domingo, 15 de abril de 2012

O PRÍNCIPE DO DESERTO


Antonio Carlos Egypto




O PRÍNCIPE DO DESERTO (Black Gold).  França, 2011.  Direção: Jean-Jacques Annaud.  Com Tahar Rahim, Antonio Banderas, Mark Strong, Freida Pinto, 130 min.


“O Príncipe do Deserto” é uma aventura épica passada no mundo árabe, nos moldes de uma fantasia a la Mil e Uma Noites. 

Nas primeiras décadas do século XX, tribos de diversas etnias se espalhavam pelo deserto e tentavam encontrar formas de convívio que não implicassem guerras constantes.  Quando podiam.  Para tanto, alguns acordos de ocasião, como o chefe de uma tribo educar filhos do chefe de outra tribo, serviam para selar ao menos uma paz provisória.

Uma faixa amarela no deserto é definida como neutra, não pertence a ninguém.  Também, nada há para cobiçar lá.  Até o dia em que exploradores ocidentais – técnicos norte-americanos – encontram petróleo justamente ali.  Aí tudo muda.


O filme, dirigido por Jean-Jacques Annaud, de trabalhos talentosos, como “O Nome da Rosa”, de 1988, e “A Guerra do Fogo”, de 1981, não chega a empolgar.  As filmagens na Tunísia e no Catar garantem esplêndidas e fotogênicas locações, que, associadas aos animais, aos figurinos e aos cuidados da direção de arte, asseguram um espetáculo visualmente atraente, o que produz um passatempo de boa qualidade.  Mas não vai além disso.

A discussão que o filme levanta contrapõe uma visão tradicionalista do Corão, e do mundo, aos desafios da modernidade, que a riqueza do petróleo traz, inevitavelmente.  Como é impossível deter a marcha do tempo, mas também é preciso preservar princípios e valores, é dessa polarização que o filme tratará, de um modo ou de outro.  Respeitando ambos os lados, diga-se de passagem.

Tratará, também,de garantir uma história de amor nos moldes de Romeu e Julieta, mas menos trágica.  Tratará de amor filial, do conflito entre pais e filhos, de perdas terríveis que a situação imporá aos envolvidos.  Não faltarão, é claro, as batalhas com muitos figurantes, levantando o pó do deserto, montados sobre camelos, desembainhando suas espadas, e tendo ao lado, ou ao fundo, belas construções típicas.  Nada muito diferente do que qualquer épico hollywoodiano de bom orçamento faria.  Só que se trata de produção europeia e de um diretor conceituado.  E que não chega a ser um “Lawrence da Arábia”.


Esse tipo de história e de espetáculo não favorece grandes interpretações.  Acaba-se caindo no heróico ou no esquemático.  Os atores não têm muito a elaborar para seus personagens.  De pouco adianta ter no elenco um talento como o de Antonio Banderas.  Quem se sai melhor, porque tem um personagem mais rico que passa por grandes mudanças de vida e de personalidade, é Tahar Rahim, vivendo Auda.  Mas sua transformação de recluso bibliotecário, amante dos livros, em grande guerreiro, não é crível.  Freida Pinto, no papel de Leyla, tem chance de viver mudanças e intensas emoções.  Os demais são personagens mais esquemáticos, ou passam rápido pelo filme.

O que acaba valendo é mesmo o aspecto espetaculoso da produção, a aventura.  As ideias até existem, mas não têm chance de se aprofundar, ficam em segundo plano.

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