terça-feira, 31 de julho de 2018

CAFÉ

Antonio Carlos Egypto






CAFÉ (Caffè).  Itália, 2016.  Direção: Cristiano Bortone.  Com Hichem Yacoubi, Dario Aita, Fangsheng Lu, Ennio Fantastichini.
 

“Café”, o filme, não deixa de ser uma homenagem ao nosso sofisticado hábito de tomar café com algum requinte.  Seja sendo uma produção super especial, única, seja sendo servido num bule valiosíssimo, seja lendo a sua borra na xícara.  Ou, ainda, discorrendo sobre os seus três sabores básicos: amargo, azedo e perfumado.

Outra constatação muito importante, o café é um hábito planetário, alcança todo o mundo.  A prova disso é que o filme, do diretor italiano Cristiano Bortone, conta três histórias passadas em países distintos: Itália, Bélgica e China ( é uma coprodução dos três países) e envolve personagens árabes. Uma trama permeada pelo café, como elemento simbólico e econômico, que pode vir a frequentar o noticiário policial e mexer de forma intensa com a vida das pessoas.




As histórias têm um fio tênue que as liga, como, de algum modo, todos nos ligamos enquanto seres humanos, ainda que longe uns dos outros, mundo afora.

Um precioso bule de café roubado leva um árabe pacífico a se envolver com violência na Bélgica, para recuperá-lo.  Questões políticas, manifestações de rua em Bruxelas, insatisfações com a situação econômica, falta de empregos e de opções para os jovens e conflitos familiares imbricam-se num relato policial, a partir de um ladrão imaturo e inepto.  A mesma questão do colapso das políticas de austeridade europeias encontra em Trieste, na Itália, uma fábrica e um museu de café que serão objeto de um assalto que põe em evidência a combinação entre a questão ética e o desespero numa sociedade de consumo que não se sustenta.

Na China, não é diferente.  Uma fábrica de café põe em risco o meio ambiente e a comunidade, pela ganância e rigidez de seus donos, insensíveis ao sofrimento humano que podem causar.  E faz-se um chamamento para a revalorização do cultivo romântico e tradicional do café.  Isso entremeado por uma história de amor e, claro, pela redescoberta de um sabor artesanal da bebida.

Cada uma das histórias de per si  teria condição de alimentar um longa, porque havia muito ainda a explorar.  O resultado encontrado, no entanto, é bom pela dimensão globalizada em que situa o café e os dramas que podem cercá-lo.  Considerando que os maiores produtores, como o Brasil e a Colômbia, estão fora da trama, tem-se a dimensão da representatividade do café no contexto mundial.




“Café” é um bom produto cinematográfico global, que se vale da força simbólica da bebida que o mundo aprecia para contar histórias envolventes que dialogam com a realidade econômica atual.  A narrativa salta de uma história a outra, ao longo de todo o filme, sem chegar a cansar ou a confundir o espectador, pela mão segura de um bom cineasta e de um bom e diversificado elenco.

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8 ½. FESTA DO CINEMA ITALIANO

De 02 a 08 de agosto de 2018 São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Belém, Belo Horizonte, Curitiba, Florianópolis, Goiânia, Porto Alegre, Recife, Salvador e Vitória apresentam nos cinemas a tradicional 8 ½. Festa do Cinema Italiano.   São 11 longas-metragens da produção italiana recente, que merecem ser conferidos.  Já vi e recomendo “Uma Questão Pessoal”, dos irmãos Taviani (o último filme de Vittorio Taviani, falecido em abril último) e “Fortunata”, de Sergio Castellitto.  Voltarei ao assunto depois de ver outros filmes dessa mostra.
 


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