terça-feira, 23 de maio de 2023

MEU VIZINHO ADOLF

                        Antonio Carlos Egypto

 




MEU VIZINHO ADOLF (My Neighbor Adolf).  Israel, Polônia, 2022.  Direção: Leon Prudovsky.  Elenco: David Hayman, Udo Kier, Olivia Silhavy, Danharry Colorado, Jaime Correia.  96 min.

 

Fake News sempre existiram.  Afinal, as pessoas querem acreditar naquilo que corresponde às suas opiniões e desejos, em que pese a evidência contrária dos fatos.  Adolf Hitler (1889-1945) continuou no imaginário de muitos como se tivesse sobrevivido à Segunda Guerra Mundial e não organizado um ritual de morte de sua família, incluído o próprio suicídio, quando a derrota já estava consumada, em Berlim.

 

Em 1960, Adolf Eichmann (1906-1962), um dos principais organizadores do Holocausto, seria capturado na Argentina pelo Serviço Secreto de Israel. Isso teve grande repercussão e consequências.  E gerou a busca por outros possíveis figurões nazistas na América do Sul.

 

A combinação dessas duas situações serviu de mote à comédia “Meu Vizinho Adolf”, dirigida por Leon Prudovsky, em que, em 1960, um vizinho recém-chegado a uma pequena localidade argentina produz sérias suspeitas em Polsky (David Hayman).  Seria seu novo vizinho o próprio Hitler?  Aí começa uma investigação com lances de “Janela Indiscreta”, de Hitchcock, e evidências que se acumulam, apesar da esperada descrença das autoridades locais.  Tal investigação acaba levando ao convívio do velho rabugento Polsky com seu vizinho, o velho rabugento Herzog (Udo Kier), o suposto Hitler.


 



O filme, cujas locações se deram na Colômbia, em Medellín e Bogotá, explora essas situações com uma comicidade, sim, mas que não chega a ser muito engraçada.  Tempera a comicidade com o drama pessoal dos dois personagens centrais e o contexto que os envolve.  Trabalhando com o tema do Holocausto, nos remete à questão judaica e humana que o caracteriza, com sensibilidade.  Lida, também, com a ambiguidade dos sentimentos e das relações afetivas em um ambiente previamente conflagrado, o que leva inevitavelmente ao sofrimento no plano pessoal.

 

A proposta é boa, mas se perde ao longo da narrativa, especialmente quando tem de encaminhar a solução para a situação criada.  Ela não convence, nem é suficientemente explicada para ficar de pé.

 

De qualquer modo, temos dois bons atores, já veteranos, que seguram o filme e nos tocam com seus desempenhos.  A fotografia cria o clima mais adequado aos aspectos lúgubre e dramático da trama, do que aos quiproquós da “investigação”.  Pelo menos na cópia a que assisti, o filme é demasiadamente escuro, dificultando até a compreensão visual de algumas cenas noturnas.  Em que pese o tema bastante sério, embora já muito explorado, o que fica é um entretenimento agradável, nada mais do que isso.




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