Antonio Carlos Egypto
O PRÍNCIPE DO DESERTO (Black Gold). França, 2011. Direção: Jean-Jacques Annaud. Com Tahar Rahim, Antonio Banderas, Mark Strong, Freida Pinto, 130 min.
“O Príncipe do Deserto” é uma aventura épica passada no mundo árabe, nos moldes de uma fantasia a la Mil e Uma Noites.
Nas primeiras décadas do século XX, tribos de diversas etnias se espalhavam pelo deserto e tentavam encontrar formas de convívio que não implicassem guerras constantes. Quando podiam. Para tanto, alguns acordos de ocasião, como o chefe de uma tribo educar filhos do chefe de outra tribo, serviam para selar ao menos uma paz provisória.
Uma faixa amarela no deserto é definida como neutra, não pertence a ninguém. Também, nada há para cobiçar lá. Até o dia em que exploradores ocidentais – técnicos norte-americanos – encontram petróleo justamente ali. Aí tudo muda.
O filme, dirigido por Jean-Jacques Annaud, de trabalhos talentosos, como “O Nome da Rosa”, de 1988, e “A Guerra do Fogo”, de 1981, não chega a empolgar. As filmagens na Tunísia e no Catar garantem esplêndidas e fotogênicas locações, que, associadas aos animais, aos figurinos e aos cuidados da direção de arte, asseguram um espetáculo visualmente atraente, o que produz um passatempo de boa qualidade. Mas não vai além disso.
A discussão que o filme levanta contrapõe uma visão tradicionalista do Corão, e do mundo, aos desafios da modernidade, que a riqueza do petróleo traz, inevitavelmente. Como é impossível deter a marcha do tempo, mas também é preciso preservar princípios e valores, é dessa polarização que o filme tratará, de um modo ou de outro. Respeitando ambos os lados, diga-se de passagem.
Tratará, também,de garantir uma história de amor nos moldes de Romeu e Julieta, mas menos trágica. Tratará de amor filial, do conflito entre pais e filhos, de perdas terríveis que a situação imporá aos envolvidos. Não faltarão, é claro, as batalhas com muitos figurantes, levantando o pó do deserto, montados sobre camelos, desembainhando suas espadas, e tendo ao lado, ou ao fundo, belas construções típicas. Nada muito diferente do que qualquer épico hollywoodiano de bom orçamento faria. Só que se trata de produção europeia e de um diretor conceituado. E que não chega a ser um “Lawrence da Arábia”.
Esse tipo de história e de espetáculo não favorece grandes interpretações. Acaba-se caindo no heróico ou no esquemático. Os atores não têm muito a elaborar para seus personagens. De pouco adianta ter no elenco um talento como o de Antonio Banderas. Quem se sai melhor, porque tem um personagem mais rico que passa por grandes mudanças de vida e de personalidade, é Tahar Rahim, vivendo Auda. Mas sua transformação de recluso bibliotecário, amante dos livros, em grande guerreiro, não é crível. Freida Pinto, no papel de Leyla, tem chance de viver mudanças e intensas emoções. Os demais são personagens mais esquemáticos, ou passam rápido pelo filme.
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