Antonio Carlos Egypto
HOJE EU QUERO VOLTAR SOZINHO. Brasil, 2013.
Direção: Daniel Ribeiro. Com
Guilherme Lobo, Fábio Audi, Tess Amorim, Lúcia Romano, Eucin Souza, Selma
Egrei. 96 min.
É inegável que a adolescência é um período de grandes
e pequenas descobertas, tanto sobre o mundo quanto sobre nós mesmos. Frequentemente,
estão presentes os conflitos que acompanham o processo de amadurecimento e a
sofrida conquista da autonomia. Varia muito,
segundo as circunstâncias históricas, geográficas, culturais e de classe
social. Mas que é um período desafiador
da vida, lá isso é.
O longa brasileiro “Hoje Eu Quero Voltar Sozinho” se
debruça sobre as questões da adolescência, no universo da classe média, a
partir da amizade muito próxima de Leonardo (Guilherme Lobo) e Giovana (Tess
Amorim). Ele, por ser cego de nascença,
precisa dela para voltar para casa da escola.
Esse talvez tenha sido o ponto de partida para uma amizade que se
solidificou com o tempo.
A chegada de um novo garoto na classe onde ambos
estudam, no entanto, vai mexer em muitos sentidos com essa amizade. O aluno novo é Gabriel (Fábio Audi), que vai
compor um trio com Leonardo e Giovana, tornando-se grande amigo e objeto de desejo
de ambos, além de ser paquerado por uma outra menina da escola.
O fio condutor da narrativa é Leonardo e as suas
questões da adolescência, mescladas à sua deficiência visual. Essa limitação dificulta muito o seu processo
de rompimento com a dependência dos pais, principalmente da mãe, que é,
compreensivelmente, preocupada com ele e superprotetora. O pai tenta entender o anseio de liberdade e
autonomia do filho, mas também avalia os riscos. O filme mostra como essa dificuldade se
amplia, no caso de Leonardo, ao mesmo tempo em que reconhece que a necessidade
do personagem equivale à de qualquer outro jovem.
Se Giovana não tem problemas para lidar com a
cegueira do amigo, os demais adolescentes têm.
Gabriel, por exemplo, propõe programas como ir ao cinema ou ver o
eclipse da lua. O seu despreparo, porém,
abre novas portas para a vida de Leonardo. A imensa maioria dos colegas de
escola não só não consegue ter sensibilidade para se colocar no lugar do outro,
como procura brincar, zoar, com a deficiência de Leonardo, exercendo aquela
crueldade característica de muitos jovens nessa fase da vida.
Todas essas questões e outras tão típicas desse
período são contempladas com sutileza, delicadeza e humor, ao longo da
narrativa de “Hoje Eu Quero Voltar Sozinho”.
Como se não bastasse, o roteiro do próprio diretor, Daniel Ribeiro,
coloca Leonardo na condição de lidar com um desejo homossexual, o que introduz
uma nova e forte variável, que, no caso, só poderia complicar mais a história.
Como os três adolescentes – Leonardo, Giovana e
Gabriel – vão lidar com tudo isso e com os colegas da escola? Que papel exercerão os pais de Leonardo e os
professores que estarão envolvidos nisso?
Daniel Ribeiro consegue dar um fluxo tão positivo e
envolvente a seu filme, extraindo o melhor de seus jovens e dedicados atores,
que o resultado é emocionante. A
dimensão humana que brota daí é admirável e vai além da discussão do desejo
homossexual ou da deficiência visual.
Eles aparecem como elementos de uma dimensão maior, que são o
desenvolvimento humano, a capacidade de encarar e promover mudanças e o combate
aos preconceitos.
“Hoje Eu Quero Voltar Sozinho”, entusiasmante
trabalho desse jovem cineasta que é Daniel Ribeiro, já foi exibido, reconhecido
e premiado no Festival de Berlim. Sua
origem vem do curta “Eu Não Quero Voltar Sozinho”, em que o diretor trabalhou
com esses mesmos três personagens principais e seus respectivos atores, em
2010, filme que está disponível na Internet e já teve mais de 3 milhões de
visualizações.
Nenhum comentário:
Postar um comentário