quinta-feira, 19 de julho de 2018

EGON SCHIELE - MORTE E DONZELA


Antonio Carlos Egypto




EGON SCHIELE – MORTE E DONZELA (Egon Schiele - Tod und Mädchen).  Áustria, 2016.  Direção: Dieter Berner.  Com Noah Saavedra, Maresi Riegner, Valerie Pachner, Marie Jung, Elisabeth Umlauft.  110 min.


Egon Schiele (1890-1918) viveu pouco, apenas 28 anos, mas produziu uma obra pictórica grande, importante e inovadora.  O pintor austríaco do começo do século XX é considerado um nome de destaque do expressionismo.  Os desenhos e pinturas em que efeitos distorcidos são explorados foram, na grande maioria dos casos, nus femininos.  E ele tinha como modelos garotas muito jovens, a começar por sua própria irmã, sua primeira modelo.  A ênfase não só na nudez, mas, principalmente, na expressão erótica das jovens parece indicar tendência a  pedofilia, não no sentido de abuso sexual, mas de atração por meninas novas.

O convívio com essas meninas que frequentavam sua casa, seu ateliê, ao lado do erotismo do trabalho, acabou lhe valendo um processo e uns dias de cadeia, em 1912, pela acusação de imoralidade e inadequação da obra, como ofensiva para as crianças que a ela estavam expostas, quando não eram os próprios modelos.  O desfecho poderia ter sido bem pior se a suposta perda da virgindade delas tivesse sido provada, o que não aconteceu.



A obra vigorosa e provocativa, para alguns francamente pornográfica, aí está, permanecendo para a posteridade.  O talento é evidente.  Já era no seu curto tempo de existência para os que conheciam as artes plásticas.  Caso de seu contemporâneo Gustav Klimt (1862-1918), o grande pintor simbolista austríaco, que teria sido incentivador de Schiele, comprado seus trabalhos, lhe apresentado pessoas influentes e lhe arranjado algumas modelos.  Quase trinta anos mais velho, Klimt já era um artista de peso, a essa altura.  Curiosamente, Schiele e Klimt vieram a falecer no mesmo ano, que marcava o fim da Primeira Guerra Mundial.

O filme austríaco “Egon Schiele – Morte e Donzela”, dirigido por Dieter Berner, é uma boa cinebiografia do pintor.  Tenta recriar o clima de sua vida e mostra um pouco da sua obra.  Tem sequências muito bonitas e bem filmadas, um elenco jovem que não chega a brilhar, mas atua com empenho, e explora a nudez e o erotismo que combinam com o trabalho do pintor.  Não vai mais fundo nos questionamentos que a vida e a obra de Egon Schiele suscitam, mas traça um retrato razoável disso.

Um filme anterior sobre o mesmo pintor, “Excesso e Punição”, de Herbert Vesely, de 1981, com Mathieu Carrière e Jane Birkin, era mais forte e sombrio, no retrato de Egon Schiele.  Não chegou a obter sucesso, talvez por ser menos sedutor e de ritmo lento.  Eu diria que os dois filmes se complementam, ao tentar trazer para um público mais amplo a história e o trabalho do jovem Schiele, que se despediu da vida por conta da gripe espanhola.  O pai dele morrera de sífilis.  Tempos em que a medicina ainda podia pouco e a inevitabilidade da morte em idade precoce se impunha.




O subtítulo do filme de Dieter Berner: “Morte e Donzela” faz referência a um quadro famoso, de 1915-16, assim denominado, incluindo os artigos..  A morte e a donzela   é um motivo renascentista, aqui explorado com um casal entre lençóis, visto de cima, envolvido por formas que parecem agitadas, remetendo à ideia de morte.

O filme, bem realizado, é uma oportunidade para que, quem não conhece, entre em contato com a arte de Egon Schiele.  E quem já o admira possa conhecer algo mais de sua vida e obra.  Vale por isso.  

         

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