terça-feira, 17 de outubro de 2023

ASSASSINOS DA LUA DAS FLORES

Antonio Carlos Egypto

 

 



ASSASSINOS DA LUA DAS FLORES (Killers of the Flower Moon).  Estados Unidos, 2023.  Direção: Martin Scorsese.  Elenco: Leonardo DiCaprio, Robert De Niro, Lily Gladstone, Brendan Fraser, Jesse Plemons.  206 min.

 

Martin Scorsese tem novo filme na praça. E que filme!  Uma saga épica que pode ser considerada uma espécie de “E o Vento Levou” do século XXI.  Um filme grande na concepção, na temática, no elenco e na duração: 3 horas e meia de projeção.  Mas não se sente passar.  É uma história empolgante, cheia de camadas e situações diversas, personagens muito bem concebidos.  Torna-se um prazer acompanhar tudo o que acontece.  Surpreende, produz drama e suspense e se desdobra em muitas possibilidades.  Tudo muito bem engendrado na narrativa e, apesar da duração longa, sem excessos.  Não vale a pena contar muita coisa da trama, é melhor sorver a história devagar, como Scorsese nos permite, com ritmo, mas sem pirotecnias.

 

A base de “Assassinos da Lua das Flores” são fatos ocorridos por volta de 1920, em Oklahoma, nos Estados Unidos, com a nação indígena Osage, relatados em livro homônimo de David Grann, ponto de partida do filme.  Os nativos Osage compraram suas terras, seguindo uma visão norte-americana de valorização da terra. E, em função disso, se tornaram ricos, com a descoberta de petróleo abundante em seu espaço.  O ouro negro, assim chamado, trouxe consigo a intromissão dos brancos nesse território, manipulando, extorquindo, roubando o dinheiro dos indígenas de todas as formas possíveis e imagináveis.  É aí que entra William Hale (Robert de Niro), um fazendeiro lá estabelecido, que conquistou grande poder na região e junto à comunidade local.  Por consequência, vem à região em busca de êxito Ernest Burkhardt (Leonardo DiCaprio), seu ambicioso sobrinho.

 

Uma história de amor e interesse, um tanto improvável, ligará Ernest e Mollie (Lily Gladstone), uma bela indígena. Por trás disso, uma transmissão de herança é buscada.

 

A guerra pelo dinheiro a qualquer preço leva a um conjunto de assassinatos de indígenas, que comporão o corpo central da narrativa e deixarão a todos perplexos, indignados, preocupados com o ser humano, ao ponto em que ousamos chegar.


 



O crime, a maldade, o poder destruidor do dinheiro são motores das ações humanas, neste contexto e em muitos outros.  Entender o passo-a-passo desse processo e suas implicações é por onde o filme caminha, jogando luz nos fatos e ajudando a torná-los claros e compreensíveis.

 

Leonardo DiCaprio num grande papel tem um desempenho marcante, excepcional.  Digno de ser lembrado no Oscar.  Um papel complexo, em que amor, traição, maldade, ingenuidade, opressão e subserviência podem estar juntos na mesma figura, ao longo do tempo.  Robert De Niro, em outro excelente desempenho, exala poder, domínio, ambição, maldade, mas também dedicação, apoio, afeto e sagacidade.

 

A atriz Lily Gladstone é um destaque do filme, pela atuação sutil, segura, que nos detalha sentimentos e intenções em gestos e olhares absolutamente discretos, mas reveladores. Compõe uma mulher indígena notável, que tem orgulho de sua etnia e luta por ela, mas também está aberta ao novo e ao outro. Com tudo contando contra, ela consegue acreditar no amor como possibilidade real.  Mas tem tirocínio suficiente para enfrentar a dúvida de frente e também de buscar ajuda.

 

Enfim, onde as coisas não são esquemáticas, maniqueístas, nem também muito misteriosas, é o que chamamos de realidade o que salta aos olhos. O cinema de Scorsese nos remete a uma dimensão altamente reflexiva, enquanto nos envolve com uma trama bem contada, detalhe a detalhe, com drama, romance, suspense e aventura, o que faz do seu filme um ótimo entretenimento também.  Cinema de primeira qualidade.




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