quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

A GAIOLA DOURADA

                     
 Antonio Carlos Egypto




A GAIOLA DOURADA (La Cage Dorée).  França, Portugal, 2013.  Direção: Ruben Alves.  Com Rita Blanco, Joaquim de Almeida, Roland Giraud, Chantal Lauby, Barbara Cabrita, Lannick Gautry, Maria Vieira.  90 min.



“A Gaiola Dourada” é uma comédia, escrita e dirigida por Ruben Alves, jovem cineasta e ator francês, filho de pais portugueses há muito radicados em Paris.  O filme, segundo ele, é inspirado na própria experiência de sua família: imigrantes portugueses trabalhando há décadas na França, devidamente assimilados, e sua relação com as origens lusitanas.

Há os portugueses que se sentem tão franceses que mal identificam suas origens ou se utilizam de seu próprio idioma.  Outros, porém, continuam fortemente ligados à sua cultura e alimentam o desejo de um dia retornar à santa terrinha.  E há alguns que talvez já tenham desistido de pensar na possibilidade de voltar.


Os franceses, por seu turno, convivem com os portugueses que, via de regra, trabalham para eles, mas mal os conhecem ou aos signos culturais de Portugal.  Conhecem bem a paixão lusitana pelo bacalhau e alguns sabem dos tremoços e do fado.  O que não evita gafes como a de presentear tulipas em homenagem àquela revolução portuguesa: a Revolução dos Cravos, de 25 de abril de 1974.

Em “A Gaiola Dourada”, os personagens principais são o casal Maria Ribeiro (Rita Blanco) e José Ribeiro (Joaquim de Almeida), que vivem num pequeno apartamento em um luxuoso bairro parisiense, porque são zeladores do prédio, cuidam da portaria e serviços de reforma, entre outras coisas.  São muito queridos por sua dedicação, competência e disponibilidade para atender a todos, a qualquer dia ou hora.  Têm filhos já bastante integrados ao cotidiano francês, especialmente Paula (Barbara Cabrita).  Tudo vai seguindo seu rumo natural, até que uma carta traz a notícia de que o irmão de José faleceu, deixou-lhe uma grande fortuna e uma propriedade luxuosa em Portugal.  Mas será preciso morar lá.  Tudo pode mudar, agora.  O sonho vira realidade.  Mas será que eles querem?  E os filhos como se comportarão?


Mais difícil ainda será se demitir do prédio onde estão trabalhando há mais de 30 anos, cujos condôminos não desejarão a saída deles.  E poderão fazer todo tipo de pressão para que fiquem.  Mas valerá a pena desistir de tal oportunidade? Esse é o dilema que alimenta o filme e traz situações curiosas, engraçadas e reveladoras da identidade portuguesa, eclipsada pelo dia-a-dia francês.

O casal protagonista está muito bem representado por Rita Blanco e Joaquim de Almeida, muito bons.  Outras atrizes portuguesas que se destacam são a jovem Barbara Cabrita, a filha do casal, e a veterana Maria Vieira, no papel da empregada Rosa.  O casal de franceses que representa os patrões Francis e Solange Caillaux são os atores Roland Giraud e Chantal Lauby, respectivamente.  O filho deles, Charles Caillaux, é vivido por Lannick Gautry.  Todos têm bom desempenho, mas menor destaque do que os atores portugueses.


“A Gaiola Dourada” é uma comédia que funciona bem, não enseja gargalhadas, mas sorrisos.  É bem construída, alto astral, muito afetiva e uma bela homenagem ao povo português, em especial, os imigrantes.  É um bom entretenimento, que trata com leveza de um tema que envolve muitas questões complicadas.  A imigração é um sério problema político, econômico e social na Europa.  Mas aqui celebra-se o lado positivo dessa história, a imigração que deu certo, além de se divulgar a cultura lusitana.  Sem deixar de se referir à invisibilidade dos servidores, cujos talento e necessidade se reconhecem quando se corre o risco de perdê-los.

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