quarta-feira, 18 de abril de 2012

AMERICANO


Antonio Carlos Egypto


AMERICANO (Americano).  França, 2011.  Roteiro e Direção: Mathieu Demy.  Com Mathieu Demy, Salma Hayek, Chiara Mastroianni, Geraldine Chaplin, Carlos Bardem.  90 min.



Este é um filme que respira cinema por todos os poros e remete às gerações que se sucedem se dedicando à sétima arte.  Senão, vejamos.

Mathieu Demy, produtor, diretor, roteirista e ator principal da película, é filho de dois grandes cineastas da história do cinema francês e mundial: Jacques Demy e Agnès Varda.  No elenco, está Chiara Mastroianni, filha de atores emblemáticos e notáveis da história do cinema: Marcello Mastroianni e Catherine Deneuve.  Está também no filme Geraldine Chaplin, filha de ninguém menos do que Charles Chaplin, e tem ainda Carlos Bardem, irmão do já famoso ator espanhol Javier Bardem.

Há um filme dentro do filme.  Cenas de “Documenteur” de Agnès Varda, de 1981, são incorporadas e integradas à narrativa, o que possibilita a Mathieu Demy representar a si mesmo, quando criança, aos 8 anos de idade.  Martin é o nome do personagem desse filme antigo, assim como o de agora, vivido por Mathieu Demy.  Na condição de diretor, ele filmou com recursos semelhantes aos que sua mãe usou como cineasta, naquela oportunidade, o que fez com esta integração de duas situações – infância e vida adulta – ficasse perfeita.  Se você não souber, ou não se inteirar, ao ler os créditos finais, pensará que as cenas da infância foram filmadas agora, com um menino-ator.





Tudo isso já faz de “Americano” um produto atraente.  E não é só.  A trajetória do personagem Martin, que retorna à sua cidade de origem, nos Estados Unidos, na Califórnia, quando da morte de sua mãe, é uma viagem de elaboração da rejeição de um filho por sua mãe, o que marca para toda a vida.  Martin passou a viver com seu pai na França, em Paris, e essa viagem repentina o tira de seu eixo e o obriga a encarar um passado doloroso e redescobrir a história e as relações de sua mãe, ou o que é possível recuperar de tudo isso. 

O propósito seria o de resolver questões práticas, como um apartamento e pinturas que lhe cabem como herança, mas, na verdade, isso é o que menos importa.  Ou melhor, também é difícil lidar com isso após vários anos de ausência e um afastamento que tem na base a rejeição como sentimento.

Ele conhecerá, ou reconhecerá, amigas de sua mãe, como Linda (Geraldine Chaplin), Lola/Rosita (Salma Hayek), enquanto Claire (Chiara Mastroianni), com quem ele vive e de quem está em vias de se separar, aguarda sua volta a Paris.Uma viagem como essa é cheia de surpresas, revelações, transformações, que a narrativa explora bem.

Americano é o nome de um bar-clube de strippers e prostituição que acaba surgindo na vida de Martin, quando ele procura um personagem feminino, cruzando a fronteira e chegando a Tijuana, no México.  O tal Americano será um momento crucial dessa viagem, em que ele descobrirá coisas importantes, em si mesmo, na sua história, nas suas relações e em seus valores.  De onde nada se  espera ,muito pode vir, quando se está em busca de algo.

Mathieu é um ator já experimentado, mas tem em “Americano” seu primeiro longa-metragem como diretor, e entrou de corpo e alma no filme: escreveu, produziu, interpretou.  Um projeto que deve ter muito significado para sua vida, sempre irremediavelmente ligada ao cinema.  Seu filme não segue o estilo do pai e, embora utilize parte de uma fita de sua mãe, também se distingue bem da obra dela.  É um trabalho que incorpora influências, mas mostra personalidade própria.



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