sexta-feira, 11 de abril de 2014

YVES SAINT LAURENT


Antonio Carlos Egypto





YVES SAINT LAURENT (Yves Saint Laurent).  França, 2013.  Direção: Jalil Lespert.  Com Pierre Niney, Guillaume Gallienne, Charlote Le Bon, Laura Smet.  116 min.



Um dos primeiros cuidados a tomar quando se faz uma biografia, seja na literatura, seja no teatro ou no cinema, é o respeito à obra do biografado.  Afinal, se a pessoa foi lembrada para ser retratada, não há de ser pelos porres que tomou, pelas brigas que aprontou, pelas mulheres que teve ou traiu, por ser uma personalidade excêntrica ou algo assim.  Tudo isso pode ser importante e entrar na história.  Mas é a obra que a pessoa realizou o que de fato conta.  E que fez dela alguém importante para ser lembrado.  Por isso, creio que o trabalho que notabilizou a pessoa deve ser bem mostrado e colocado em primeiro plano e não ser eclipsado pelas fofocas, tramas amorosas ou tragédias de sua vida.

Dito isso, posso agora afirmar que considero “Yves Saint Laurent” uma boa cinebiografia de um dos maiores talentos da moda, no século XX.  Para quem não conhece a sua história, o filme explica.  Dá para ver a sua ascensão profissional ao longo do tempo e as suas criações em várias etapas.  Muitos vestidos são mostrados, nos vários estilos que ele foi criando, ao encenar desfiles famosos, ensaios ou eles sendo concebidos e desenhados por Yves.  É possível, até para quem não tem muito interesse ou conhecimento no assunto, avaliar a qualidade do trabalho deste criador de moda, que produziu uma grife das mais famosas do mundo.  Da alta costura ao prêt-à-porter, o seu trabalho está na tela, o que justifica plenamente a existência do filme.




Além disso, a personalidade tímida, frágil e conturbada do criador, sua homossexualidade e o papel que seu parceiro, Pierre Bergé, teve em toda sua vida e carreira,  permanecendo até nos períodos em que a relação pessoal degringolou, está bem delineada na narrativa.

Também é curioso como as diversas fases da vida de Yves Saint Laurent são mostradas relacionando-se com fatos da época, como a guerra da Argélia.  Ele era francês porque nascido na Argélia enquanto colônia francesa.  Mas isso estava mudando de forma dramática.  Sua família continuava lá, enquanto ele buscava êxito em Paris. 




Viveu em Marrakech, sua inspiração para os vestidos reflete bem a arte marroquina, suas cores e mosaicos e até o hábito islâmico de cobrir os cabelos nas apresentações, em um de seus períodos criativos.

A aparência de seminarista que ele apresentava no começo do filme sofrerá mudanças radicais de imagem nos anos 1960 da era hippie.  Barba, cabelos longos, muita loucura e drogas refletem esse período.  Tudo se rearrumará depois, quase voltando à antiga forma, assim como o mundo, que encontraria um novo equilíbrio.  Como qualquer vida intensa reflete o mundo em que vive, Yves Saint Laurent é visto como fruto do seu tempo.  Mas com interesses específicos, com um talento particular e um jeito próprio de encarar a vida e os obstáculos que lhe aparecem.  O momento em que é chamado a servir o exército, em plena guerra, é especialmente revelador de uma grande crise e de como ele lidará com ela.  A dependência de Pierre Bergé no relacionamento e nos negócios, também.  Há espaço para a contestação, a rebeldia e o descontrole no seu modo de viver.




Moda remete a sofisticação e riqueza, hábitos e comportamentos elitizados, glamour.  Mas o filme não fica nisso, explora as misérias, contradições e conflitos desse universo fashion.  O que o torna interessante para o público em geral e não apenas para as mulheres.

É uma bem cuidada produção, com narrativa linear, que não exige muito do espectador, mas funciona como entretenimento e informação sobre o assunto tratado.  O filme integra o Festival Varilux do Cinema Francês, que está nos cinemas de várias cidades brasileiras.




Um comentário:

  1. FRANCISCO MONTEAGUDO12 de abril de 2014 às 18:48

    Eis aqui um exemplo do porque as críticas do blog "Cinema com Recheio" são superiores a muitas outras que lemos: só um crítico preocupado com a informação, além do comentário sobre o filme, escreve um prólogo como o que tivemos o prazer de ler.

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