sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

PRÊMIO ABRACCINE 2022

 


Prêmio Abraccine 2022, com votos da crítica brasileira, escolhe “Marte Um e “Aftersun” como melhores longas;

“Fantasma Neon”é o melhor curta

Num ano marcado pelo retorno definitivo às sessões presenciais e mais uma quantidade enorme de lançamentos em streaming, associados e associadas da Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) votaram, definiram e elegeram seus lançamentos favoritos para o Prêmio Abraccine 2022.

 

O resultado foi anunciado numa transmissão ao vivo, na noite de quarta-feira, 8 de fevereiro, no canal da entidade no YouTube. Com mediação do presidente da Abraccine, Marcelo Miranda, participaram Cecília Barroso e Francisco Carbone, integrantes das comissões que trabalharam na metodologia e organização da votação esse ano.

 

Confira o vídeo na íntegra clicando aqui.

Os resultados chamam atenção para a cartela variada de escolhas dos associados. Na categoria de longa estrangeiro, por exemplo, apenas dois, entre dez títulos mais votados, são produções dos EUA, líder inconteste em número de filmes em cartaz ao longo do ano. Os outros oito filmes são cada um de um país diferente.

 

Pelo terceiro ano consecutivo, o longa-metragem estrangeiro mais votado por integrantes da Abraccine tem direção de uma mulher: venceu o britânico “Aftersun”, da estreante no formato Charlotte Wells. Nos brasileiros, o mineiro “Marte Um”, de Gabriel Martins, confirmou o natural favoritismo depois de um ano bastante influente na crítica e no público, incluindo a pré-indicação ao Oscar e as várias semanas em cartaz nos cinemas.

 

No curta-metragem, o carioca “Fantasma Neon”, de Leonardo Martinelli, também repetiu a boa acolhida em festivais ao longo de 2022 e foi o mais votado no formato, sempre muito disputado.

Além dos três premiados, a Abraccine divulga ainda seu TOP 10 de melhores filmes em cada uma das três categorias, a partir da mesma votação e em ordem alfabética de título.

LONGA-METRAGEM BRASILEIRO

Vencedor: “Marte Um” (Minas Gerais), de Gabriel Martins

Top 10 em ordem alfabética

“5 Casas”, de Bruno Gularte Barreto

“A Felicidade das Coisas”, de Thais Fujinaga

“A Mãe”, de Cristiano Burlan

“Carro Rei”, de Renata Pinheiro

“Carvão”, de Carolina Markowicz

“Eduardo e Mônica”, de René Sampaio

“Marte Um”, de Gabriel Martins

“Os Primeiros Soldados”, de Rodrigo de Oliveira

“Paloma”, de Marcelo Gomes

“Seguindo Todos os Protocolos”, de Fábio Leal

 

LONGA-METRAGEM ESTRANGEIRO

Vencedor: “Aftersun” (Reino Unido/EUA), de Charlotte Wells

Top 10 em ordem alfabética

“A Pior Pessoa do Mundo”, de Joachim Trier (Noruega)

“Aftersun”, de Charlotte Wells (Reino Unido)

“Dias”, de Tsai Ming-Liang (Taiwan)

“Drive my Car”, de Ryusuke Hamaguchi (Japão)

“Licorice Pizza”, de Paul Thomas Anderson (EUA)

“Memoria”, de Apichatpong Weerasethakul (Colômbia/Tailândia)

“Não! Não Olhe!”, de Jordan Peele (EUA)

“O Acontecimento”, de Audrey Diwan (França)

“RRR”, de SS Rajamouli (Índia)

“Vitalina Varela”, de Pedro Costa (Portugal)

 

CURTA-METRAGEM BRASILEIRO

Vencedor: “Fantasma Neon” (Rio de Janeiro), de Leonardo Martinelli

Top 10 em ordem alfabética

“Ainda Restarão Robôs nas Ruas do Interior Profundo”, de Guilherme Xavier Ribeiro

“Big Bang”, de Carlos Segundo

“Curupira e a Máquina do Destino”, de Janaína Wagner

“Escasso”, de Clara Anastácia e Gabriela Gaia Meirelles

“Fantasma Neon”, de Leonardo Martinelli

“Garotos Ingleses”, de Marcus Curvelo

“Infantaria”, de Laís Santos Araujo

“Mutirão: O Filme”, de Lincoln Péricles

“Solmatalua”, de Rodrigo Ribeiro-Andrade

“Tekoha”, de Carlos Adriano

 

Abraccine - Associação Brasileira de Críticos de Cinema
abraccine.org

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Como membro da Abraccine participei desta escolha e gostei do resultado alcançado, que reflete bem o que de melhor se viu, em 2022,  em matéria de cinema. Minhas escolhas diferiram pouco dos TOP 10, embora eu tenha votado em outros títulos para os vencedores.

