Antonio Carlos Egypto
Em
função de sessões para a imprensa, já pude ver alguns filmes da 47ª. Mostra
Internacional de Cinema de São Paulo, e posso comentar. Lembrar que a primeira semana da Mostra
apresenta muitos filmes de novos diretores, aqueles que concorrem ao troféu
Bandeira Paulista e que passa, pela clivagem do público. Os mais votados serão submetidos ao júri.
É
curioso que os dois primeiros filmes de novos diretores a que assisti tratem de
um tema similar: o abandono dos filhos pelos pais e mães. Seria indicativo de uma tendência que
preocupa os europeus, já que os dois filmes são europeus?
VADIO, filme português, de
Simão Cayatte, nos põe em contato com dois personagens centrais. André (Ruben Simões), um adolescente de 13
anos, abandonado abruptamente pelo pai, sem prévio aviso, numa instituição
pública de menores da qual ele, naturalmente, foge. Ele convive com a vizinha Sandra (Joana dos
Santos), jovem mãe, educadora, que deixou para trás sua filha de 6 anos com a
avó e não vai vê-la. Ela desapareceu por
um tempo da escola em que trabalha, inclusive. Trata-se, portanto, do encontro
entre um filho abandonado pelo pai e uma mãe que abandonou sua filha. Uma realização modesta, mas correta. 91 min.
ESTÁ CHOVENDO EM CASA (Il pleut dans la maison), filme belga
dirigido por Paloma Sermon-Daï, mostra dois jovens, uma garota de 17 anos e seu
irmão de 15, que vivem numa casa abandonada pela mãe, que some e não cuida
deles, nem supre suas necessidades. A
goteira na casa é o mínimo. Falta tudo o
mais, além do afeto. Enquanto a menina se vira, trabalhando como faxineira, seu
irmão faz pequenos furtos para ganhar algum dinheiro. Quando a mãe reaparece, está bêbada, como de
costume, e nada tem a dizer aos filhos.
Um bom trabalho que, se não chega a entusiasmar, nos envolve numa
questão muito séria. 88 min.
O que
estaria acontecendo às famílias? Não são
mais os filhos que querem fugir de casa, mas os pais e as mães? Sintomático, não acham?
Dinheiro Fácil |
De
diretores mais experientes vi outros dois filmes da Perspectiva Internacional
da Mostra 47. DINHEIRO FÁCIL (Dumb Money),
filme estadunidense, de Craig Gillespie, australiano de origem. O filme nos põe em contato com a realidade da
manipulação do dinheiro nas Bolsas de Valores, dos mecanismos para fazer
fortuna, que, na incrível história real contada, jovens conseguiram enorme
sucesso e o tal dinheiro fácil, contrariando fatores de mercado e fazendo Wall Street contra-atacar. Não dá para
entender tudo que se tenta explicar na trama do filme, sem estar familiarizado
com o tal “mercado”. E o filme, embora
bem realizado, não tem muito pique, não consegue empolgar. 105 min.
Quem
também ficou longe de entusiasmar, na verdade me entediou, foi o filme japonês RODAS E EIXO (Shajiku), dirigido por Jumpei Matsumoto, baseado em livro de George
Bataille. Pretensioso, busca algum tipo
de reflexão sobre os caminhos do sexo e do prazer, passando por garotos de
programa para chegar a um ménage a trois,
supostamente libertador. Falta ritmo e
luz a esse filme (ou será que a cópia que foi exibida é que estava escura
demais?). Não recomendo, mas se quiserem
experimentar... 120 min.
O que
recomendo com entusiasmo é que incluam algum filme do mestre Michelangelo Antonioni
dentre os 23 que estão na retrospectiva dedicada à sua obra. Ver ou rever filmes de Antonioni é sempre
algo gratificante, esplendoroso. Não se
iludam com a tal fama da incomunicabilidade, tema de sua trilogia. Comunicação é o seu forte. Cinema que faz muita falta. Deixou saudade. Sua viúva e colaboradora, Enrica Fico
Antonioni, faz parte do júri desta Mostra 47.
@mostrasp
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