domingo, 18 de fevereiro de 2024

EU, CAPITÃO

 Antonio Carlos Egypto

 

 



EU, CAPITÃO (Io, Capitano).  Itália, 2023.  Direção: Matteo Garrone.  Elenco: Seydou Sarr, Moustapha Fall, Issaka Sawadogo, Hichen Yacoubi.  121 min.

 

Migrar é um direito humano, o de ir e vir em busca de melhores condições de vida.  Nosso mundo de fronteiras, muros e burocracias, torna a vida dos imigrantes um problema constante a desafiar governos e instituições mundiais.  Mesmo em situações de guerra, extrema pobreza, fome, perseguições políticas e religiosas, é tudo muito complicado para se encontrar a paz em algum canto.  A ilegalidade torna-se a regra da imigração em nossos tempos conturbados.

 

“Eu, Capitão” é um drama ficcional, obviamente inspirado nessa realidade flagrante da atualidade, forte e denso, que nos leva a viver intensamente a saga da imigração ilegal de dois adolescentes africanos, senegaleses, em busca do sonho de viver melhor na Europa.  Partindo de Dakar, passando pelo deserto do Saara e pela Líbia, com vistas à Sicília, na Itália.

 

O filme é uma aventura, uma narrativa muito bem construída sobre um tema duro, difícil.  Matteo Garrone diz que essa saga dos imigrantes, suas histórias, são provavelmente as únicas possíveis narrativas épicas dos nossos tempos.  Para isso, se valeu do testemunho dos que estão mergulhados nessa situação, viveram as agruras dessa imigração.

 

O ponto de vista do filme é o dos imigrantes, no caso, os dois adolescentes, Seydou (Seydou Sarr) e Moussa (Moustapha Fall) e tudo o que eles vão experimentando nessa travessia.  O dinheiro que eles conseguiram guardar, que vai sendo todo consumido de forma exploradora, sem direitos, sem respeito, com maus tratos.  Abandono no deserto, prisão, tortura, trabalho escravo, delírios e fantasias necessários para enfrentar o que se vive (e isso é bem explorado visualmente) e uma travessia de barco inusitada, que fica a cargo de um dos jovens como condutor.  É isso que dá o nome de “Eu Capitão” ao filme.

 


Entender o sentimento dos jovens imigrantes a cada experiência radical a que são submetidos, sem que possam reagir à altura, revela-nos a face desumana dos nossos dias.  Ao mesmo tempo em que mostra as enormes possibilidades de luta e resistência que os seres humanos alcançam nas situações mais desesperadoras.

 

Durante as duas horas de duração do filme, somos levados a uma jornada de empatia com os protagonistas e a população mais ampla que os circunda, num filme realista de aventura e suspense que, apesar de tudo, destila esperança e, sobretudo, respeita seus retratados.

 

Para quem, porventura, ainda não conheça a obra do diretor e roteirista Matteo Garrone recomendo que veja também “Dogman”, de 2018, e “Gomorra”, de 2008.  “Eu, Capitão” está na disputa pelo Oscar de filme internacional como representante da Itália.




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