sexta-feira, 21 de julho de 2023

MÁQUINA DO DESEJO

Antonio Carlos Egypto

 

 



O Documentário MÁQUINA DO DESEJO, de Joaquim Castro e Lucas Weglinski, debruçou-se ao longo de sete anos sobre um acervo de seis décadas de registros que envolvem a história do Teatro Oficina.  Filmagens, arquivos de cinematecas, matérias das TVs nacionais e internacionais e gravações do próprio Oficina, proporcionam uma imersão na vida extraordinariamente criativa de José Celso Martinez Correia e o seu Teatro, ou Te-ato, Uzyna Uzona.  O Oficina não apenas revolucionou a linguagem teatral de forma radical, como interferiu na criação musical, na arquitetura e no urbanismo, em luta pela ecologia, contra a opressão, a censura e a ditadura, em defesa da liberdade de criação, dos direitos humanos e da democracia.  O papel do Teatro Oficina na cultura brasileira, que remonta a 65 anos de atividades, tinha mesmo de ser lembrado, exposto, difundido, valorizado.  Isso se tornou ainda mais urgente com a morte trágica de Zé Celso num incêndio em seu apartamento.

 

Quem acompanhou, assistiu, participou dos espetáculos sabe o quanto foi mexido por tudo o que rolava por lá.  Certamente vai usufruir das imagens e sons desse registro documental com alegria e saudade.  Já as gerações mais novas, que não participaram diretamente dos eventos culturais e políticos do Oficina, terão dificuldade em compor essa extraordinária trajetória.  Senti falta de algum didatismo e organização histórica para que um público mais amplo pudesse aquilatar o que foi tudo aquilo.

 

Está tudo lá, de um modo ou de outro.  De “Os Pequenos Burgueses” a “O Rei da Vela”, “Roda Viva” e as performances de um teatro que arrebentou a quarta parede, misturou palco e plateia, ganhou o espaço externo, transformou o entorno, gerou solidariedade às questões urbanas e sociais mais urgentes.  Também estão lá a prisão, a tortura e o exílio que Zé Celso transformou em vitória.  Até a independência de Angola e a Revolução dos Cravos de Portugal, filmadas pelo grupo do Oficina no exílio, estão lá também.  Enfim, é se deixar levar por uma onda transformadora que nada foi capaz de deter, em que pese a violência que foi empregada contra ela.  Sentir o que significou e ainda significa essa luta pela preservação de um espaço da arte e da cultura, que ganhou uma amplitude imensa.

 

Participam dessa história toda gente, como Caetano Veloso, Chico Buarque, Glauber Rocha, Rogério Sganzerla e movimentos como a Tropicália e a Antropofagia.  E mais: Lina Bo Bardi, Fernanda Montenegro, Flávio Império, Hélio Eichbauer, Elke Maravilha, Aziz Ab’Saber e também Sílvio Santos e Paulo Maluf como contrapontos.  Ou Lula e Eduardo Suplicy como apoiadores.  E, obviamente, Marcelo Drummond, Renato Borghi, Ítala Nandi, Célia Helena, Antonio Abujamra, Dina Sfat, Bete Coelho, Maria Alice Vergueiro. Bom, é uma lista sem fim.  O Oficina mexeu com muita gente, mexeu com tudo, com o povo todo.  109 min.

 

Foto que tirei após a apresentação de uma remontagem de ‘O Rei da Vela”, em São Paulo, em 2017, com Zé Celso e Renato Borghi ao lado de Fernanda Montenegro e Fernanda Torres.

 

 MOSTRA ARUANDA -- SP

Ontem foi a abertura da Mostra Aruanda, que apresenta pela primeira vez em São Paulo um panorama do novo cinema paraibano.  Na primeira sessão vimos imagens de um filme de 100 anos atrás (1923), do paraibano Walfredo Rodrigues, que registra o carnaval nas ruas de João Pessoa e Recife. 

 

Em seguida, a animação de Bruna Velden, “Era Uma Noite de São João”, abordou a primeira vez que o nordeste não pôde fazer a tradicional festa de rua, em função da pandemia e como driblou essa limitação. 

 

Ao final, nos deliciamos com “Jackson: Na Batida do Pandeiro”, documentário de Marcus Vilar e Cacá Teixeira, que nos levou ao universo íntimo e musical do paraibano Jackson do Pandeiro, grande artista, com sua originalidade de ritmo e dança.  A Mostra Aruanda – SP segue até o dia 26 de julho, no Cinesesc, em sessões às 20:30 horas.




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