quinta-feira, 25 de maio de 2023

O ÚLTIMO ÔNIBUS

Antonio Carlos Egypto

 

 



O ÚLTIMO ÔNIBUS (The Last Bus).  Reino Unido, 2021.  Direção: Gilles MacKinnon.  Elenco: Timothy Spall, Phyllis Logan, Grace Calder, Brian Pettifer.  86 min.

 

Com o cinema, a gente viaja para todo canto, desde que se interesse pelo que se produz em escala global.  Afinal, faz-se bom cinema em todo o planeta. 

 

 

A viagem pode ser a razão de ser do próprio filme.  O cinema tem um gênero para isso: o road movie.  As paisagens, situações, relacionamentos, sensações e sentidos mudam enquanto a geografia se revela.  É um gênero, geralmente muito interessante e agradável de se ver.  Um bom filme também precisa muito de um bom personagem, ou vários.  Um bom personagem é o começo indispensável de um bom filme. 

 

Quando se alia uma viagem, uma verdadeira odisseia, a um bom personagem, vivido por um grande ator, o resultado entusiasma.  É o que acontece com “O Último Ônibus”, o filme britânico dirigido pelo escocês Gilles MacKinnon.

 

Tomothy Spall, excelente ator inglês, de 66 anos, vive Tom, um homem de 90 anos, que encara uma enorme viagem, toda de ônibus, partindo de uma vila do nordeste da Escócia, onde mora, viúvo, em direção ao extremo sul da Inglaterra.  Com isso, refaz uma viagem realizada há 50 anos, marcada pela paixão pela mulher com quem viveu.  E meticulosamente procura refazer o percurso, em sentido contrário, pousando e passando pelos mesmos lugares da rota original.  O que não se revelará fácil.

 

A Grã-Bretanha mudou muito nesses 50 anos.  Em especial, pela diversidade cultural e humana que agregou ao longo desse tempo.  Os comportamentos, hábitos e linguagem são exemplos disso.  A capacidade de acolher, a educação, tudo soará para ele um pouco estranho e desafiador.  Mas muita coisa nova, e boa, ele encontrará pelo caminho.

 




De toda a forma, uma viagem como essa – aos 90 anos, de ônibus – é uma prova de resistência bastante dura, mesmo para um cidadão que goza de boa saúde.  Qualquer incidente pode ser sentido no corpo, com muito mais intensidade do que ele já experimentou ao longo de toda a vida. Ele nunca teve 90 anos antes.  Assim, sem alguma solidariedade, ele não conseguiria sobreviver nesse desafio que ele mesmo se impôs.

 

A odisseia de Tom acaba tomando proporções que ele não imaginava.  Mas sua resiliência é espantosa. E seu objetivo, muito forte.  O filme acompanha Tom em toda a sua jornada, realçando detalhes, sentimentos e a determinação férrea do personagem.  É bonito acompanhar todo esse processo, uma verdadeira ode à vida.  Que mostra também que um objetivo, uma razão de ser para viver, é fundamental para manter o corpo ativo e respondendo às necessidades da existência, ainda que bastante desgastado.

 

Outro aspecto importante: nos road movies a viagem costuma ser uma forma de aprendizado, de mudança de perspectiva e da maneira de encarar a vida.  Será que Tom nessa idade ainda tem o que aprender?  E se disporá à mudança, no ocaso de sua caminhada humana?

 

“O Último Ônibus” segue uma narrativa linear e cobrindo a evolução geográfica do trajeto.  Não tem grandes inovações formais a apresentar, mas é um filme cativante, que engrandece ainda mais esse magnífico ator que é Timothy Spall, pelo desempenho notável que nos apresenta.

 

O filme também tende a ficar na nossa mente e nos provocar em diversos aspectos.  Não é algo de que se esqueça quando termina a projeção.  Deixa uma marca indelével nos espectadores que tenham sensibilidade para as questões humanas, em especial, a do envelhecimento.;



 

Nenhum comentário:

Postar um comentário