sexta-feira, 31 de maio de 2019

O QUE HÁ PARA VER

Antonio Carlos Egypto


Os filmes não param de estrear nos cinemas.  No ano passado, foram mais de 400 lançados na programação regular (sem contar mostras e festivais), o que representa mais de um filme por dia.  Não dá para ver nem comentar tanta coisa.  Mas vou dar uma passada em alguns lançamentos que ainda não abordei por aqui, que já estão em cartaz, ou entram em seguida.

O filme goiano DIAS VAZIOS, de Robney Bruno Almeida, com base no romance “Hoje Está Um Dia Morto”, do também goiano André De Leones, coloca em evidência a vida dos jovens em pequenas cidades, onde eles não encontram perspectivas.  A partir de dois casais de namorados, um, do presente, outro, do passado, o motivo do suicídio de um jovem  e do desaparecimento de sua namorada trazem um mistério a ser desvendado e a certeza de que as coisas podem ser mais complexas do que parecem.  Produção de 2016, com um bom elenco predominantemente jovem.  103 minutos.



O filme mexicano COMPRA-ME UM REVÓLVER nos coloca num mundo hipotético futuro, em que o México estará tomado pelos grupos armados que imporão suas regras e sua violência a todos, sem critério ou contestação possível.  As mulheres estão desaparecendo, vivem escondidas como se fossem homens ou cobertas por máscaras.  Elas não têm cabida num mundo assim. Será, no entanto, uma menina que terá papel heróico numa trama estranha e sinistra, que pode ser uma premonição terrível do mundo que virá, de pura violência, embalado pelas armas.  Direção de Júlio Hernández Cordón, com Ángel Leonel Corral, Matilde Hernández, Rogelio Sosa.  Produção de 2018, 90 minutos.

Vem da Índia A COSTUREIRA DOS SONHOS, da diretora Rohena Gera, que é uma produção de 2018, bem realizada, que vai agradar especialmente aos que curtem um bom folhetim.  Uma daquelas histórias de amor impossível, em que o peso das castas indianas, com suas barreiras intransponíveis, impede que o afeto se converta em desejo e amor genuíno.  O elenco com Tillotama Shome e Vivek Gomber nos papéis principais mostra talento e dá bem conta do recado.  99 minutos.

O filme estadunidense MA, de 2018, traz Octavia Spencer como protagonista, o que já seria uma indicação para ver o terror dirigido por Tate Taylor.  Mas a personagem Maggie, a Ma do título, age com base numa psicologia de almanaque.  Sabe aquela história de trauma infantil, vingança com base em humilhação dos colegas e de garotos desejados, que deságua em matanças descontroladas, violência e maldades sem fim?  Pois é.  Tem um subtexto de discriminação racial, é verdade.  Mas não convence.  Trata-se de uma adulta que seduz adolescentes com bebidas grátis, espaço para festinhas, e os diverte com seu jeito maluco. Tudo termina espalhando um terror que é pura violência.  Quase não tem suspense.  Só para quem gosta do gênero, e olhe lá.  100 minutos.




Mais criativo e original é o filme do Reino Unido EU NÃO SOU UMA BRUXA, da diretora da Zâmbia, Rungano Nyoni.  Conhecemos um campo de bruxas no meio do deserto, todas com longas fitas acopladas ao corpo para não voarem, que recebem um novo membro, Sulha (Margaret Mulubwa), de apenas 8 anos de idade, acusada de ser bruxa.  Ela mesma tem de reconhecer isso, sabe-se lá como, ou vai virar cabra.  Ela passa, então, a ser controlada pelo Estado e obrigada a aprender e cumprir as regras da bruxaria.  Passa a sofrer as hostilidades dos habitantes da localidade, que a temem, esperam dela milagres (como fazer chover, por exemplo) e a rejeitam fortemente.  É surreal, mas traz um questionamento cultural de um modelo de crenças, valores, modos de exercer o poder e subjugar a mulher, que mexe com o espectador.  A produção, de 2018, é bem caprichada, com uma bela fotografia e um bom elenco.  94 minutos.




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