domingo, 30 de julho de 2023

OPPENHEIMER

Antonio Carlos Egypto

 

 



OPPENHEIMER (Oppenheimer).  Estados Unidos, 2023.  Direção: Christopher Nolan.  Elenco: Cillian Murphy, Florence Pugh, Robert Downey Jr., Emily Blunt, Matt Damon, Rami Malek, Tom Conti, Kenneth Branagh.  181 min.

 

Se os cinemas andavam com pouco público, mesmo os blockbusters recentemente lançados, isso mudou com a estratégia milionária, publicitária e de marketing, que trouxe às salas, simultaneamente, “Barbie” e “Oppenheimer”.  Lançados numa grande quantidade de cinemas, vêm lotando sistematicamente as sessões.  “Barbie” é o que se pode chamar de um produto publicitário, de incentivo ao consumo, não surpreendem seus números de bilheteria.  Mas “Oppenheimer” é um filme mais sério e até de compreensão difícil e, no entanto, já alcançou trezentos milhões de dólares nas bilheterias mundiais, na primeira semana de exibição.

 

“Oppenheimer” é o novo trabalho do cineasta inglês Christopher Nolan, que tem alcançado grande êxito em Hollywood.  Alguns de seus filmes são: “Amnésia” (2000), “A Origem” (2010), “Interestelar” (2014), “Dunkirk” (2017), além de Batmans.  O filme é uma adaptação da biografia escrita por Kai Bird e Martin Sherwin, de 2006, Oppenheimer – O triunfo e a tragédia do Prometeu americano, prêmio Pulitzer, lançado agora no Brasil pela editora Intrínseca, aproveitando a onda do lançamento cinematográfico sobre o importante personagem histórico, o físico conhecido como o pai da bomba atômica.

 

Fui ver “Oppenheimer”, já na segunda semana nos cinemas, sabendo que Nolan é um cineasta muito competente, consegue verbas para fazer grandes e sofisticadas produções, mas é um tanto hermético no modo de contar histórias, complicando, às vezes, o que não seria necessário, dificultando a captação por parte do espectador um pouco menos atento.

 

Claro que Robert Oppenheimer (1904-1967) tem uma história, em linhas gerais, conhecida.  Mas me preparei para uma jornada incômoda.  Surpreendentemente, não foi o que aconteceu.  Não digo que o filme não exija atenção concentrada do espectador, mas eu acompanhei com muito gosto as longas três horas de exibição.  Sem maiores dificuldades, apesar de não ter tantas informações sobre o tema.  Não consegui identificar todos os personagens envolvidos, mas isso não importa muito. O que o filme traz é bem claro, tanto no que se refere à conquista científica e o compromisso ético que ela tem de engendrar, quanto na enviesada leitura ideológica anticomunista, que transformou o herói em traidor, quando nem deveria ser essa a questão.  O que é lealdade à pátria e aos compromissos bélicos aí incluídos?  Cabe a reflexão honesta e a expressão autêntica do pensamento se tornarem públicas?  Como aliados na guerra se comportam, uns em relação aos outros, em confronto com suas diferenças, apesar de objetivos comuns?  Como escolhas políticas podem distorcer a compreensão de fatos que poderiam ser perfeitamente entendidos, se outros interesses, pessoais, inclusive, não entrassem na história?

 


São muitas e importantes as questões abordadas.  E absolutamente atuais, se pensarmos no substrato das armas atômicas que estão ameaçadoramente presentes na invasão da Ucrânia pela Rússia, a guerra do momento.  O filme não faz alusão à contemporaneidade da questão, mas é inevitável que nós o façamos.

 

Com todo esse conteúdo, muita fala e complexidade, “Oppenheimer” é um filme bonito de se ver.  O uso do som apresenta grande intensidade e precisão, o que valoriza também o momento do silêncio.  A música que acompanha as cenas e acentua o suspense, depois se torna minimalista, após o silêncio, e se liga a uma exploração de imagens que ilustram a física nuclear, com suas manifestações representadas por ondas, nuvens e explosões.

 

A sequência do teste Trinity no Novo México, em julho de 1945, pouco antes da explosão das bombas em Hiroshima e Nagasaki, no Japão, é muito bem realizada e empolgante, vale por todo o filme.  E diz muito a todos nós, como dizia ao físico Oppenheimer, tanto na reação eufórica quanto na depressiva constatação da capacidade de produzir a morte em grande escala.  Em escala planetária.

 


Acho bom que um filme como esse seja visto por muita gente.  Para quem ainda não viu e desconhece, ou conhece pouco, o caso Oppenheimer, não custa nada pesquisar sobre ele na Internet, antes de ir ao cinema.  Isso vai ajudar a acompanhar e entender melhor o filme, enquanto ele decorre, antes que todo o quebra-cabeças esteja montado.  E não fiquem faltando muitas peças ao final.

 

“Oppenheimer” tem um elenco estelar que valoriza o produto.  Mas o destaque é para o protagonista Cillian Murphy, que transmite muito, com pouco movimento e faz com sutileza a sua interpretação do grande físico teórico, que ele encarna muito bem.



6 comentários:

  1. Obrigada Egito pela belissima dissertação do filme. Adorei sua visao. Estou indo muito pouco ao cinema por enquanto. Franciscus nao esta muito bem e nao o deixo mais sozinho
    Esta c 91 anos e bem dificil de locomoção. Bjs de tdo coraçao

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    1. Obrigado pela mensagem. Abraços a vocês.

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    2. Caro Egyto. Belo texto. Ainda não vi o filme mas estou acompanhando bons textos como o teu. Abração do Zakir.

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  2. Egypto, estou ansiosa para ver esse filme. Gosto muito desse assunto e o ator Cillian Murphy trabalha muito bem em vários filmes que já vi. Obrigada por postar.

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  3. Excelente análise Sr. Egypto

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  4. Excelente texto, Egypto!

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