terça-feira, 7 de agosto de 2018

TESNOTA


Antonio Carlos Egypto





TESNOTA (Tesnota).  Rússia, 2017.  Direção: Kantemir Balagov.  Com Darya Zhovner, Olga Dragunova, Artem Tsypin, Nazir Zhukov.  118 min.


“Tesnota”, que está entrando em cartaz nos cinemas nesta semana, é o primeiro longa-metragem do diretor russo Kantemir Balagov, que também responde pela montagem e pelo roteiro do filme, este em parceria com Anton Yarush.  Indícios claros de um trabalho autoral, que se confirma desde as primeiras imagens, nada convencionais.  Apresenta uma fotografia que enfatiza tons escuros e cores fortes ao mesmo tempo, fazendo sobressair as tensões do ambiente.

O foco do filme é uma comunidade judaica, fechada e marginalizada, na localidade de Nalchik, norte do Cáucaso, cidade natal do diretor.  O ano: 1998.  A personagem central Ilana, de 24 anos, trabalha na oficina do pai como mecânica e ama um personagem cabardino, num  relacionamento algo clandestino, não aceito pela família.  Trata-se do que na própria trama do filme é referido como sendo as tribos, que são discriminadas pelos russos.




O evento central da narrativa é o sequestro de um casal de noivos, logo após a cerimônia de compromisso deles.  David, o noivo, é o irmão mais novo de Ilana.  E a questão que se colocará é a de como pagar o resgate pedido sem mexer com a polícia, para evitar maiores complicações.

O dinheiro servirá para mostrar, de um lado, um espírito de coletividade e solidariedade, mas, de outro, o ressentimento de alguns, a chantagem e também a tentativa de se aproveitar da situação para conseguir algum objetivo, difícil de ser alcançado por outro meio.

A família de Ilana e David não tem posses suficientes e a própria oficina mecânica, que é sua fonte de sustento, estará em questão.  Assim como o casamento de Ilana. Passaram  a vida se mudando de um lado para o outro, para tentar sobreviver e escapar dos preconceitos.  O sequestro parece levá-los de volta para a estrada.  Inevitável será enfrentar  questões éticas, que poderão complicar ou arruinar a vida de cada um deles: pai, mãe, irmãos e parceiros amorosos.  As decisões que todos têm de tomar são vitais, decisivas e urgentes.




Todo esse clima de angústia e tensão é muito bem trabalhado ao longo do filme, em ritmo lento e seguro.  Pouco é explicitado verbalmente, o que importa é o que está por trás do não dito.  Está muito presente nos semblantes, gestos, posturas, silêncios.  Elementos fundamentais em “Tesnota”, que dependem do bom desempenho do elenco.

O cineasta tem uma referência e fonte de influência muito fortes.  Estudou e atuou no departamento de cinema da Universidade de Stravropol, com Alexander Sokurov, um grande cineasta russo da atualidade que, por sinal, é um dos produtores de “Tesnota”.  O filme foi exibido nos festivais de Munique e Cannes, em que recebeu o prêmio FIPRESCI (Un Certain Regard).



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