domingo, 11 de dezembro de 2022

ELA DISSE

Antonio Carlos Egypto

 

 



ELA DISSE (She Said).  Estados Unidos, 2022.  Direção: Maria Schrader.  Elenco: Carey Mulligan, Zoe Kazan, Patrícia Clarkson, Samantha Morton, Andre Braugher.  129 min.

 

O drama “Ela Disse”, dirigido por Maria Schrader, com roteiro de Rebecca Lenkiewicz, foi desenvolvido a partir do livro “Ela Disse: Os Bastidores da Reportagem que Impulsionou o # Me Too”, de Megan Twohey e Jody Kantor, em 2017.  Nesta publicação, as duas jornalistas do New York Times relatam o que foi e como se fez a matéria investigativa, realizada por elas para o jornal, com o devido apoio da direção do periódico.  Sem o que, seria impossível seguir adiante.

 

Transformado em filme, esse material adquiriu um caráter documental e histórico: procura-se fazer, passo a passo, o registro jornalístico daquele trabalho que rompeu o tabu a respeito do abuso sexual de jovens atrizes em Hollywood.  Mais precisamente, daquele praticado sistematicamente pelo poderoso produtor Harvey Weinstein, que atualmente cumpre sentença preso, em função desses crimes.

 

Quem acompanhou de perto o noticiário do assunto por aqui conhece alguns detalhes e nomes das atrizes vítimas de situações de assédio, abuso, estupro.  E viu as consequências positivas extraídas dessa corajosa e penosa investigação, que mudou o modo de encarar a questão, enfrentando-a, finalmente.  Para isso, foi necessário um incessante trabalho para conseguir, aos poucos, que testemunhas que já haviam aparecido fossem confirmadas, explicitadas, ampliadas.  Que novos casos se revelassem, e não somente de forma anônima.  Isso efetivamente foi acontecendo e acabou criando um caldo de cultura forte e consistente, que permanece assim.  Sujeito, claro, a eventuais inverdades ou excessos, mas não há como evitar isso.

 

O fato é que o movimento # Me Too, ou seja, a denúncia que cada mulher, devidamente identificada, fez de ter sido abusada ou assediada no trabalho por quem dispunha de poder sobre ela, sem o seu consentimento, tornou-se uma forma eficiente de luta das mulheres.  E que alcançou dimensões muito mais amplas do que se poderia supor, indo muito além do que se mostra no filme.  “Ela Disse” registra o começo de toda essa história.

 




Quando se quer contar uma saga como essa, é natural que se opte pela sequência histórica dos fatos e por adotar um caráter pedagógico, em que se possa entender todo o processo e o seu custo humano.  No caso aqui, destacando uma abordagem feminina das situações, não só as do desejo e da sexualidade feminina (e da masculina abusadora), mas questões como a gravidez e a maternidade. Por exemplo, quem cuida das crianças enquanto a repórter se desloca pelo país em busca da notícia?

 

Eu não diria que o filme seja empolgante, surpreendente, até porque os fatos, no geral, são conhecidos.  Mas é importante para resgatar uma verdadeira batalha pelo direito das mulheres, pelo respeito ao trabalho profissional e aos sonhos legítimos dessas atrizes que acreditavam estar tendo uma oportunidade em função de seus méritos ou qualidades, não por seu corpo e sua juventude.  O que vale para atrizes, em Hollywood ou não, vale para todas as situações em que haja abuso, em todas as profissões ou trabalhos.

 

Por sinal, embora o filme se debruce sobre o caso Weinstein, ele começa tratando de denúncias semelhantes dirigidas ao candidato Donald Trump, que poderiam ter dificultado ou impedido sua eleição, mas foram ignoradas pela população que o elegeu.  Essa referência é suficiente para mostrar que a questão é imensa, diz respeito ao machismo estrutural, à misoginia, ao preconceito em relação às mulheres, à necessidade de ainda batalhar muito para alcançar a desejada equidade entre os gêneros.

 

“Ela Disse” é uma boa produção, bem dirigida, com bom elenco, com destaque para Carey Mulligan e Zoe Kazan, que representam as jornalistas, que trata de questões importantes para as mulheres e para todos, evidentemente.  Merece atenção.




Um comentário:

  1. Comentário de Conti: o filme é muito interessante e amplamente criticado por Egyto, não creio que haja mais nada a acrescentar, apreciei o que foi escrito.j

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