Antonio Carlos
Egypto
O OUTRO LADO DA ESPERANÇA (Toivon Tuolla Puolen).
Finlândia, 2017. Direção e
roteiro: Aki Kaurismaki. Com Sherwan
Haji, Sakari Kuosmanen, Janne Hyytiäinen, Ylkka Koivula. 100 min.
O cineasta finlandês Aki Kaurismaki já é conhecido do
público cinéfilo brasileiro, por filmes como “A Garota da Fábrica de Caixas de
Fósforos”, de 1989, “Nuvens Passageiras”, de 1996, “O Homem sem Passado”, de
2001, “O Porto”, de 2011, entre outros.
Em “O Outro Lado da Esperança”, seu protagonista é o
refugiado sírio Khaled (Sherwan Haji), que acaba desembarcando na cidade de
Helsinki, meio por acaso. Fugindo da
guerra da Síria e atravessando países inteiros da Europa, como muitos o fazem,
acabou sendo transportado, escondido num contêiner de carvão. Tenta, então, buscar asilo legalmente na
Finlândia, mas se depara com a burocracia e o descaso das autoridades com
figuras como a dele. Isso, de um
lado. De outro, encontra hostilidade e
agressão por parte de militantes da extrema direita, contrários à acolhida de
refugiados.
Kaurismaki nos mostra essa realidade tão dura e
dramática, mas encontra respiro em muitos aspectos. Primeiro, porque sempre existe espaço para um
momento de humor, de irreverência. Para
isso, basta um mal entendido, uma palavra não compreendida ou qualquer coisa
similar. Segundo, porque, como ele nos
mostra, também existe gente boa, que se condói do sofrimento alheio e se dispõe
a ajudar. Terceiro, porque há muita solidão
e desamparo no mundo e os solitários ou os desconsolados podem se dar as mãos
para sobreviver melhor. Quarto, porque
as pessoas se irritam e se opõem à insensibilidade oficial e procuram compensar
o que lhes parece injusto ou desumano.
Por tudo isso, se vê que a esperança existe, não
porque quem a apregoa seja um tolo otimista, mas porque o mundo é mais complexo
do que parece e há espaço para que muita coisa aconteça. O momento é difícil, mas a humanidade ainda
não está irremediavelmente perdida.
O estilo seco, direto e sem muitas nuances do
diretor, nos ajuda a viver o problema do refugiado sírio como se estivéssemos
no dia-a-dia com ele, tendo que lidar com questões triviais, rotineiras,
passando pelos apuros, sem grandes explosões emocionais, tendo de aceitar o que
nos coube no momento.
Que rumo as coisas podem tomar, também é algo que
pode escapar ao controle, frequentemente acontece. E o que se há de fazer? Outra coisa: a experiência de um pode não
servir ao outro ou ele precisará constatar, para se convencer de algo. Não tem muito jeito de ser diferente, para se
evitar certos problemas. Enfim, a vida é complicada, cheia de circunstâncias
surpreendentes e, de onde menos se espera, vem o problema ou a solução.
Um cinema aparentemente simples, no entanto, rico de
situações que nos levam à reflexão, não pela via do excesso, mas pelo
minimalismo ou pela irreverência.
Singelo e sutil.
“O Outro Lado da Esperança” foi o vencedor do Urso de
Prata para o melhor diretor do Festival de Berlim. Exibido na 41ª. Mostra Internacional de
Cinema em São Paulo, já está em cartaz no circuito comercial dos cinemas.
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