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Prêmio Abraccine 2022, com votos da
crítica brasileira, escolhe “Marte Um e “Aftersun” como melhores longas; “Fantasma Neon”é o melhor curta |
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Num ano marcado pelo retorno
definitivo às sessões presenciais e mais uma quantidade enorme de lançamentos
em streaming, associados e associadas da Abraccine
(Associação Brasileira de Críticos de Cinema) votaram, definiram e
elegeram seus lançamentos favoritos para o Prêmio Abraccine 2022. O resultado foi anunciado numa
transmissão ao vivo, na noite de quarta-feira, 8 de fevereiro, no canal da
entidade no YouTube. Com mediação do presidente da Abraccine, Marcelo
Miranda, participaram Cecília Barroso e Francisco
Carbone, integrantes das comissões que trabalharam na metodologia e
organização da votação esse ano. Confira o vídeo na íntegra
clicando aqui. Os resultados chamam atenção para a
cartela variada de escolhas dos associados. Na categoria de longa estrangeiro,
por exemplo, apenas dois, entre dez títulos mais votados, são produções dos
EUA, líder inconteste em número de filmes em cartaz ao longo do ano. Os
outros oito filmes são cada um de um país diferente. Pelo terceiro ano consecutivo, o
longa-metragem estrangeiro mais votado por integrantes da Abraccine tem
direção de uma mulher: venceu o britânico “Aftersun”, da
estreante no formato Charlotte Wells. Nos brasileiros, o mineiro “Marte
Um”, de Gabriel Martins, confirmou o natural favoritismo depois de um ano
bastante influente na crítica e no público, incluindo a pré-indicação ao
Oscar e as várias semanas em cartaz nos cinemas. No curta-metragem, o carioca “Fantasma
Neon”, de Leonardo Martinelli, também repetiu a boa acolhida em festivais
ao longo de 2022 e foi o mais votado no formato, sempre muito disputado. Além dos três premiados, a Abraccine
divulga ainda seu TOP 10 de melhores filmes em cada uma das
três categorias, a partir da mesma votação e em ordem alfabética de título. LONGA-METRAGEM BRASILEIRO Vencedor: “Marte Um” (Minas Gerais),
de Gabriel Martins Top 10 em ordem alfabética “5 Casas”, de Bruno Gularte Barreto “A Felicidade das Coisas”, de Thais
Fujinaga “A Mãe”, de Cristiano Burlan “Carro Rei”, de Renata Pinheiro “Carvão”, de Carolina Markowicz “Eduardo e Mônica”, de René Sampaio “Marte Um”, de Gabriel Martins “Os Primeiros Soldados”, de Rodrigo
de Oliveira “Paloma”, de Marcelo Gomes “Seguindo Todos os Protocolos”, de
Fábio Leal LONGA-METRAGEM ESTRANGEIRO Vencedor: “Aftersun” (Reino
Unido/EUA), de Charlotte Wells Top 10 em ordem alfabética “A Pior Pessoa do Mundo”, de Joachim
Trier (Noruega) “Aftersun”, de Charlotte Wells (Reino
Unido) “Dias”, de Tsai Ming-Liang (Taiwan) “Drive my Car”, de Ryusuke Hamaguchi
(Japão) “Licorice Pizza”, de Paul Thomas
Anderson (EUA) “Memoria”, de Apichatpong
Weerasethakul (Colômbia/Tailândia) “Não! Não Olhe!”, de Jordan Peele
(EUA) “O Acontecimento”, de Audrey Diwan
(França) “RRR”, de SS Rajamouli (Índia) “Vitalina Varela”, de Pedro Costa
(Portugal) CURTA-METRAGEM BRASILEIRO Vencedor: “Fantasma Neon” (Rio de
Janeiro), de Leonardo Martinelli Top 10 em ordem alfabética “Ainda Restarão Robôs nas Ruas do
Interior Profundo”, de Guilherme Xavier Ribeiro “Big Bang”, de Carlos Segundo “Curupira e a Máquina do Destino”, de
Janaína Wagner “Escasso”, de Clara Anastácia e
Gabriela Gaia Meirelles “Fantasma Neon”, de Leonardo
Martinelli “Garotos Ingleses”, de Marcus Curvelo “Infantaria”, de Laís Santos Araujo “Mutirão: O Filme”, de Lincoln Péricles “Solmatalua”, de Rodrigo
Ribeiro-Andrade “Tekoha”, de Carlos Adriano Abraccine - Associação Brasileira de
Críticos de Cinema ...................................... Como membro da Abraccine participei
desta escolha e gostei do resultado alcançado, que reflete bem o que de
melhor se viu, em 2022, em matéria de
cinema. Minhas escolhas diferiram pouco dos TOP 10, embora eu tenha votado em
outros títulos para os vencedores. |
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AFTERSUN,
do Reino Unido, primeiro longa da cineasta escocesa Charlotte Wells, foi
destaque e venceu o prêmio do Júri de novos diretores, da 46.a Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.
