Antonio Carlos Egypto
AINDA ESTOU AQUI é o
filme mais importante dentre os que foram exibidos por aqui em 2024. Ele traz à luz o período histórico tenebroso
que o Brasil viveu durante 21 anos, de 1964 a 1985. Perseguições, censura, cassações, prisões
arbitrárias, tortura, mortes e ocultação de cadáveres fazem parte da memória
dessa época. Que não pode ser esquecida
nem minimizada. Marcelo Rubens Paiva, ao
ver que sua mãe, Eunice Paiva, perdia a memória, resolveu resgatar a memória do
país em que ela viveu. Seu livro virou
um filme magnífico de Walter Salles, que, com seu reconhecido talento, produziu
uma obra limpa, honesta, verdadeira, sem qualquer truque ou excesso. Um trabalho de quem, ainda que criança, como
o escritor Marcelo, conviveu de perto com a realidade daquela família. Uma família que, pelo que viveu, mostra bem
os métodos da ditadura militar.
A
figura emblemática para nos contar essa história foi Eunice Paiva, mulher de
Rubens Paiva, que enfrentou a saga familiar com altivez, incrível determinação
e decisões arriscadas e polêmicas, mas encontrou seu caminho, em meio a um
intenso sofrimento, que ela preservava para cuidar dos seus cinco filhos. Lutava e não vergava. Ao contrário, se dedicou a causas
humanitárias, coletivas, que ela percebia fundamentais.
O
livro e o filme dependem dela, dessa figura que ganhou uma relevância imensa na
tela, pelo incrível desempenho de Fernanda Torres. A atriz encontrou um caminho interpretativo que
deu conta do sofrimento interno e da expressão e ações dessa mulher. Fez o mais difícil: nos revelou o que não
estava à vista. O que Eunice sentiu e
viveu, envolvida pelo tsunami que se abateu sobre sua vida e a de sua
família. Realmente aqui, como em muitas
outras situações cinematográficas, menos é mais. Contida, ela extravasou com sutileza a vida e
a importância dessa mulher, homenageando-a sem glorificá-la. Alcançou uma maturidade interpretativa
admirável. A sua vitória como atriz de
cinema em drama, no Globo de Ouro, é um reconhecimento internacional importante
para o nosso cinema. O filme já alcançou
no Brasil mais de três milhões de espectadores, nos cinemas, que perceberam sua
importância para o nosso momento. O que
tende a se multiplicar após o prêmio conquistado. Parabéns, Fernanda Torres!
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