Antonio Carlos
Egypto
NA PRAIA, À NOITE, SOZINHA (Bamui Haebyun-eoseo Honja).
Coreia do Sul, 2017. Direção e
roteiro: Hong Sang-soo. Com Kim Minhee, Seo Younghwa, Jung
Jaeyoung, Moon Sungkeun. 101 min.
O cinema do sul coreano Hong Sang-soo é ousado, na
medida em que ele se permite mostrar cenas e personagens em que, aparentemente,
nada acontece e nem se pode dizer que conversem sobre questões profundas. Além disso, comem e, principalmente, bebem
quase todo o tempo, em volta de mesas de conversa, que muitas vezes descambam
para o descontrole, motivado certamente pelo consumo do álcool.
No entanto, é um cinema original, cheio de vida e de
verdade, de pessoas e situações banais, mas autênticas. Por que mostrá-las, se não são heróis,
figuras extraordinárias, grandes pensadores, filósofos, ou gente revolucionária
que, com sua ação, mudam o mundo? Ou,
ainda, que sejam capazes de descobrir o sentido da vida? Porque a vida é feita assim, de momentos
felizes, rotineiros, agradáveis ou incômodos.
E não é isso que se vê todo dia?
A atriz Younghee, personagem de “Na Praia, à Noite,
Sozinha”, é bem sucedida no seu trabalho, mas ainda não se encontrou, não sabe
direito quem é, o que quer, onde seria bom morar, se vale a pena investir numa
relação amorosa, da qual ela duvida, e muitas vezes não tem paciência nos
relacionamentos que mantém com amigos e parentes. Vive uma questão existencial, que esbarra nas
pequenas coisas do cotidiano e na falta de um projeto de vida que a impulsione
para algum lugar.
Enfrenta, portanto, os aborrecimentos decorrentes
dessa condição, as tentativas um tanto toscas de resolver suas pendências, o
incômodo tanto da solidão como do convívio social, que não constroem nada de
muito concreto.
O filme se torna, assim, melancólico, como sua
protagonista. Hong Sang-soo mantém o
clima leve das cenas que vimos em outros belos trabalhos dele, como “HaHaHa”,
de 2010, “A Filha de Ninguém”, de 2013, e “Certo Agora, Errado Antes”, de 2015,
mas a insatisfação pesa mais aqui. Pode
haver lances patéticos, mas a perda de rumo não chega a ser uma coisa
divertida. A falta de um horizonte acaba
se transformando em angústia, deixando no ar decisões importantes que, na
verdade, não podem ser tomadas.
Tudo isso se deduz a partir de cenas e sequências que
apenas mostram pequenos incômodos ou problemas, ao lado de uma dificuldade
atávica para lidar com eles. Ou de lhes
dar a importância que, de fato, eles têm.
Na base de tudo, a necessidade e a falta do amor. E também uma certa incapacidade de buscá-lo,
de lutar por ele.
“Na Praia, à Noite, Sozinha” é o filme de abertura do
INDIE 2017 e, assim como outros títulos do festival, será lançado nos cinemas
mais adiante.
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