Apresenta uma narrativa inteiramente centrada na relação de um pai de 30 anos
com a filha de 11, que acontece num pacote de férias na Turquia. Por meio de
pequenos momentos, rotinas de lazer, contatos que surgem, detalhes de todo
tipo, com inteligência e perspicácia, vamos percebendo o que está em jogo nessa
relação não habitual, já que eles não vivem juntos. Há muito afeto e frustração
no ar. E muita fluidez numa trama ao mesmo tempo simples e complexa.
Elenco: Paul Mescal, Frankie Corio, Celia Rowlson Hall. 98 min.
MARTE UM. Brasil,
2021. Direção e roteiro: Gabriel Martins. Elenco: Carlos
Francisco, Rejane Faria, Camila Damião, Cícero Lucas. 114 min.
Uma família negra periférica, de classe
média baixa, vivendo em Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte, é a
protagonista do filme “Marte Um”, de Gabriel Martins.
A família é formada por Wellington
(Carlos Francisco), o pai, porteiro de prédio que adora futebol, seu time o
Cruzeiro, e que há quatro anos se afastou do alcoolismo. Tércia, a
mãe (Rejane Faria), que, após um incidente, crê estar presa a uma maldição e
experimenta uma depressão por conta disso. Eunice (Camila Damião),
uma jovem que encontra o amor e o sexo na relação com outra mulher e deseja se
mudar, sair de casa, embora se dê bem com o pai, a mãe e o irmão
menor. Mas o centro das ações e da narrativa é o menino Deivinho
(Cícero Lucas), estimulado pelo pai para abraçar o futebol profissional, mas
que na verdade deseja ser astrofísico, para participar da missão Marte Um que,
em 2030, deve iniciar a colonização do planeta Marte.
Esses personagens, com seus conflitos e
problemas, formam uma família unida, com relações afetivas
sólidas. O que permite que as questões que eventualmente incomodem
não se tornem motivos de rejeição para ninguém, nem de desagregação
familiar. Faz parte disso a ideia de que o que move cada um é
diferente. O que entusiasma um não vai entusiasmar o
outro. Pelo menos, não da mesma forma. Que os sofrimentos
de um tenham que ser respeitados pelos outros, ainda que seja difícil
entender. Bem, e os sonhos estão acima de tudo, por mais estranhos
ou impossíveis que nos pareçam.
As ideias de aceitação e de
pertencimento é que funcionam como amálgama entre as pessoas dessa família e
aqueles que se aproximam dela. A força do afeto que os une é o que
conta e o que vale mais.
Toda a trama de “Marte Um” reflete esse
clima afetivo, positivo, otimista, apesar dos dramas que, inevitavelmente, se
colocam: o medo de se expor, de deixar claro suas opções e preferências, o
desencanto com a vida, uma injustiça, um desemprego, o dinheiro que falta no
fim do mês. Um golpe de sorte também pode nos livrar de uma tragédia
muito maior do que a que estávamos supostamente vivendo. Tudo isso
pode ser equacionado e resolvido, pelo menos em parte, em função desse afeto. É
uma crença no ser humano, no fim das contas, o que está na base desse otimismo,
que não é ingênuo.
Um elenco muito bom sustenta a história
com muita veracidade. Algumas sequências embelezam o filme, ainda
que existam também algumas cenas descartáveis, que não acrescentam à trama
central. O resultado é um filme que se comunica bem com o público,
como atesta a escolha do júri popular do Festival de Gramado 2022 recém
encerrado. Em Gramado também o filme foi agraciado com um prêmio
especial do júri, além do de roteiro, para Gabriel Martins, e da trilha
musical. Antes de Gramado, o filme já passou por outros festivais
pelo mundo, a partir de sua estreia mundial no Festival de Sundance.
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