segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

FERNANDA TORRES

 Antonio Carlos Egypto

 

 


AINDA ESTOU AQUI é o filme mais importante dentre os que foram exibidos por aqui em 2024.  Ele traz à luz o período histórico tenebroso que o Brasil viveu durante 21 anos, de 1964 a 1985.  Perseguições, censura, cassações, prisões arbitrárias, tortura, mortes e ocultação de cadáveres fazem parte da memória dessa época.  Que não pode ser esquecida nem minimizada.  Marcelo Rubens Paiva, ao ver que sua mãe, Eunice Paiva, perdia a memória, resolveu resgatar a memória do país em que ela viveu.  Seu livro virou um filme magnífico de Walter Salles, que, com seu reconhecido talento, produziu uma obra limpa, honesta, verdadeira, sem qualquer truque ou excesso.  Um trabalho de quem, ainda que criança, como o escritor Marcelo, conviveu de perto com a realidade daquela família.  Uma família que, pelo que viveu, mostra bem os métodos da ditadura militar.

 

A figura emblemática para nos contar essa história foi Eunice Paiva, mulher de Rubens Paiva, que enfrentou a saga familiar com altivez, incrível determinação e decisões arriscadas e polêmicas, mas encontrou seu caminho, em meio a um intenso sofrimento, que ela preservava para cuidar dos seus cinco filhos.  Lutava e não vergava.  Ao contrário, se dedicou a causas humanitárias, coletivas, que ela percebia fundamentais.

 

O livro e o filme dependem dela, dessa figura que ganhou uma relevância imensa na tela, pelo incrível desempenho de Fernanda Torres.  A atriz encontrou um caminho interpretativo que deu conta do sofrimento interno e da expressão e ações dessa mulher.  Fez o mais difícil: nos revelou o que não estava à vista.  O que Eunice sentiu e viveu, envolvida pelo tsunami que se abateu sobre sua vida e a de sua família.  Realmente aqui, como em muitas outras situações cinematográficas, menos é mais.  Contida, ela extravasou com sutileza a vida e a importância dessa mulher, homenageando-a sem glorificá-la.  Alcançou uma maturidade interpretativa admirável.  A sua vitória como atriz de cinema em drama, no Globo de Ouro, é um reconhecimento internacional importante para o nosso cinema.  O filme já alcançou no Brasil mais de três milhões de espectadores, nos cinemas, que perceberam sua importância para o nosso momento.  O que tende a se multiplicar após o prêmio conquistado.  Parabéns, Fernanda Torres!

 

 



Nenhum comentário:

Postar um comentário