Antonio Carlos
Egypto
A TRAMA (L’Atelier). França, 2017.
Direção e roteiro: Laurent Cantet (roteiro em parceria com Robin
Campillo). Com Marina Fois, Matthieu
Lucci, Warda Rammach, Issam Talbi, Florian Beaujean. 114 min.
Laurent Cantet, o cineasta de “Entre os Muros da
Escola”, de 2008, acredita na educação como caminho de promoção humana e de
saída para alguns dos grandes problemas do mundo contemporâneo. Em “A Trama”, isso é, mais uma vez, muito
claro. A narrativa mostra uma oficina
literária coordenada por uma escritora já reconhecida, Olívia (Marina Fois), e
dirigida a um grupo de jovens, interessados e com talento para a escrita, uns
mais, outros menos, que revela a diversidade.
Ali estão jovens que representam diferentes etnias, imigrantes, extratos
sociais e, consequentemente, posturas e visões de mundo. Neste sentido, formam um microcosmos da
realidade atual da França, ainda que se trate aqui de uma pequena cidade
industrial, com sua história e características próprias. Por sinal, essa história e essas
características serão objeto da criação dos jovens candidatos a escritor, como
referencial fundamental da história policial que eles estão a criar
coletivamente.
Um desses jovens é Antoine (Matthieu Lucci), que vive
o tédio e a falta de trabalho e de perspectivas, convivendo com uma gangue que
cultiva atos de violência. No que
escreve, Antoine vai revelando seu fascínio por essa violência, o que vai
provocar reações contrárias, assustadas ou indignadas, por parte do grupo. E que leva Olívia a buscar entender e
interferir no mundo dele, correndo os riscos correspondentes a uma aproximação
que se fará para além da oficina literária.
O próprio contexto da história já é um importante
trabalho educacional: a formação de novos escritores de ficção, com valorização
da palavra, da expressão escrita, do debate de ideias e do estímulo à
criação. Envolve o questionamento de
valores e atitudes, busca fazer pensar, refletir sobre o que se produz. Educação pela arte, da melhor qualidade.
Os conflitos que daí vão derivar só tomam o rumo que
tomam porque na base está um processo educacional de verdade. E a resolução final é uma nova crença no
processo educativo.
O diretor Cantet fez um belo trabalho, que, longe de
ser otimista, consegue passar ao largo de uma tendência cada vez maior de
descrença no ser humano e em qualquer possibilidade de enfrentar e superar as
tragédias do mundo contemporâneo. Ele
mostra claramente o que nos aflige, sem dourar a pílula, mas não sucumbe à
derrota. Tal como se autodefinia Ariano
Suassuna, o trabalho de Laurent Cantet também é de um realismo esperançoso.
Laurent Cantet na 41.a Mostra |
“A Trama” mostra vida real: estranhamentos, rejeição,
medo, atração por atitudes preconcebidas e violentas. Mas não fica só nisso. Entende que todos os afetos fazem parte da
vida humana. Também estão lá o acolhimento,
a compreensão, a solidariedade e o perdão.
E um apelo à racionalidade, quando os ânimos estão quentes.
O trabalho com o elenco é muito bom. Os protagonistas, muito convincentes e todo o
grupo de jovens, também. Ninguém distoa
e o clima e o ritmo da filmagem nos convidam o tempo todo a analisar o que está
acontecendo e a tirar as nossas próprias conclusões.
“A Trama” foi o filme de encerramento da 41ª. Mostra
Internacional de Cinema em São Paulo e já está entrando em cartaz no circuito
comercial.
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