem do
espectador seu cúmplice. As referências cinematográficas envolvendo o nome dos
personagens agrada e atrai os cinéfilos. É de se sair feliz do cinema, achando
que a vida, afinal, pode ser charmosa e divertida. Sequências muito bem concebidas e realizadas
compõem a narrativa de Woody Allen, que nunca desaponta.
Timothée Chalamet é ao mesmo tempo contido e
expressivo, no papel de Gatsby, o namorado que espera e também
experimenta. Elle Fanning é tão
deslumbrada quanto a personagem que representa, descobrindo importantes figuras
do cinema de Hollywood. Exagera um
pouco, beirando o histriônico. Selena
Gomez (Chan), a quem Gatsby redescobre em sua espera, dá o tom firme e charmoso
da sua personagem, na sutileza. O
elenco, como um todo, entra bem no clima do conjunto do trabalho.
As situações têm, como sempre acontece com o
diretor, a capacidade de envolver o espectador, enquanto o municia de tiradas
críticas, irônicas. O que faz com que
“Um Dia de Chuva em Nova York” alcance um nível que está muito acima das
habituais comédias românticas realizadas com mero intuito comercial. Qualquer que seja o gênero ou a concepção de
cinema, tem de estar acima do interesse comercial, mesmo que ele faça parte da
história, como é o caso.
Denúncias, investigações, correções de rota na
vida pessoal, não podem impedir, como vinha acontecendo, que um talento da
importância de Woody Allen pudesse ser posto na geladeira, boicotado ou
impedido de trabalhar. Até porque, como
dizia a velha canção de Herivelto Martins, imortalizada por Dalva de Oliveira,
“primeiro é preciso julgar para depois condenar”. Acusar é fácil. É preciso investigar e dar amplo direito de
defesa. Até prova em contrário, todos
são inocentes. Desconsiderar isso, em
nome de uma campanha ou de algum clamor popular, pode gerar grandes injustiças.
E também é necessário distinguir a pessoa da obra que ela cria.
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