Antonio
Carlos Egypto
TUDO POR AMOR AO CINEMA. Brasil, 2014.
Direção e roteiro: Aurélio Michiles.
Documentário. 97 min.
O amazonense Cosme Alves Netto (1937-1996) foi
curador da cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, por mais de
três décadas. Nesse período, e mesmo
antes dele, se notabilizou na luta pela preservação e divulgação de antigos
filmes brasileiros. E dos filmes que
mais admirava na infância, como ele mesmo dizia.
Seu trabalho adquiriu grande significado político, em
função do período da ditadura, que
envolvia forte censura, prisões e tortura.
Ele assumiu a cinemateca do MAM, cujo acervo ele constituiu, a partir de
agosto de 1964, poucos meses após a deflagração do golpe. Seu trabalho foi de resistência. Envolvia o agrupamento e a organização de
manifestações culturais, a guarda clandestina de filmes perseguidos pela
ditadura e a disposição de procurar exibi-los sempre que uma oportunidade
pudesse aparecer.
Basta lembrar que as filmagens interrompidas de
“Cabra Marcado Para Morrer”, de Eduardo Coutinho, que puderam ser retomadas
duas décadas depois porque ficaram lá guardadas sob o nome falso de “A Rosa do
Campo”, permitiram ao diretor realizar um dos mais importantes trabalhos da
história da filmografia brasileira.
Cosme foi, mesmo, uma figura apaixonada, como o
título do filme “Tudo Por Amor ao Cinema” sugere. Mas isso deve ser entendido dentro da sua
militância política. Não por acaso foi
preso e torturado em duas ocasiões, no período da ditadura militar.
O documentário de Aurélio Michiles, uma cinebiografia
de Cosme, é uma homenagem a esse grande batalhador cultural do cinema no Brasil. Nele, o próprio Cosme expõe algumas de suas
ideias em vídeo, 34 entrevistas de pessoas falam dele e de seu trabalho,
entremeadas por cenas de 70 filmes e um grande arquivo de imagens fotográficas
e objetos ligados à sua vida. Dá uma
dimensão clara da importância do personagem.
O que mais me impressionou, no entanto, foram duas
histórias fantásticas. Uma, a de como
Cosme recuperou uma agenda de endereços comprometedora, seis meses depois,
dentro de um dos órgãos repressores das Forças Armadas, durante a ditadura
militar. A outra, de como todo o acervo
da cinemateca e filmes com nitrato de prata, facilmente inflamáveis, sobreviveu
intacto ao incêndio que destruiu o MAM do Rio.
Situações inacreditáveis, que marcaram a história de vida de Cosme Alves
Netto e evitaram que novas tragédias acontecessem.
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