Confira a seguir meu comentário sobre o longa AFTERSUN e a crítica de MARTE UM publicados no CINEMA COM RECHEIO.

 

Antonio Carlos Egypto

AFTERSUN, do Reino Unido, primeiro longa da cineasta escocesa Charlotte Wells,  foi destaque e venceu o prêmio do Júri de novos diretores, da  46.a Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. Apresenta uma narrativa inteiramente centrada na relação de um pai de 30 anos com a filha de 11, que acontece num pacote de férias na Turquia. Por meio de pequenos momentos, rotinas de lazer, contatos que surgem, detalhes de todo tipo, com inteligência e perspicácia, vamos percebendo o que está em jogo nessa relação não habitual, já que eles não vivem juntos. Há muito afeto e frustração no ar. E muita fluidez numa trama ao mesmo tempo simples e complexa.

Elenco: Paul Mescal, Frankie Corio, Celia Rowlson Hall. 98 min.

  

 



 

MARTE UM.  Brasil, 2021.  Direção e roteiro: Gabriel Martins.  Elenco: Carlos Francisco, Rejane Faria, Camila Damião, Cícero Lucas.  114 min.

 

Uma família negra periférica, de classe média baixa, vivendo em Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte, é a protagonista do filme “Marte Um”, de Gabriel Martins.

 

A família é formada por Wellington (Carlos Francisco), o pai, porteiro de prédio que adora futebol, seu time o Cruzeiro, e que há quatro anos se afastou do alcoolismo.  Tércia, a mãe (Rejane Faria), que, após um incidente, crê estar presa a uma maldição e experimenta uma depressão por conta disso.  Eunice (Camila Damião), uma jovem que encontra o amor e o sexo na relação com outra mulher e deseja se mudar, sair de casa, embora se dê bem com o pai, a mãe e o irmão menor.  Mas o centro das ações e da narrativa é o menino Deivinho (Cícero Lucas), estimulado pelo pai para abraçar o futebol profissional, mas que na verdade deseja ser astrofísico, para participar da missão Marte Um que, em 2030, deve iniciar a colonização do planeta Marte.

 

Esses personagens, com seus conflitos e problemas, formam uma família unida, com relações afetivas sólidas.  O que permite que as questões que eventualmente incomodem não se tornem motivos de rejeição para ninguém, nem de desagregação familiar.  Faz parte disso a ideia de que o que move cada um é diferente.  O que entusiasma um não vai entusiasmar o outro.  Pelo menos, não da mesma forma.  Que os sofrimentos de um tenham que ser respeitados pelos outros, ainda que seja difícil entender.  Bem, e os sonhos estão acima de tudo, por mais estranhos ou impossíveis que nos  pareçam.

  

As ideias de aceitação e de pertencimento é que funcionam como amálgama entre as pessoas dessa família e aqueles que se aproximam dela.  A força do afeto que os une é o que conta e o que vale mais.

 

Toda a trama de “Marte Um” reflete esse clima afetivo, positivo, otimista, apesar dos dramas que, inevitavelmente, se colocam: o medo de se expor, de deixar claro suas opções e preferências, o desencanto com a vida, uma injustiça, um desemprego, o dinheiro que falta no fim do mês.  Um golpe de sorte também pode nos livrar de uma tragédia muito maior do que a que estávamos supostamente vivendo.  Tudo isso pode ser equacionado e resolvido, pelo menos em parte, em função desse afeto.  É uma crença no ser humano, no fim das contas, o que está na base desse otimismo, que não é ingênuo.

 

Um elenco muito bom sustenta a história com muita veracidade.  Algumas sequências embelezam o filme, ainda que existam também algumas cenas descartáveis, que não acrescentam à trama central.  O resultado é um filme que se comunica bem com o público, como atesta a escolha do júri popular do Festival de Gramado 2022 recém encerrado.  Em Gramado também o filme foi agraciado com um prêmio especial do júri, além do de roteiro, para Gabriel Martins, e da trilha musical.  Antes de Gramado, o filme já passou por outros festivais pelo mundo, a partir de sua estreia mundial no Festival de Sundance.

 

 

 

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