Antonio Carlos Egypto
O
ÚLTIMO ÔNIBUS (The Last Bus).
Reino Unido, 2021. Direção:
Gilles MacKinnon. Elenco: Timothy Spall,
Phyllis Logan, Grace Calder, Brian Pettifer.
86 min.
Com o
cinema, a gente viaja para todo canto, desde que se interesse pelo que se
produz em escala global. Afinal, faz-se
bom cinema em todo o planeta.
A
viagem pode ser a razão de ser do próprio filme. O cinema tem um gênero para isso: o road
movie. As paisagens, situações,
relacionamentos, sensações e sentidos mudam enquanto a geografia se
revela. É um gênero, geralmente muito
interessante e agradável de se ver. Um
bom filme também precisa muito de um bom personagem, ou vários. Um bom personagem é o começo indispensável de
um bom filme.
Quando
se alia uma viagem, uma verdadeira odisseia, a um bom personagem, vivido por um
grande ator, o resultado entusiasma. É o
que acontece com “O Último Ônibus”, o filme britânico dirigido pelo escocês
Gilles MacKinnon.
Tomothy
Spall, excelente ator inglês, de 66 anos, vive Tom, um homem de 90 anos, que
encara uma enorme viagem, toda de ônibus, partindo de uma vila do nordeste da
Escócia, onde mora, viúvo, em direção ao extremo sul da Inglaterra. Com isso, refaz uma viagem realizada há 50
anos, marcada pela paixão pela mulher com quem viveu. E meticulosamente procura refazer o percurso,
em sentido contrário, pousando e passando pelos mesmos lugares da rota
original. O que não se revelará fácil.
A
Grã-Bretanha mudou muito nesses 50 anos.
Em especial, pela diversidade cultural e humana que agregou ao longo
desse tempo. Os comportamentos, hábitos
e linguagem são exemplos disso. A
capacidade de acolher, a educação, tudo soará para ele um pouco estranho e desafiador. Mas muita coisa nova, e boa, ele encontrará
pelo caminho.
De
toda a forma, uma viagem como essa – aos 90 anos, de ônibus – é uma prova de
resistência bastante dura, mesmo para um cidadão que goza de boa saúde. Qualquer incidente pode ser sentido no corpo,
com muito mais intensidade do que ele já experimentou ao longo de toda a vida.
Ele nunca teve 90 anos antes. Assim, sem
alguma solidariedade, ele não conseguiria sobreviver nesse desafio que ele
mesmo se impôs.
A
odisseia de Tom acaba tomando proporções que ele não imaginava. Mas sua resiliência é espantosa. E seu
objetivo, muito forte. O filme acompanha
Tom em toda a sua jornada, realçando detalhes, sentimentos e a determinação
férrea do personagem. É bonito acompanhar
todo esse processo, uma verdadeira ode à vida.
Que mostra também que um objetivo, uma razão de ser para viver, é
fundamental para manter o corpo ativo e respondendo às necessidades da
existência, ainda que bastante desgastado.
Outro
aspecto importante: nos road movies a viagem costuma ser uma forma de
aprendizado, de mudança de perspectiva e da maneira de encarar a vida. Será que Tom nessa idade ainda tem o que
aprender? E se disporá à mudança, no
ocaso de sua caminhada humana?
“O
Último Ônibus” segue uma narrativa linear e cobrindo a evolução geográfica do
trajeto. Não tem grandes inovações
formais a apresentar, mas é um filme cativante, que engrandece ainda mais esse
magnífico ator que é Timothy Spall, pelo desempenho notável que nos apresenta.
O
filme também tende a ficar na nossa mente e nos provocar em diversos
aspectos. Não é algo de que se esqueça
quando termina a projeção. Deixa uma
marca indelével nos espectadores que tenham sensibilidade para as questões
humanas, em especial, a do envelhecimento.;
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