Antonio Carlos
Egypto
MARAVILHOSO BOCCACCIO (Maraviglioso Boccaccio). 
Itália, 2015.  Direção: Paolo e
Vittorio Taviani.  Com Ricardo
Scarmarcio, Kim Rossi Stuart, Jasmine Trinca, Lello Arena, Paola Cortellesi,
Carolina Crescentini.  115 min.
Giovanni Boccaccio (1313-1375) e seu Decameron, com cem histórias escritas
entre 1348 e 1353, marcam uma ruptura com a moral medieval e introduzem um
realismo humanista, em que a sexualidade e a perversidade ocupam papel de
relevo.  Atraente e polêmico material,
marco da literatura, um dos responsáveis pela fixação do idioma italiano, foi
objeto da atenção dos melhores cineastas da Itália. 
Em 1962, o filme “Boccaccio 70”, com quatro
episódios, reuniu Federico Fellini, Luchino Visconti, Vittorio De Sica e Mario
Monicelli numa comédia antológica.  Em
1971, foi a vez de Pier Paolo Pasolini filmar “Decameron”, com absoluto
destaque para o erotismo.  Outro grande
trabalho cinematográfico.  Agora é a vez
dos irmãos Taviani, dupla brilhante de cineastas, contarem histórias livremente
inspiradas no Decameron de
Boccaccio.  
A primeira coisa a apontar sobre esse filme dos
irmãos Taviani é que ele é de uma beleza ímpar. 
Filmado na Toscana e Lazio, em lugares encantadores e envolvendo
antiquíssimos castelos de até mil anos de idade, nos leva diretamente à cena
medieval.  A variação das cores e
tonalidades se alterna para melhor expressar as diferentes situações contadas
pelos narradores.  Um elenco jovem, de
belas moças e rapazes, contribui para a estética da obra, de maneira relevante.
Assim,  podemos dizer que “Maravilhoso
Boccaccio” é em tudo e por tudo um filme sedutor. 
As histórias escolhidas e o tom com que são mostradas
enfatizam o amor em seus múltiplos ângulos: do grotesco ao dramático e ao
erótico, como antídoto para a morte, às vezes cruel e opressor, às vezes
ingênuo e equivocado.
A criação artística, a literatura, mostra os caminhos
da imaginação, absolutamente essencial e necessária para enfrentar o mal, a
tragédia, no caso, aqui, a peste negra, que devastava as cidades da Toscana na
época em que Boccaccio escreveu.
Um grupo de homens e mulheres jovens se refugia numa
vila remota, nas colinas que cercam Florença, para escapar da peste e viver em
comunidade com absoluta simplicidade, contando histórias uns para os
outros.  A imaginação é a seiva da vida
desses jovens, em especial, a das mulheres, que tomam a dianteira da ação, a
começar por decidir deixar a cidade, talvez numa proposta de vida imoral.  Mas o que é a moral, diante da grandeza do
amor e da própria sobrevivência?
O melhor que tenho a propor é ver onde está passando
o filme perto de você, comprar seu ingresso, relaxar e, como diria aquele
programa infantil da TV Cultura: “Senta, que lá vem história”.  




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