domingo, 26 de março de 2023

NOITES ALIENÍGENAS

 









             Antonio Carlos Egypto

 

 

NOITES ALIENÍGENAS. Brasil, 2022.  Direção: Sérgio Carvalho.  Elenco: Gabriel Knoxx, Adanilo Reis, Gleici Damasceno, Chico Diaz, Joana Gatis, Kika Sena.  91 min.

 

O filme brasileiro “Noites Alienígenas” chega aos cinemas com atrativos inegáveis e já bem vitorioso.  É o primeiro longa-metragem produzido no Acre, que chega ao circuito cinematográfico. E vem carregado de prêmios.  Obteve no último Festival de Gramado os prêmios de melhor filme, melhor ator para Gabriel Knoxx, melhor atriz para Joana Gatis, melhor ator coadjuvante para Chico Diaz, menção honrosa para o ator Adanilo Reis e prêmio do Júri da Crítica.

 

A história, situada em Rio Branco, a capital do Acre, é uma adaptação de um livro escrito pelo diretor do filme, Sérgio Carvalho.  Segundo ele próprio, a narrativa privilegiava a questão da dependência de drogas e suas terríveis consequências na vida, sobretudo, dos jovens.  Quando foi adaptá-lo ao cinema, muitos anos depois, a situação havia alcançado um patamar muito mais preocupante.  O avanço do crime organizado e do tráfico de drogas na região amazônica estava produzindo uma devastadora realidade: o grande aumento de mortes de crianças e jovens na cidade de Rio Branco.  O ambiente urbano se assemelhando à situação das periferias das grandes cidades do sul e sudeste.  O filme, com roteiro de Camilo Cavalcante, Rodolfo Milani e Sérgio Carvalho, ganhou uma dimensão social mais grave.

 

Os personagens, marcados por esse contexto de violência, circulam num ambiente que se deteriora e põe em questão não só a floresta como as culturas regionais originárias.  Mas a ancestralidade resiste à contemporaneidade do domínio dessas facções criminosas, que triplicou o assassinato de crianças e jovens no estado do Acre.

 

Os elementos da floresta permeiam toda a narrativa, com símbolos como a grande cobra, que abre o filme.  E elementos fantásticos entram na história, como desejo, expectativa, mistério.  A nave espacial, que é desenhada com requintes artísticos, na casa do veterano traficante é marcante e atraente, como costumam ser os apelos dos extraterrestres.  Enquanto a vida se deteriora, existe uma floresta que nos circunda e um cosmos a ser compreendido e explorado.  Assim, entramos em contato com a realidade do Acre e com suas mazelas, num contexto artístico, poético, o que é bastante interessante.

 

O diretor Sérgio Carvalho, carioca de nascimento e tendo trabalhado também em São Paulo, está radicado no Acre há muitos anos e resolveu trabalhar por lá, colocar o Acre em evidência, no contexto cultural brasileiro.  E o fez competentemente.

 

O elenco premiado que ele formou inclui também figuras fora do Estado, com destaque para o papel do mexicano/brasileiro Chico Diaz, que constrói um traficante humanamente caracterizado, como um comerciante ilegal, para além dos estereótipos de mocinho ou vilão.  Os demais personagens também respiram vida real, são gente que vive e pulsa, fazendo suas escolhas em meio a uma realidade complexa.  Como a mãe que perde o filho, os meninos que buscam a família mafiosa do tráfico, querendo trabalho e dinheiro, enquanto amadurecem para uma vida breve.  É um trabalho que merece ser conhecido e discutido pela realidade que nos apresenta, pela criatividade e pela qualidade artística que tem.


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 Complementando a informação contida no post de 1º. de março de 2023 sobre BOB CUSPE, a exposição continua no Anexo do Cinesesc, e, atendendo ao nosso pedido, o filme volta às telas do Cinesesc, de 30 de março a 02 de abril.  O longa BOB CUSPE – NÓS NÃO GOSTAMOS DE GENTE virá acompanhado do curta DOSSIÊ RÊ BORDOSA, ambos dirigidos no sistema stop motion, por Cesar Cabral, em sessões às 16 e às 18 horas.  No dia 30 haverá uma sessão gratuita às 20:30 h, com a presença do diretor do filme, e da exposição, para um bate-papo após a exibição dos filmes. 

 

 

 

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