sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

PARE COM SUAS MENTIRAS

Antonio Carlos Egypto

 

 


PARE COM SUAS MENTIRAS (Arrête avec tes Mensonges). França, 2023.  Direção: Olivier Peyon.  Elenco: Guillaume De Tonquédec, Victor Belmondo, Gulaine Londez, Jérémy Gillet, Julien De Saint-Jean.  105 min.

 

Um primeiro amor que ficou no passado distante, 35 anos atrás, retorna com força quando o escritor Stephane (Guillaume De Tonquédec) recebe e aceita um convite para retornar à sua cidade natal, a pequena Cognac, para uma homenagem.  Apesar de Cognac ter dado origem à bebida mundialmente famosa, Stephane não bebe, não gosta de bebidas alcoólicas e já não tem nenhum interesse na visita à destilaria local.  Aliás, não é só em relação à bebida, que marca a cidade, que o escritor se sente deslocado. Ele não esconde sua homossexualidade e isso, ainda hoje, incomoda por lá.

 

Por que, então, ele teria sido escolhido para participar de festividades da cidade e receber uma homenagem?  De quem partiu essa ideia?  Claro que ter se tornado um escritor de sucesso e ser de lá pode explicar isso, ainda assim, algo mais deve haver. E ele sabe disso, apenas deixou de lado ao longo de tantos anos distante.

 

Tudo começa a clarear quando, ao autografar um livro, ele percebe que um dos organizadores do evento tem o mesmo nome de seu antigo caso de amor adolescente.  Encontrar o filho de seu amado trará tudo de volta à sua mente, reavivando suas lembranças.

 

O filme “Pare Com Suas Mentiras” vai, então, alternando presente e passado, sem deixar de continuar sendo linear, tanto no que está ocorrendo agora como na sucessão de fatos daquele passado.  A forma clássica, acadêmica, segue preservada.

 


A abordagem do tema, no entanto, traz a novidade da transformação pelo passar do tempo.  Ninguém permanece o mesmo tanto tempo depois.  Nem mesmo a cidade que cultiva escrupulosamente suas tradições.  Por esse caminho, o filme emociona, até surpreende.  Verdade que o discurso que Stephane vai tentando construir, enquanto vive essas novas e perturbadoras emoções do presente, se torna bastante previsível com a evolução da história.  O filme tenta fazer suspense disso, mas não consegue.

 

O personagem adolescente do escritor, vivido pelo ator Jérémy Gillet, é muito diferente dele, enquanto tipo físico, o que provoca uma certa estranheza.  O jovem Stephane é também muito contido e isolado, embora já se destacasse pela boa escrita.  Seu parceiro amoroso, Thomas (Julien De Saint-Jean), que ficou restrito ao espaço de Cognac, cuidando dos negócios da família, era mais expressivo e ativo, mas não alçou voo.  A imagem que ficou de Thomas, a partir do relato de seu filho, foi a mais fechada possível.  O casamento não lhe trouxe felicidade e ele quase não se comunicava com o filho.  Enfim, uma história de amor e desejo intensos que flopou, como se diz atualmente.

 

A redescoberta do escritor, que é a essência da história, baseada na obra original de Philippe Besson, resultou num filme bem realizado por Olivier Peyon, que desperta interesse.




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