Antonio Carlos Egypto
LUNCHBOX
(Dabba). Índia, 2013. Direção: Ritesh Batra. Com Irrfan Khan, Nimrat Kaur, Nawazuddin
Siddiqui, Denzil Smith. 104 min.
A Índia é o país do mundo que produz o maior número
de filmes para cinema. É daí que vem a
denominação Bollywood, ou seja, a
Hollywood de Bombaim. Geralmente, os
filmes indianos se equiparam às novelas de TV, na abordagem melodramática, e
são cheios de música e dança. As
produções de maior orçamento capricham nas vestimentas, nos luxos, nos
palácios. É um cinema muito popular,
mais voltado para o próprio mercado interno.
Mas também há, ou houve, por lá um requintado cinema
de autor. Satyajit Ray (1921-1992) foi
um incontestável mestre do cinema. A sua
trilogia de Apu, por exemplo, é um brilhante trabalho neorrealista. E há muito mais do que isso em sua obra.
Há, ainda, filmes de menor pretensão artística e
menos vinculados ao estilo comercial dominante, que buscam um mercado
externo. É o caso desse “Lunchbox”,
coproduzido pela França, Alemanha e Estados Unidos. Singelo, mas reflexivo. Conta uma história interessante sobre um amor
inesperado, talvez impossível, que se alimenta literalmente de boa comida.
Uma mulher casada, com auxílio da tia vizinha,
procura incrementar a refeição que deve ser entregue ao marido no trabalho, por
meio de uma marmita diária. Essa marmita
é confiada a um serviço de entrega de comida muito utilizado e conceituado,
chamado Mumbai Dabbawallahs.
Surpreendentemente, o tal serviço falha e as marmitas vão parar nas mãos
de um homem desconhecido. Isso se revela
por bilhetes que ele envia nas marmitas, agradecendo e cumprimentando a
habilidade culinária de quem prepara as refeições. Como isso se dará, a partir daí, ou a que
isso levará é a temática do filme.
“Lunchbox” vai tratar das dificuldades no
relacionamento conjugal, de solidão, de perda, do advento da velhice e daquelas
coisas mais saborosas e inesperadas da vida.
Ótimos atores garantem o interesse pela trama e o envolvimento com a
humanidade dos personagens.
O filme venceu a Semana da Crítica Internacional do
Festival de Cannes, dedicada à descoberta de novos talentos. Participou dos festivais de Londres, Toronto,
da 37ª. Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e do 10º. Amazonas Film
Festival. Foi premiado pelo melhor
roteiro e atuação marcante, para o ator Irrfan Khan, no Asia Pacific Film
Festival 2013.
Está mostrando, assim, que tem muito a dizer para um
público bem mais amplo do que o indiano.
Embora tenhamos de considerar que a enormidade da população da Índia e o
interesse pelo cinema por lá já constituem um público suficientemente grande para
qualquer filme. O fato é que é preciso
buscar atender também os que esperam mais do cinema como lazer, oferecendo um
produto que se distinga da produção mediana.
Até porque o mediano costuma se aproximar muito do medíocre.
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