terça-feira, 6 de dezembro de 2022

SOL

     Antonio Carlos Egypto

 

 


 

SOL.   Brasil, 2021.  Direção e roteiro: Lô Politi.  Elenco: Rômulo Braga, Everaldo Pontes, Malu Landim, Luciana Souza. 100 min.

 

O drama “Sol”, da diretora Lô Politi (de “Jonas”, 2016, e “Alvorada”, 2021), coloca em evidência o mundo emocional, a desconexão de sentimentos, a volta do reprimido, daquilo que não foi ou não pode ser enfrentado, do peso que tem o retorno ao passado e, ao mesmo tempo, a inevitabilidade desse retorno, sem o que o sofrimento se torna crônico e permanente.

 

A história nos mostra o relacionamento de um pai recém-separado, Theo (Rômulo Braga), que, há um ano sem encontrar sua filha Duda (Malu Landim), tira férias só para poder conviver com ela em passeios e hotéis, viajando de carro.  Enquanto tenta essa reconexão com a menina, encontrando dificuldades, é instado, praticamente obrigado, a encarar seu pai à morte, de quem está muito distante no tempo e no espaço geográfico.

 



Pouco adianta rejeitar essa obrigação filial que, aparentemente, nada significa para ele. Theo abandonou o relacionamento com o pai, Theodoro (Everaldo Pontes), que o teria abandonado no passado. É imperioso, porém, esse retorno ao que ficou para trás que se, por um lado, atrapalha seus planos com a menina, trará um novo elemento decisivo para essa questão: a conexão que se estabelece entre o avô desconhecido e a neta.

 


Tudo é muito travado e difícil na relação pai e filho.  Theodoro se expressa pela mudez, pela rigidez, pela negação da própria vida.  Theo também é calado, distante, desinteressado em resolver suas questões com o pai.  A culpa marca fortemente a vida de ambos.  Somente a espontaneidade da criança e seu desconhecimento da tragédia pode trazer um respiro a tudo isso.  Não deslinda nem resolve a situação, o filme não adota uma postura ingênua quanto a isso, mas abre uma porta, cria uma ponte, ainda que em meio aos escombros de uma casa em processo de demolição.

 

Embarcamos, então, num road-movie, que, estrada afora, pelo interior da Bahia, vai sendo marcado a cada parada pelo enfrentamento emocional e pelo impasse.  As águas baianas ganham um forte significado, já apontado desde a primeira cena do filme. 

 

Do elenco, basicamente centrado nos três personagens citados, esperam-se interpretações para dentro, a intensidade de sentimentos, como vulcões em erupção, tem pouca expressão externa.  É tudo contido, quando não extravasa ou explode.  Rômulo Braga faz um Theo preciso em intensidade e repressão emocional.  Everaldo Pontes vive seu papel com uma entrega e uma determinação admiráveis pelo apagamento da figura humana.  A jovem Malu Landim cumpre bem o seu papel como um amálgama de elementos conflitivos e misteriosos, que ela tenta entender.

 

O desenrolar da narrativa, com seu clima tenso e desafiador, produz suspense, reflexão, questionamentos de vida, perguntas.  Muitas perguntas.



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