segunda-feira, 13 de novembro de 2017

O OUTRO LADO DA ESPERANÇA

  
Antonio Carlos Egypto




O OUTRO LADO DA ESPERANÇA (Toivon Tuolla Puolen).  Finlândia, 2017.   Direção e roteiro: Aki Kaurismaki.  Com Sherwan Haji, Sakari Kuosmanen, Janne Hyytiäinen, Ylkka Koivula. 100 min.


O cineasta finlandês Aki Kaurismaki já é conhecido do público cinéfilo brasileiro, por filmes como “A Garota da Fábrica de Caixas de Fósforos”, de 1989, “Nuvens Passageiras”, de 1996, “O Homem sem Passado”, de 2001, “O Porto”, de 2011, entre outros. 

Em “O Outro Lado da Esperança”, seu protagonista é o refugiado sírio Khaled (Sherwan Haji), que acaba desembarcando na cidade de Helsinki, meio por acaso.  Fugindo da guerra da Síria e atravessando países inteiros da Europa, como muitos o fazem, acabou sendo transportado, escondido num contêiner de carvão.  Tenta, então, buscar asilo legalmente na Finlândia, mas se depara com a burocracia e o descaso das autoridades com figuras como a dele.  Isso, de um lado.  De outro, encontra hostilidade e agressão por parte de militantes da extrema direita, contrários à acolhida de refugiados.




Kaurismaki nos mostra essa realidade tão dura e dramática, mas encontra respiro em muitos aspectos.  Primeiro, porque sempre existe espaço para um momento de humor, de irreverência.  Para isso, basta um mal entendido, uma palavra não compreendida ou qualquer coisa similar.  Segundo, porque, como ele nos mostra, também existe gente boa, que se condói do sofrimento alheio e se dispõe a ajudar.  Terceiro, porque há muita solidão e desamparo no mundo e os solitários ou os desconsolados podem se dar as mãos para sobreviver melhor.  Quarto, porque as pessoas se irritam e se opõem à insensibilidade oficial e procuram compensar o que lhes parece injusto ou desumano.

Por tudo isso, se vê que a esperança existe, não porque quem a apregoa seja um tolo otimista, mas porque o mundo é mais complexo do que parece e há espaço para que muita coisa aconteça.  O momento é difícil, mas a humanidade ainda não está irremediavelmente perdida.

O estilo seco, direto e sem muitas nuances do diretor, nos ajuda a viver o problema do refugiado sírio como se estivéssemos no dia-a-dia com ele, tendo que lidar com questões triviais, rotineiras, passando pelos apuros, sem grandes explosões emocionais, tendo de aceitar o que nos coube no momento.




Que rumo as coisas podem tomar, também é algo que pode escapar ao controle, frequentemente acontece.  E o que se há de fazer?  Outra coisa: a experiência de um pode não servir ao outro ou ele precisará constatar, para se convencer de algo.  Não tem muito jeito de ser diferente, para se evitar certos problemas. Enfim, a vida é complicada, cheia de circunstâncias surpreendentes e, de onde menos se espera, vem o problema ou a solução.

Um cinema aparentemente simples, no entanto, rico de situações que nos levam à reflexão, não pela via do excesso, mas pelo minimalismo ou pela irreverência.  Singelo e sutil.

“O Outro Lado da Esperança” foi o vencedor do Urso de Prata para o melhor diretor do Festival de Berlim.  Exibido na 41ª. Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, já está em cartaz no circuito comercial dos cinemas.






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