Antonio Carlos
Egypto
BINGO, O REI DAS MANHÃS. Brasil, 2016.
Direção: Daniel Rezende. Com
Vladimir Brichta, Leandra Leal, Augusto Madeira, Emanuelle Araújo, Ana Lúcia
Torre. 113 min.
“Bingo, o Rei das Manhãs” foi escolhido para
representar o Brasil em pelo menos duas premiações internacionais importantes:
o Oscar de filme estrangeiro e o Goya, espanhol.
Trata-se, de fato, de uma produção muito bem cuidada,
com ótimo elenco e um personagem central que surpreende totalmente. Afinal, Bingo é inspirado na história do
palhaço Bozo, que alcançou uma das maiores audiências das manhãs televisivas,
nos anos 1980. Ou melhor, é inspirado na
vida do ator e apresentador Arlindo Barreto, um dos principais intérpretes do
palhaço Bozo e que se tornou, na época, o anônimo mais famoso do Brasil. A identidade do palhaço não podia ser
revelada, cláusula pétrea de contrato, e ele se apresentava totalmente
produzido, mascarado, irreconhecível.
O assunto, a princípio, parece pouco atraente. Por que o palhaço que protagonizava o
programa infantil de grande sucesso na TV mereceria tanta atenção? O que funciona bem no filme é justamente
mostrar o avesso do avesso, como dizia Caetano Veloso em sua canção.
O ator que encarnava Bingo vinha de uma experiência
com filmes pornô, tinha um comportamento promíscuo na vida sexual e era chegado
tanto a um uísque quanto a uma carreirinha de cocaína. Certamente não parece o perfil mais
apropriado para representar o palhaço mais amado pelas crianças.
É justamente desse contraste que o filme “Bingo”
extrai algumas de suas melhores cenas. É
pela sacanagem por trás do palhaço que ele funciona melhor no papel. Sem papas na língua, sem moralismos, sem se
intimidar ou pretender ser sempre bonzinho.
Em vez da caretice proposta pela marca, o improviso e a criatividade,
nada ingênuos, tratando as crianças sem infantilismo ou frescura. Sucesso total, com direito a Gretchen
dançando sensualmente Conga, Conga,
na atração infantil.
Essa história é bem desenvolvida no filme pelo
diretor Daniel Rezende, com um roteiro muito bem engendradro, por Luiz
Bolognesi (que também está, com Laís Bodansky, em “Como Nossos Pais”, em
cartaz). O principal destaque do elenco
é, naturalmente, Vladimir Brichta, muito convincente como Bingo, mas Leandra
Leal e Augusto Madeira têm um peso importantíssimo no filme. Todo o elenco está bem afinado e até as
participações especiais de Domingos Montagnier e Pedro Bial contribuem para
chamar a atenção para a produção.
“Bingo” mostra uma boa capacidade de comunicação com
o público, um atributo algumas vezes negligenciado pelo nosso cinema
autoral. Não nivela por baixo, como
muitas vezes acontece com as comédidas televisivas que podem alcançar grande
público nos cinemas. É um trabalho
equilibrado, que merece mesmo atenção.
Se desta vez o cinema brasileiro será notado, ou terá
algum destaque nas premiações em que o filme está envolvido, é uma outra
história. Se desta vez se fez a melhor
escolha para nos representar no Oscar, não sei.
Mas que “Bingo, o Rei das Manhãs” tem muitos méritos, não tenho dúvida.
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