sábado, 30 de abril de 2016

A GAROTA DE FOGO


Antonio Carlos Egypto




A GAROTA DE FOGO (Magical Girl).  Espanha, 2014.  Direção e roteiro: Carlos Vermut.  Com José Sacristán, Bárbara Lennie, Luís Bermejo, Lucía Pollán.  127 min.



“A Garota de Fogo”, do cineasta espanhol Carlos Vermut, é uma bela surpresa.  Um filme criativo e um tanto maluco, capaz de provocar e intrigar o espectador.  Brinca com o fantástico de forma dramática.  Explora o suspense, na linha dos filmes policiais e tem humor, inclusive non sense.  Tudo superposto, num emaranhado que não segue o ritmo cronológico.  Enfim, um quebra-cabeças e tanto.




O que aparece como fragmento, muitas vezes estranho, acaba fazendo sentido depois.  O que não se espera também não decepciona.  Era por aí mesmo, embora a gente não tivesse imaginado.  Ou então assusta, é uma doidice, mas que dá para entender, dentro do contexto da trama.

Que uma menina de 12 anos, com leucemia e chance de morrer antes de completar os 13 anos, esteja num mundo mágico de fantasia e tenha desejos que, para serem realizados, vão implicar muito dinheiro e ela nem tenha noção disso, é perfeitamente compreensível.  Que um pai queira realizar esse desejo para compensá-la, também. Ainda que isso seja custoso demais e totalmente irracional, já que se situa no terreno da pura fantasia de consumo, que não passou nem no mais elementar teste crítico.  Já roubar, chantagear, tentar manipular outras pessoas para obter isso, é algo inconcebível.

Acontece que, em “A Garota de Fogo”, o inconcebível cabe perfeitamente.  Tudo pode ser concebido e se encaixar na narrativa.  Há várias outras situações parecidas, em que o comportamento dos personagens escapa à lógica ou eventos são envoltos em grande mistério.  O espectador preenche a lacuna, com a sua própria imaginação.  O que pode tornar a história mais excitante ou maluca ainda.




Tudo muito bem feito, cenas bem concebidas, elenco rendendo muito bem, surpresas, suspense, estranhezas a toda hora.  E a gente embarca no universo disfuncional de Carlos Vermut. 

Não surpreende que Pedro Almodóvar tenha dito que Vermut é o maior talento espanhol deste século XXI.  Claro, “Magical Girl” se inspira fortemente no estilo almodovariano.  Não conheço outros trabalhos desse diretor e roteirista.  A julgar pelo trailer de sua obra anterior, “Diamond Flash”, de 2011, o clima parece ser também intenso, dramático e de suspense, mas sem a exuberância do filme atual.  De qualquer modo, percebe-se que Vermut é capaz de transitar por diferentes climas e estilos, se quiser.  Tem amplo domínio da linguagem cinematográfica para tal.


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