quarta-feira, 13 de setembro de 2017

NA PRAIA, À NOITE, SOZINHA


Antonio Carlos Egypto




NA PRAIA, À NOITE, SOZINHA (Bamui Haebyun-eoseo Honja).  Coreia do Sul, 2017.  Direção e roteiro: Hong Sang-soo.  Com Kim Minhee, Seo Younghwa, Jung Jaeyoung, Moon Sungkeun.  101 min.


O cinema do sul coreano Hong Sang-soo é ousado, na medida em que ele se permite mostrar cenas e personagens em que, aparentemente, nada acontece e nem se pode dizer que conversem sobre questões profundas.  Além disso, comem e, principalmente, bebem quase todo o tempo, em volta de mesas de conversa, que muitas vezes descambam para o descontrole, motivado certamente pelo consumo do álcool.

No entanto, é um cinema original, cheio de vida e de verdade, de pessoas e situações banais, mas autênticas.  Por que mostrá-las, se não são heróis, figuras extraordinárias, grandes pensadores, filósofos, ou gente revolucionária que, com sua ação, mudam o mundo?  Ou, ainda, que sejam capazes de descobrir o sentido da vida?  Porque a vida é feita assim, de momentos felizes, rotineiros, agradáveis ou incômodos.  E não é isso que se vê todo dia?

A atriz Younghee, personagem de “Na Praia, à Noite, Sozinha”, é bem sucedida no seu trabalho, mas ainda não se encontrou, não sabe direito quem é, o que quer, onde seria bom morar, se vale a pena investir numa relação amorosa, da qual ela duvida, e muitas vezes não tem paciência nos relacionamentos que mantém com amigos e parentes.  Vive uma questão existencial, que esbarra nas pequenas coisas do cotidiano e na falta de um projeto de vida que a impulsione para algum lugar.




Enfrenta, portanto, os aborrecimentos decorrentes dessa condição, as tentativas um tanto toscas de resolver suas pendências, o incômodo tanto da solidão como do convívio social, que não constroem nada de muito concreto.

O filme se torna, assim, melancólico, como sua protagonista.  Hong Sang-soo mantém o clima leve das cenas que vimos em outros belos trabalhos dele, como “HaHaHa”, de 2010, “A Filha de Ninguém”, de 2013, e “Certo Agora, Errado Antes”, de 2015, mas a insatisfação pesa mais aqui.  Pode haver lances patéticos, mas a perda de rumo não chega a ser uma coisa divertida.  A falta de um horizonte acaba se transformando em angústia, deixando no ar decisões importantes que, na verdade, não podem ser tomadas.

Tudo isso se deduz a partir de cenas e sequências que apenas mostram pequenos incômodos ou problemas, ao lado de uma dificuldade atávica para lidar com eles.  Ou de lhes dar a importância que, de fato, eles têm.  Na base de tudo, a necessidade e a falta do amor.  E também uma certa incapacidade de buscá-lo, de lutar por ele.


“Na Praia, à Noite, Sozinha” é o filme de abertura do INDIE 2017 e, assim como outros títulos do festival, será lançado nos cinemas mais adiante.


Nenhum comentário:

Postar um comentário